Encontro Formativo 4 - Felizes os que choram

1. Introdução/objetivos

 No sermão da Montanha (Mateus 5,1-12) é-nos apresentada uma fórmula para ser feliz, pois nas palavras de Dom António Couto[1], o texto das «Bem-Aventuranças» também se pode denominar das «Felicitações» e poder-se-á substituir a palavra «bem-aventurados» por «felizes», e este termo aparece nove vezes no texto. Mas ainda mais surpreendente é a revelação de que “na mentalidade e na língua hebraica, «felizes» ou «bem-aventurados» diz-se ’ashrê, derivação do verbo ’ashar, que significa «pôr-se a caminho». Extraordinária maneira de designar os «bem-aventurados» como pioneiros, aqueles que abrem caminhos novos e bons e de vida nova e boa para o mundo. E é verdade, por paradoxal que pareça. Foram e continuam a ser os Santos e os Pobres os que verdadeiramente abrem caminhos novos neste mundo enlatado, saciado, enjoado, dormente e anestesiado em que vivemos.”

É forte este parágrafo de Dom António, mas a verdade é que a proposta de Jesus é completamente ao contrário do que estamos habituados a associar à felicidade, e fica claro que o seguimento de Jesus exige uma mudança radical na nossa maneira de pensar e viver. O jesuíta François Varillon afirma que: “Nós sonhamos com uma felicidade de saldo, feita de alegrias fáceis. É este sonho que Jesus vem condenar, e o que Ele propõe (é esta a palavra essencial) é que o nosso apetite de felicidade seja ele próprio transformado”.

E este trecho da bíblia é a isso que nos convida – a uma mudança radical!

E neste contexto, mais especificamente sobre a parte da felicidade dos que “choram porque serão consolados”, julgo que se pode olhar para esta frase de duas formas. A primeira, mais imediata, tem a ver com as crises pessoais, e tantas razões há para isso. Tanta dor e sofrimento há no nosso mundo e nas nossas vidas! Mas sem dúvida são sempre oportunidades, porque nos obrigam a esvaziar-nos e a reduzir-nos à pobreza originária da nossa essência, e à dependência total do Senhor, que é verdadeiramente o Único que nos pode consolar. Mas, a segunda maneira, talvez mais funda e verdadeira, é olhar para esta frase, não através do próprio umbigo, mas com os olhos e coração centrados no outro. E sim, felizes aqueles que choram com os outros, quando aquele que me está próximo sofre, quando me coloco no lugar dele, quando me esvazio e ponho-me ao serviço para contribuir de alguma forma para que o “choro” do outro seja consolado. E sim isto é «pôr-se a caminho», sair de si em direção ao outro! E também aqui só o Senhor é verdadeiramente o Único que nos pode consolar.

Mariana Abranches Pinto

Objetivos para esta sessão:

·         Refletir sobre o ideal de felicidade que é escolhido por quem se aventura no caminho do seguimento de Jesus;

·         Desenvolver a capacidade de olhar para o mundo com o olhar de Jesus;

·         Aprender a coragem de fazer a “elaboração do luto”, necessária para renunciar àquilo, apesar de poder ser bom, pode não o ser para o meu próprio caminho de felicidade.

2. Dinâmica

Antes de convidar o grupo a entrar na sala/espaço onde decorre a reunião o animador deve “decorar” as paredes ou mesas da sala com:

·         Cartaz de tamanho grande (A3, por exemplo) e colorido com a frase: “Felizes os que choram” (Anexo 1). Este cartaz deve ser chamativo e estar num local privilegiado,

·         Folhas A4 ou A3 com poemas/textos/frases sobre chorar (Anexo 2) (se a sala for muito grande podem colocar-se mais do que 1 cópia de cada poema/texto/frase).

·         Fotografias de pessoas a chorar e de circunstâncias no mundo que possam inspirar choro (Anexo 3).

1º Momento – O que me faz chorar

Quando os jovens começarem a entrar na sala o animador sugere que circulem pela mesma, lendo os poemas e vendo as fotografias. Depois disso pede a cada jovem que escolha o poema/texto/frase com o qual mais se identifica.

