Ir. Ângela Oliveira, asm
Ir. Bernardete Oliveira, asm
(Aliança de Santa Maria) 

Esta é a resposta que damos à pergunta que nos é colocada vezes sem conta: “São irmãs?”
Não vimos outra forma de começar este testemunho a não ser assim.

Quer dizer, pensando bem, outro modo seria citando o nosso livro favorito: “Um pouco mais adiante, Jesus viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, os quais, com seu pai, Zebedeu, consertavam as redes, dentro do barco. Chamou-os, e eles, deixando no mesmo instante o barco e o pai, seguiram-no.” (Mt 4, 21-22) Jesus viu outras duas irmãs: Bernardete e depois a Ângela. Chamou-as.

Hoje, escrevemos isto com um sorriso rasgado nos lábios e de uma forma bem descontraída. Mas podemos confessar que, há uns bons anos atrás, esta seria uma ideia um tanto ou quanto constrangedora. Sim! Ser “freira” nem sempre esteve nos nossos projetos (tanto que quase conseguimos convencer Deus que Ele estava enganado). Nenhuma de nós tinha planeado viver em comunidade, muito menos assim: juntas, numa mesma comunidade.

Em Guimarães, partilhámos o mesmo teto durante treze anos. Os pais, duas outras irmãs e nós. Juntos lembramos, com carinho, as idas meio-atribuladas à missa dominical (“eram muitas mulheres” – diria o nosso pai), as orações rezadas à noite em família (tantas vezes a lutar contra o sono e o cansaço que se fazia sentir ao fim do dia), as muitas brincadeiras e partilhas com os primos e os vizinhos que fizeram tão feliz a nossa infância.

Passaram anos, uns 19, desde o nascimento da Bernardete, até ao momento de ela fazer a mala para ir a um retiro das irmãs da Aliança de Santa Maria (ASM). Sim, o retiro que viria a abrir um novo horizonte à sua vida. Nesta altura, a Ângela guardava na mochila os livros do 6º ano e ía feliz à catequese, mas para a Bernardete era diferente, tudo o que lhe falasse de Deus pouco ou nada a interessava.

Então como é que a Bernardete foi parar a um retiro?
Juntemos uma agenda que raramente tinha dias em branco, a um fim de semana sem nada marcado, a um convite precisamente para esse fim de semana, um arriscar e assim foi.

À Bernardete atraía o barulho das noites de festa com os amigos, o namorado, o trabalho, as motas. Assim, o silêncio daquele retiro impôs um outro “barulho” que desconhecia: o do falar de Deus… do querer de Deus. Relembra um pedaço de papel que lhe veio parar às mãos naquele fim de semana, e que a inquietou muito: “que sentido tem a tua vida?”. Esta questão veio confrontar todas as falsas seguranças e o medo do compromisso que sentia.

Depois desse retiro foi essencial o acompanhamento com alguém mais experiente, que a pudesse ajudar a responder às questões que surgiam e a motivasse ao encontro com o Mestre: “Já perguntaste a Deus o que Ele quer de ti?”. Ao ouvir esta provocação a Bernardete riu-se por dentro: “O quê? Perguntar a Deus o que Ele quer de mim? Mas que pergunta é esta? Eu é que sei o que eu quero!”.

Sentiu que não perdia nada – mal ela sabia que viria a “perder tudo” – e ousou perguntar. Alguns hábitos novos foram tendo espaço no seu dia a dia, voltou à oração do terço (desta vez sem dormitar em família) que passou a ser a sua companhia no regresso a casa, no final de cada dia de trabalho e passou a visitar o Santíssimo Sacramento, depois do café que tomava com os amigos.

Olhando para a história, ela sente-se pertencer àqueles de quem Deus diz: “Deixei-me encontrar pelos que não me procuravam, manifestei-me aos que não perguntavam por mim.” (Is 65, 1)

No contacto com as irmãs da ASM deparou-se com outra realidade que ela pensava impossível conjugar: “é possível ser freira e ser feliz”! Fascinou-a a naturalidade das irmãs, que conversavam sobre todos os assuntos, que transpareciam uma alegria imensa e, simultaneamente, uma seriedade de vida.

