Padre Marcelino Paulo Ferreira
Arquidiocese de Braga

A importância da escuta é um dos tópicos em destaque na Mensagem para o 50.º Dia Mundial das Comunicações Socais.

O Jubileu Extraordinário proposto pelo Papa proporcionou uma reflexão oportuna sobre o encontro fecundo entre a comunicação e a misericórdia. Francisco serve-se da experiência familiar para mostrar a pertinência em enraizar a comunicação na misericórdia. O ambiente familiar, casa sempre aberta, é o (primeiro) lugar onde se exercita o acolhimento, a partilha, a misericórdia, o diálogo, a escuta.

Acolher é escutar. Escutar é acolher. Quem acolhe, escuta. Quem escuta, acolhe. Entre uma e outra, entre o acolhimento e a escuta, experiencia-se o diálogo, a partilha, a misericórdia, isto é, a verdadeira comunicação.

O Papa sugere uma distinção entre escutar e ouvir. À partida, tomar-se-iam como sinónimos. Todavia, «escutar é muito mais do que ouvir».

Ouvir situa-se no «âmbito da informação». Ouve-se muitas coisas. Aliás, o tempo que nos é dado viver tem sido caracterizado como excessivo em termos de informação. Contudo, este excesso, diz o filósofo Byung-Chul Han, não é garantia de um maior «esclarecimento».

Nesta sociedade de informação e de comunicação, há um défice de escuta: ouvimos muito, mas será que realmente escutamos? A este propósito penso na epígrafe do «Ensaio sobre a Cegueira» de Saramago: «Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara». Neste caso, proponho: «Se podes ouvir, escuta».

Escutar enquadra-se no «âmbito da comunicação», envolve a totalidade da vida. José Tolentino Mendonça afirma que a escuta é a atitude mais adequada para «acolher a complexidade do que uma vida é». O ensaísta serve-se da regra de São Bento («abre o ouvido do teu coração») para dizer que «a escuta não se faz apenas com o ouvido exterior, mas com o sentido do coração. A escuta não é apenas a recolha do discurso sonoro. Antes de tudo, é atitude, é inclinar-se para o outro, é disponibilidade para acolher o dito e o não dito, o entusiasmo da história ou o seu avesso, a sua dor».

Escutar é essencial em qualquer processo de comunicação. Na linha do pensamento do teólogo italiano Armando Matteo, somos interpelados a escutar, a «captar o grito», a perceber a radical surdez que infeta a nossa audição superficial da vida. «Escutar nunca é fácil», confirma o Papa.

«Escutar significa prestar atenção, ter desejo de compreender, dar valor, respeitar, guardar a palavra alheia». Escutar não é voyeurismo. É deixar que o outro seja ele mesmo. A escuta conduz ao acolhimento, à partilha, à misericórdia, ao diálogo, a «ser capaz de caminhar lado a lado».

padre Marcelino2016Bombardeados por mensagens de correio eletrónico, por twitt’s e mensagens curtas, por post’s e opiniões, por «gostos» e «partilhas», temos de desenvolver a arte da escuta antes de agir, antes de falar. Escutar vale mais do que mil palavras! «A escuta enche-nos de sumo como um poço no meio dos pátios», enfatiza o poeta Daniel Faria.

«Saber escutar é uma graça imensa, é um dom que é preciso implorar e depois exercitar-se a praticá-lo».

Padre Marcelino Paulo Ferreira
Projeto online Laboratório da Fé
Arquidiocese de Braga

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