P. Luís Marinho
Assistente Nacional do CNE

Tem sido grande o impacto da Encíclica do Papa Francisco – Laudato Si’ – em diversos âmbitos da comunidade humana, a nível mundial.

Além de muitas abordagens de natureza sócio-política, importa igualmente uma atenção cuidada às suas implicações na vida dos cristãos, particularmente nos contextos juvenis, porque “os jovens exigem de nós uma mudança; interrogam-se como se pode pretender construir um futuro melhor, sem pensar na crise do meio ambiente e nos sofrimentos dos excluídos” (nº 13).

Os números 216 a 237 desenvolvem as grandes linhas daquilo a que o Papa chama espiritualidade ecológica, reconhecendo que “não é possível empenhar-se em coisas grandes apenas com doutrinas, sem uma mística que nos anima, sem uma moção interior que impele, motiva, encoraja e dá sentido à ação pessoal e comunitária” (nº 216).

E esta espiritualidade ecológica parte da constatação já feita por Bento XVI de que “os desertos exteriores multiplicam-se no mundo, porque os desertos interiores se tornaram tão amplos”. É necessário, portanto, “deixar emergir, nas relações com o mundo que nos rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus. Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspeto secundário da experiência cristã, mas parte essencial duma existência virtuosa” (nº 217).

Quais são, em concreto, as grandes linhas desta espiritualidade ecológica?

  1. Agir em comunidade, pois não bastam as iniciativas individuais, mas requer-se um dinamismo de mudança duradoura o que significa uma conversão comunitária.
  2. Atitude de gratidão e gratuidade, pois o mundo, “ nossa casa comum” é um dom recebido do amor do Pai. Por consequência, provoca disposições gratuitas de renúncia e gestos generosos, mesmo que ninguém os veja ou agradeça.
  3. Crescimento na sobriedade e capacidade de se alegrar com pouco, como um regresso à simplicidade que permite saborear as pequenas coisas. Aprender a conjugar bem humildade sadia e sobriedade feliz.
  4. Cultivar a paz interior, contemplando a harmonia serena da criação e do Criador, “que vive entre nós e naquilo que nos rodeia, e cuja presença não precisa de ser criada, mas descoberta, desvendada” (nº 225). Expressão concreta desta atitude é a oração antes e depois das refeições. A bênção da mesa, insiste o Papa, “recorda-nos que a nossa vida depende de Deus, fortalece o nosso sentido de gratidão pelos dons da criação, dá graças por aqueles que com o seu trabalho fornecem estes bens, e reforça a solidariedade com os mais necessitados” (nº 227).
  5. Implicar-se em pequenos gestos diários, sem descurar o pensar e organizar as grandes estratégias públicas e políticas que detenham a degradação ambiental e incentivem uma cultura do cuidado que permeie toda a sociedade. Isto implica não só o envolvimento na política, como em todas as ações em favor do bem comum, seja no bairro onde se habita ou no jardim de uma cidade.
  6. Os sinais visíveis dos sacramentos (água, óleo, fogo, cores, pão, vinho, alianças) são lugar concreto de encontro com Deus, como sublinha o Papa: “No apogeu do mistério da Encarnação, o Senhor quer chegar ao nosso íntimo através dum pedaço de matéria” (nº 236), e isto é particularmente significativo na Eucaristia, “quando, o próprio Deus, feito homem, chega ao ponto de fazer-se comer pela sua criatura” (nº 236).
  7. O valor do repouso e da festa, associado à participação na Eucaristia dominical, como “dia de cura das relações do ser humano com Deus, consigo mesmo, com os outros e com o mundo”(nº 237).

Eis, pois, algumas traves mestras de uma espiritualidade ecológica, tão necessária para que o compromisso de cuidar da natureza se torne oportunidade de crescimento integral.

P. Luís Marinho
Assistente Nacional do CNE
(Texto adaptado da publicação da “Flor de Lis”, Janeiro de 2016)

P. Luís Marinho

(Fotografia de destaque de Agência Ecclesia)

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