A fazer quase 21 anos disse ‘Sim’ àquilo que Deus queria para ela. É por esta altura que a Ângela começa a participar nos encontros da Congregação da sua mana! “Como estará ela?” “Como é que a minha irmã foi para freira!? A Bernardete!?”

Antes, no subconsciente da Ângela pairava uma imagem de certa forma preconceituosa do que é “ser religiosa”, de semblante carrancudo, distante e rigorosamente séria.

Da desconfiança e distância iniciais, os encontros que a Ângela foi fazendo com a pastoral juvenil da Congregação foram quebrando os preconceitos que tinha em relação à vida religiosa e foram, essencialmente, aprofundando a sua relação com o Senhor: passar da ideia do Deus-altíssimo para um Deus-baixíssimo, que se queria colocar frente-a-frente consigo. Dar sentido a tudo. Atraiu-a, como à sua irmã, a naturalidade e a proximidade das irmãs, a alegria que brotava da comunidade.

Aos poucos, a Ângela já organizava a sua vida em função da agenda da pastoral da ASM, já não queria faltar a nenhum encontro, sabia sempre a pouco, sentia-se tocada, em cada momento, pelo mesmo olhar do Mestre que lhe fazia “arder o coração”. A questão impunha-se: “O que é que Deus quer de mim?”

Recorda um poema de Fernando Pessoa que descreve muito bem o que a acompanhava naquela fase: “para ser grande, sê inteiro”. Qual era a sua medida? Seria feliz na medida em que fosse inteira! Era uma questão de inteireza.

Mais uma vez, o processo de discernimento foi marcado por um tempo forte de oração e por algo fundamental: o acompanhamento, o “pôr em comum”.
“Ser irmã!” O “porquê eu?”, serenamente, se tornava num “porque não eu?”  Imaginava-se ali, naquela casa, com aquelas irmãs, entregue daquela forma. O chamamento foi amadurecendo e a resposta cada vez mais clara: “Sim, o meu lugar era ali:  cabeça, mãos e coração livres para Deus e para a humanidade.”

Mas nem sempre foi tudo claro. Houve altos e baixos. Perceber a vontade de Deus não se conjuga – a maior parte das vezes – com facilidade de entendimento. Aquela certeza ia ficando ofuscada… E então lá vinha o liceu, as artes, as saídas com os amigos, os jogos do Vitória de Guimarães, lá aparecia, uma e outra vez, um jovem por quem o coração batia mais forte. Uma outra paixão muito grande: o teatro – ao qual deu muito espaço e tempo. Houve luta interior, uma vontade de “apagar o histórico”, apagar os caminhos já percorridos. Nesta fase uma circunstância foi marcante no seu processo de discernimento: a morte de um amigo, num acidente de viação. O Tiago. Sentiu um abanão que a fez pensar no quanto a vida é frágil e breve, que a despertou para a importância de descobrir o seu lugar e de não ‘defraudar’ Deus.

Assim… Chegada a casa, quando o silêncio enfim ganhava voz no quarto. Irresistível. O lugar e a marca que Deus ocupava nela era mais forte do que qualquer outra paixão. Ela sabia que já não sabia ser sem Ele e quis seguir o que sabia.

Irmãs ao quadrado, desde que estamos nesta mesma Congregação, envolvidas num mesmo seguimento, comprometidas com um mesmo carisma e uma comunidade, lembramos os santos Francisco e Jacinta que, sendo irmãos, chegaram a saborear juntos essa amizade com Deus e em Deus.

Ir. Ângela Oliveira, asm
Ir. Bernardete Oliveira, asm

 

 


Atividades a desenvolver com a Pastoral IGNIS | Pastoral Juvenil e Vocacional da Aliança de Santa Maria

Encontros para raparigas:
– Retiro IGNIS: 20 a 22 de abril [16-30 anos]

– Campo de Férias IGNIS: ​22 a 28 de julho [15-25 anos]

Encontros mistos [15-25 anos]:
“LOGOS” e “O QUE HÁ DE NOVO”:
datas a anunciar acompanhar em:
aliancadesantamaria.com / www.facebook.com/aliancadesantamaria

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