O trabalho além de ser fonte de sustento (necessidades materiais básicas) é também fonte de realização pessoal e social. Porém, todos os dias, os jovens são confrontados com situações de desemprego, contratos laborais precários, instabilidade laboral, trabalho a recibos verdes, baixos salários, pressões exacerbadas por parte das entidades patronais, perda de direitos e más condições de trabalho que põem em causa a sua segurança e o seu projeto de vida. Estas situações ferem a dignidade dos jovens e não lhes permitem planear e encarar o seu futuro com serenidade. Existe um sentimento de frustração, os jovens não se sentem realizados no que fazem e isso reflete-se tanto no trabalho como na família, conduzindo-os para o isolamento, para o desânimo, a impotência e a frustração, ou mesmo para a depressão, e para o abandono de atividades que garantem o convívio, a partilha, a participação cívica e ativa na sociedade. Neste sentido, podemos dizer que, quando o trabalho é visto apenas como um meio para atingir os fins das empresas e das organizações, em que só importa a produtividade, o lucro e o enriquecimento pessoal, mesmo que a custo da exploração dos trabalhadores, é um trabalho que, desvirtuado da sua essência, pode ser gerador de exclusão social e não da dignificação da pessoa.

cartaz CN JOCO trabalho digno ou decente, como defende a OIT (Organização Internacional do Trabalho) é o que mantém a sua essência – a centralidade na pessoa. O trabalho digno é o que tem como missão dignificar e realizar o ser humano, tornando-o útil e protagonista da sociedade, através da formação, do respeito pelos seus direitos, da exigência dos respetivos deveres e da promoção de relacionamentos interpessoais saudáveis e harmoniosos. É aquele que proporciona ao trabalhador um crescimento e um desenvolvimento por meio das responsabilidades que assume, sejam elas maiores ou mais pequenas e é promotor da liberdade de opinião, de poder de decisão e da oportunidade de definir e fazer escolhas em função do seu próprio projeto de vida. Nesta linha, é fundamental o respeito pelo horário de trabalho que não torne o homem escravo, mas que lhe dê tempo para a família, amigos, cultura, associativismo e para todas as necessidades que caracterizam o homem social. Na verdade, é determinante que cada vez mais se valorize o tempo para os outros, para estar em grupo, para socializar, pois muitas vezes é nestes espaços que se encontra a motivação e a confiança para o envolvimento e para o compromisso com o próximo, permitindo o desenvolvimento pessoal que se assume, inclusivamente, um importante fator para o bom desempenho das funções profissionais.

Esta visão do trabalho implica compreender a necessidade de olharmos o outro como um “irmão”, de nos amarmos e nos respeitarmos uns aos outros de forma verdadeira e desinteressada. Só deste modo poderemos ser realmente promotores e defensores da dignidade humana em todas as suas vertentes, seja do desempregado, do discriminado ou do rejeitado. Além disso, implica também uma atitude que comtempla os jovens trabalhadores, as novas gerações, como seres humanos com dignidade e que têm direito a uma vida melhor, que não podem ser peças descartáveis ao sabor do lucro. Na verdade, a Europa não pode correr o risco de perder todo o potencial dos jovens trabalhadores. É urgente inverter esta realidade que “desperdiça” a juventude.

Os jovens precisam de oportunidades de autonomia, emancipação e capacitação, para que o desenvolvimento e o crescimento das sociedades sejam garantidos.

Acreditando que a situação que estamos a viver é consequência de estruturas injustas e de um sistema que “considera o ser humano em si mesmo como um bem de consumo, que se pode usar e depois lançar fora”, como nos diz o Papa Francisco no número 53 da sua exortação Evangelii Gaudium, e que as políticas que estão a ser postas em prática nos nossos países se centram nas consequências e não nas causas do problema, nós, jovens, devemos assumirmo-nos como agentes de mudança, capazes de espalhar uma mensagem de Esperança e de Transformação, tal como fez Jesus Cristo.

