O Papa Francisco encerrou hoje os trabalhos da terceira assembleia geral extraordinária do Sínodo dos Bispos com um discurso em que alertou contra atitudes de rigorismo ou de facilitismo na ação da Igreja.

“A Igreja tem as portas escancaradas para receber os necessitados, os arrependidos e não só os justos ou os que pensam que são perfeitos. A Igreja não se envergonha do irmão caído e não finge que não o vê, pelo contrário, sente-se levada e quase obrigada a levantá-lo de novo”, declarou, concluindo duas semanas de debate sobre o tema ‘Os desafios pastorais sobre a família no contexto da evangelização’.

Francisco, que interveio pela primeira vez desde a sessão inaugural, a 6 de outubro, admitiu que houve “tentações” de “rigidez hostil”, ou seja, de quem se quis “fechar no que está escrito” em vez de se deixar “surpreender por Deus”.

“Desde o tempo de Jesus, é a tentação dos zelosos, dos escrupulosos, dos cuidadosos e dos hoje chamados tradicionalistas e também dos intelectualistas”, precisou.

O Papa advertiu ainda para a “tentação do facilitismo [buonismo, em italiano] destrutivo, quem em nome de uma misericórdia enganadora enfaixa as feridas sem primeira as curar e medicar”.

“É a tentação dos facilitistas, dos medrosos e também dos chamados progressistas e liberais”, realçou.

Francisco lamentou que muitos comentadores tenham pensado “ver uma Igreja em litígio”, durante o Sínodo 2014, “onde uma parte está contra a outra”. A intervenção pediu que a Igreja não transforme “o pão em pedra”, para a atirar contra “os pecadores, fracos e doentes” e alertou para a “tentação de descer de cruz, para contentar as pessoas” em vez de purificar o “espírito mundano”. Francisco falou ainda na tentação de “descuidar o depósito da fé”, considerando-se “não guardiães, mas proprietários e patrões”, ou de “descuidar a realidade”, com uma linguagem incompreensível.

Segundo o Papa, este Sínodo foi um “caminho” que incluiu momentos de “tensão” e de “consolação”, admitindo que teria ficado mais preocupado se “todos estivessem de acordo ou taciturnos numa falsa e quietista paz”. O debate, disse Francisco, decorreu “sem colocar nunca em discussão as verdades fundamentais” do sacramento do Matrimónio: indissolubilidade, unidade, fidelidade e abertura à vida.

A intervenção observou ainda que o dever de cada bispo, como “pastor”, é o “alimentar o rebanho que o Senhor lhe confiou” acolhendo e indo ao encontro das ovelhas perdidas “com paternidade e misericórdia, sem falsos medos”.

“Caros irmãos e irmãs, agora temos ainda um ano para amadurecer, com verdadeiro discernimento espiritual, as ideias propostas e encontrar soluções concretas para tantas dificuldades e incontáveis desafios que as famílias têm de enfrentar”, concluiu. Segundo o porta-voz do Vaticano, a intervenção de Francisco foi aplaudida de pé durante cerca de cinco minutos.

O debate sobre a situação da família vai continuar nos próximos meses até à realização de uma assembleia geral ordinário do Sínodo dos Bispos, com três semanas de trabalho, em outubro de 2015.

Por Octávio Carmo, Chefe de redação na Agência Ecclesia.

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