De seguida propõe uma partilha em pequenos grupos (no máximo de 5 elementos pois o objetivo é permitir partilhas aprofundadas) a partir das seguintes questões:

·         Qual o poema/texto ou imagem com que mais te identificas? Porquê?

·         Na tua vida concreta, o que te faz chorar?

·         Olhando para a sociedade em que vivemos, o que te faz chorar?

2º Momento – O choro no Evangelho

Entregar a cada pequeno grupo uma das seguintes citações bíblicas e respetivas questões. Cada grupo deve ler a citação e refletir sobre as questões propostas.

Citação 1 – Ressurreição de Lazaro - João 11, 1-3.17.28-45

“Um homem chamado Lázaro estava doente. Era natural de Betânia, aldeia onde viviam também as suas irmãs Maria e Marta. Maria foi aquela que tinha ungido o Senhor com perfume e lhe enxugara os pés com os cabelos. Lázaro, o doente, era seu irmão. Por isso as duas irmãs enviaram este recado a Jesus: «Senhor, o teu amigo está doente.» 

Ele ainda não tinha entrado na aldeia mas continuava no lugar onde Marta o tinha encontrado. Os judeus que estavam em casa de Maria para a consolar, quando viram que ela se levantou à pressa e saíra, foram atrás dela, pois pensavam que ia à sepultura para chorar. Ao chegar onde estava Jesus, Maria lançou-se-lhe aos pés, mal o viu, e disse: «Senhor, se cá estivesses, o meu irmão não teria morrido.» Quando Jesus viu Maria a chorar, e os judeus que tinham chegado com ela a chorar também, comoveu-se muito e ficou perturbado. Depois quis saber: «Onde é que o sepultaram?» Responderam-lhe: «Senhor, vem ver.» Nesta altura, Jesus chorou. Os judeus reconheceram: «Vejam como era amigo dele!» Mas alguns murmuravam: «Ele que deu vista ao cego, não podia ter evitado que este homem morresse?» Jesus, comovendo-se de novo, aproximou-se do túmulo. Era uma caverna e a entrada estava tapada com uma pedra. Jesus disse: «Tirem a pedra.» Mas Marta, irmã do defunto, adiantou-se: «Senhor, já cheira mal! Há já quatro dias que morreu.» «Não te disse há pouco», lembrou-lhe Jesus, «que se acreditasses, havias de ver a glória de Deus?» Tiraram então a pedra. Jesus levantou os olhos ao Céu e disse: «Dou-te graças, ó Pai, por me teres ouvido. Eu bem sei que sempre me ouves, mas digo-o agora para as pessoas que estão aqui acreditarem que tu me enviaste.» Tendo dito isto, clamou em alta voz: «Lázaro, sai cá para fora!» Ele saiu, com as mãos e os pés ligados em faixas e a cara tapada com a mortalha. Jesus ordenou aos presentes: «Desatem-lhe as ligaduras para ele poder andar.»

Questões para refletir em grupos:

·         Que circunstâncias levam Jesus a chorar? Que sentiria Jesus para chorar?

·         A partir desta citação, que ensina Jesus sobre o choro? Será que hoje podemos permitir-nos chorar? Quais as razões para chorar?

Citação 2 – Jesus chora sobre Jerusalém – Lucas 19, 41-44

Quando chegou perto de Jerusalém, ao ver a cidade, Jesus chorou por ela e exclamou: «Se tu também compreendesses, ao menos hoje, aquilo que te pode dar a paz! Mas por agora não conseguirás entender! Lá virá o tempo em que os teus inimigos farão uma muralha em volta de ti e te cercarão por todos os lados. Hão-de deitar-te por terra e matar os teus habitantes e não deixarão em ti uma pedra sobre outra, porque não reconheceste o tempo em que Deus te veio visitar.»

Questões para refletir em grupos:

·         Que circunstâncias levam Jesus a chorar?

·         A partir desta citação, que ensina Jesus sobre as razões para chorar? Olhando o mundo hoje, temos razões para chorar?