Neste sentido, o Movimento definiu na sua última Assembleia Nacional, em 2013, levar a cabo uma Campanha Nacional contra o Desemprego, que terminará em agosto de 2015, intitulada “Dá emprego aos teus sonhos, dá trabalho à tua vida”. Esta campanha tem como objetivos conhecer a realidade local e nacional do desemprego com olhos cristãos, levar esperança aos jovens desalentados e sem perspetivas para que permaneçam firmes no seu protagonismo e contribuir para uma sociedade mais justa, contribuindo para a diminuição do desemprego massivo e promoção de combate ao mesmo através da interpelação a outras entidades.

Também em reflexão, à luz do Evangelho, tida no encontro internacional que reuniu os Secretariados Nacionais da JOC Portugal, JOC Espanha e JOC Catalunha e da JOC Itália em Lisboa, entre os passados dias 30 maio a 3 de junho, conseguimos definir respostas conjuntas para esta realidade que nos assola e preocupa:

  • “Não se pode servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6, 24), contudo vemos que, atualmente, as estruturas estão ao serviço do dinheiro e não das pessoas: “hoje temos que dizer não a uma economia da exclusão e da iniquidade. Essa economia mata.” (Evangelli Gaudim, 53).
  • Como movimentos sentimo-nos chamados a acompanhar e acolher a vida destes jovens que sofrem o desemprego e a precariedade laboral, construindo juntos um projeto de vida digno.
  • Comprometemo-nos a dar a conhecer estas vidas junto das instituições sociais e eclesiais, para que sejam tidas em conta e se trabalhe em conjunto para mudar esta situação.
  • Como JOC vemos a necessidade de prestar especial atenção aos jovens mais frágeis, que carecem de suporte familiar e social.
  • Através da Ação Transformadora nos nossos ambientes, dar protagonismo a esta juventude e entre todos propor alternativas e procurar soluções juntos.

Sabemos que esta transformação social requer uma mudança de paradigma e estrutural na nossa sociedade, que não coloque a tónica no lucro, na especulação, nos interesses individuais, mas sim na justa distribuição de bens e recursos existentes, conforme as necessidades de cada um e de acordo com a regra do Bem Comum e da Justiça Social. Para tal, sabemos que através da nossa militância e em colaboração com outras organizações e movimentos, podemos construir uma sociedade mais justa e inclusiva da qual todos e todas sejamos protagonistas. Acreditamos que a riqueza de ter um grupo onde partilhar a vida e as alegrias que vamos tendo nos locais de trabalho onde estamos inseridos, mas também as angustias do desemprego, dos trabalhos precários, dos baixos salários, das condições de trabalho indignas, deve ser comum. Admitimos que a todos deve ser dada a oportunidade de, juntos, operar mudanças e lutar pela defesa da nossa dignidade enquanto Filhos e Filhas de Deus. Na verdade, o nosso testemunho enquanto Movimento ganha força na vivência de grupo e da partilha, que se transparece no serviço e no amor a cada jovem que se (re)encontra com Jesus Cristo e que passa pelo reconhecimento sentido da alegre partilha das pequenas conquistas que vamos tendo; da capacidade de valorizar o que de bom vai acontecendo connosco e com os que estão à nossa volta, dando graças ao Senhor; da importância do testemunho pessoal nos nossos locais de trabalho, assumindo-nos como agentes transformadores que procuram relações mais cordiais entre todos para que sejam locais mais saudáveis e menos injustos através de ações mais silenciosas ou mais ruidosas, mais visíveis ou invisíveis; da força de nos contagiarmos uns aos outros para a esperança no Homem e a fé em Deus, de modo a que o evangelizado se torne, cada vez mais, no evangelizador e espalhe a Mensagem do Evangelho no mundo do trabalho.

Neste caminho seguimos fiéis às intuições que Joseph Cardijn, nosso fundador, teve: “um/a jovem trabalhador/a vale mais que todo o ouro do mundo, porque é filho/a de Deus”, e convictos de que nas mãos da juventude, em nossas mãos, estão as ferramentas para transformar a sociedade.

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