Uma questão recorrente nos últimos tempos, esta. A questão que foi mote para um espaço de partilha no último Encontro de Agentes Sociopastorais das Migrações, sob o tema “Migrações e Família”, no passado dia 17 janeiro em Palmela.

Na verdade, “emigração” é uma palavra que ecoa nas cabeças e nas vidas de muitos jovens e das suas famílias nos últimos anos, cujo significado tem encontrado cada vez mais sinónimos, infelizes, alguns deles. Além disso, mostra-se um conceito que surge quase sempre acompanhado por duas questões: “Por opção? Ou por falta de opção?”. Saber que muitos jovens encontram noutro país a oportunidade para desenvolver competências, ter outras experiências e alimentar o seu projeto de vida, é gratificante. Contudo será sobre aqueles que respondem sim à segunda questão que iremos partilhar o que a nossa realidade nos diz.

Emigração por falta de opção?

Prepotência estatística será certamente uma das formas de definir “emigração”, fundamentada pelos números revelados no último trimestre de 2014 que indicavam que cerca de 200.000 portugueses entre os 20 e os 40 anos emigraram desde 2010. É certo que não é um fenómeno novo ou desconhecido em Portugal por outras gerações. Interpelador é saber que renasceu e está a levar uma geração de jovens bem preparados e competentes a diferentes níveis, independentemente da sua formação académica, para fora do seu país, contra a sua vontade. Para milhares de jovens, “emigração” é sinónimo de última opção ou única alternativa possível depois de explorados muitos caminhos para encontrar trabalho em Portugal e assim viverem de forma digna. Assim, resolvem “dar saída” às suas vidas, tantas vezes hipotecadas por falta de oportunidades, acompanhando este processo com um sentimento de revolta contra aqueles que deviam promover e defender que os portugueses vivam em Portugal com direito a sonhar e a realizar sonhos, e com a tristeza de ter de mudar de rumo, contra as suas vontades.

Em 2013, a Juventude Operária Católica – JOC, reunida em Assembleia Nacional, reconheceu que a “emigração” se estava a impor na nossa realidade como consequência de um outro atentado, o desemprego. Face a isto, decidimos lançar a Campanha Nacional contra o desemprego “Dá Emprego aos Teus Sonhos, Dá trabalho à Tua Vida, que já se encontra na etapa do Julgar, ou seja, do aprofundamento à luz do Evangelho. A propósito desta Revisão de Vida, um dos grupos de militantes, da diocese do Porto, desenvolveu um inquérito à população local, em março de 2014, que revelou que 83,6% dos inquiridos considerava que Portugal oferecia falta de oportunidades de emprego em todos os contextos. Cerca de 15,7% dos inquiridos pensava emigrar e 36,5% não sabia qual a sua resposta face a esta questão. Feitas as contas, apenas menos de metade da população daquela localidade pensa que o seu futuro passa por ficar.

Quais as causas e as consequências?

O mesmo inquérito já citado divulgou que a crise económica sentida, a aposta das empresas em mão de obra barata e a má gestão dos recursos económicos, materiais e humanos eram as três causas mais identificadas. As consequências que encontramos no presente e no futuro podem rever-se no sentimento de revolta e frustração dos milhares de jovens emigrantes sem opção e das suas famílias. Serão estes que terão de saber lidar com a distância, a saudade, o desenraizamento e a obrigatoriedade de construção de um projeto de vida que, muitas vezes, implica deixar irmãos mais novos, os quais não verão a crescer, com proximidade; implica deixar os namorados e adiar os planos de casamento; implica deixar os pais debilitados a quem já não poderão prestar cuidados; implica deixar os maridos, as esposas e os filhos; implica deixar os compromissos sociais e pastorais assumidos com dedicação.

Mas existe ainda um outro tipo de consequências que, talvez, só se sintam a longo prazo como o sentimento de desapego e negação das suas origens por parte dos emigrantes que não ultrapassem este episódio marcante das suas vidas com otimismo e esperança. Assim como, a perceção das gerações mais jovens de que, naturalmente, o futuro passa por emigrar, numa crença de desvalorização óbvia do seu país e das oportunidades que este lhes oferece.

Neste mar cheio de navegantes que partem, existe um enorme número de testemunhos e histórias de vida e, na certa, quase todos seremos capazes de acrescentar mais um. Desde jovens enfermeiros, fisioterapeutas ou outros técnicos de saúde, engenheiros, arquitetos, artistas nas diversas áreas, operários do setor têxtil ou trabalhadores da construção civil, muitos são aqueles que emigraram porque procuraram emprego durante meses a fio e nada encontraram de digno; porque sendo desempregados ou trabalhadores precários decidiram que mereciam uma vida estável e digna; porque deixaram o emprego que tinham para ir ao encontro do marido ou da esposa para finalmente viver o projeto do casamento, juntos; porque enquanto casal não conseguem perspetivar o futuro, mesmo que tenham vindo para Portugal à procura de trabalho e aqui tivessem vontade de permanecer.

Que futuro esperar e desejar?

Depois da decisão tomada, da mudança para outro país, da experiência bem-sucedida de ser emigrante, de encontrada a estabilidade procurada, quando e como voltar para Portugal? Esta é uma questão que assola muitos jovens emigrantes que mantêm a vontade de regressar. Esperar por um país que construa oportunidades para que voltem e aqui deem continuidade aos objetivos que têm, com esperança e perseverança, pode ser uma resposta. Uma outra pode ser a de manter o desafio de nos mantermos unidos e em comunhão, ainda que à distância, alimentando a mensagem de Jesus Cristo. Na verdade, é na partilha com os que estão longe e com os que estão perto que se fundamenta, certamente, a Esperança e a Confiança de que somos capazes, ainda assim, de construir uma vida plena de alegria e união, para que ninguém se sinta esquecido, sozinho ou desprezado. Nas nossas mãos está a construção de uma sociedade diferente! Tal como o Papa Francisco defendeu na sua mensagem aos Movimentos Populares reunidos em Roma, em outubro de 2014, “Terra, Teto e Trabalho são direitos sagrados. Reivindicar isso não é nada do outro mundo, é a Doutrina Social da Igreja”.

Juventude Operária Católica, 22 de janeiro de 2015

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