Citação 3 – As mulheres de Jerusalém choram por Jesus – Lucas 23, 26-28

“Quando o levavam, obrigaram um homem de Cirene chamado Simão, que vinha do campo, a carregar a cruz de Jesus às costas e a seguir atrás dele. Ia também uma grande multidão em que se viam algumas mulheres que choravam e se lamentavam por causa dele. Jesus voltou-se e disse-lhes: «Mulheres de Jerusalém, não chorem por mim, chorem antes pelas vossas vidas e pelos vossos filhos.”

Questões para refletir em grupos:

·         Que circunstâncias levam as mulheres a chorar? E que resposta lhes dá Jesus? Que intencionalidade terá Jesus com esta resposta?

·         A partir desta citação, que ensina Jesus sobre as razões para chorar?

3º Momento – Plenário e conclusão

Cada pequeno grupo apresenta as suas conclusões a partir da reflexão realizada. O animador orienta a partilha procurar ressaltar as seguintes conclusões:

·         Chorar é normal e humano… Vivemos numa sociedade centrada nos prazeres, na qual todos precisamos que mostrar o quanto bem e felizes estamos… Mas nem sempre estamos bem e felizes, a vida traz as suas dificuldades, e no meio delas esquecemo-nos muitas vezes de permitir-nos sentir todos os sentimentos, incluindo a tristeza e o desgosto. E portanto chorar quando sentirmos vontade. Chorar leva-nos a situar-nos em humildade e a caminho de uma vida mais ao estilo de Jesus.

·         Chorar pelos amigos é fundamental… Os amigos são um bem precioso, mas nem sempre temos o tempo necessário para os escutar, para perceber melhor o que vivem, o que sentem, as suas alegrias e sucessos, mas também as dificuldades e derrotas. Rir e chorar com os amigos é fundamental, pois permite-nos estar presentes e acompanharmo-nos uns aos outros pelo caminho da vida, sendo amigos a fundo, ao estilo de Jesus.

·         Precisamos olhar para o mundo e compadecer-nos… Vivemos numa sociedade cada vez mais egoísta e centrada em si mesma, mas precisamos olhar o mundo com as suas diferentes realidades e deixar-nos afetar por elas. Chorar pelas realidades do mundo leva-nos a agir com o coração nesse mesmo mundo ao estilo de Jesus.

Felizes os que choram, porque serão consolados… Esta é a promessa de Jesus. Feliz tu, que choras, porque Jesus estará e acompanhar-te-á especialmente em cada um desses momentos.

3. Oração: A Esperança tem um nome

A esperança tem um nome, a palavra tem voz.

Nosso grito uma resposta e é Jesus, Jesus.

O futuro tem saída, as trevas têm luz.

Nossa morte uma vitória e é Jesus, Jesus.

Quando um homem responde com a vida e a palavra,

quando alguém tenta ser-lhe fiel no meio das suas lutas,

se com tudo isso chega ao fim...

essa vida nasce nova, Jesus vence a nossa espera.

Só se o amor se arrisca, pode resgatar o morto.

Só na entrega se fazem novas as nossas esperanças.

Pela Tua cruz nasceu a liberdade...

A nossa vida faz-se nova, Jesus vence a nossa espera.

Maeve Heaney (FMVD)

4. Mexe-te

Há renúncias que fazem deitar lágrimas que podem não ser húmidas, mas feitas de atitude de renúncia e de firme decisão de enveredar por outro caminho que não o do desespero.

Sendo assim, sugerir ao grupo a missão «Poção de Lágrima Feliz». Oferecem-se a cada uns quantos cartões do anexo 3 e, durante a semana, cada um procura, entre os familiares, os amigos e os vizinhos, que eles o preencham anonimamente.

Esses cartões, novamente reunidos, poderão servir para a oração de um dos próximos encontros do grupo, pedindo conforto para as renúncias e o dom da esperança para as decisões tomadas. Também se podem queimar num recipiente durante o momento de oração.

Posteriormente pode, ou não, oferecer-se às pessoas por que se rezou uma mensagem de esperança num envelope ou postal.

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Encontro formativo 4 (docx) 

ANEXOS

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