Margarida Simões Correia
Voluntária
Há um ano o mundo ganhou mais uma Santa, e que Santa. Desde sempre ouvi falar em Madre Teresa de Calcutá. Há dois tive a primeira experiência de trabalho com as Missionárias da Caridade na casa de Tanger. É impossível ficar indiferente ao trabalho e à dedicação das Missionárias e, este ano decidi ir ver onde é que isto tinha começado, desafiei uma amiga, fizemos as mochilas e fomos para Calcutá.
Calcutá é sujo, barulhento, poluído e confuso, mas ainda assim são palpáveis as razões que fizeram Teresa apaixonar-se por aquele sítio. Estive a trabalhar em duas das seis casas que as irmãs têm lá. De manhã estava a ajudar com as crianças em Shishu Bhavan. E à tarde estava a trabalhar na primeira casa da Madre Teresa Kallighat. Esta casa trabalha com homens e com mulheres em fase terminal.
Estive em Calcutá 18 dias a fazer caridade. Foi em Calcutá que aprendi o que é que isto quer realmente dizer. Caridade mais do que dar sem ver a quem, é dar com amor. E isto, parecendo que soa a cliché, faz toda a diferença. Este amor é dar, sem alimentar vícios e sem alimentar a pobreza.
Madre Teresa disse “O importante não é o que se dá, mas o amor com que se dá.” E de facto, em Calcutá, como aqui em Portugal, é difícil fazer a gestão do que é que se dá, e o amor com que se dá. Há muita, muita pobreza em Calcutá. Há crianças com crianças ao colo a pedirem leite em pó. A primeira reacção é dar. É leite em pó. As irmãs dizem, desde o primeiro dia para não o fazermos. Quando entregamos o leite e viramos as costas, eles voltam às lojas e devolvem o pacote. Estas crianças pertencem a redes que precisam de ser combatidas, e nós, turistas, não sabemos. Aqui eu percebi o que é a verdadeira caridade. O que é dar porque não sei lidar com a pobreza. E que é dar com amor para aquela criança crescer. O que passa muitas vezes por não dar aquele leite em pó, mas através do exemplo de trabalho em casa das irmãs, ou mesmo a brincar com estas mesmas crianças na rua, perder tempo com elas, dar-lhes um bocadinho de colo, um beijinho ou uma festinha, faz toda a diferença. Não te vou dar o que pedes, porque não é o que tu precisas. E esta gestão não é fácil. Mas foi isto que eu aprendi com as irmãs. Acima de tudo elas vivem lá, todos os dias há muitos anos. Se elas nos dizem para não darmos, tem uma razão maior, por muito que às vezes não seja óbvia.
Poder viver a casa onde viveu Madre Teresa foi, para mim, experiência importantíssima a vários níveis. A nível de oração é muito forte, rezar no túmulo de Madre Teresa, ir á missa onde ela ia todos os dias, ou até visitar o quarto onde ela dormia, e onde ela morreu, faz hoje 20 anos. Madre Teresa tinha o quarto mais quente da casa. Dormia por cima das máquinas da cozinha. Só é possível imaginar as temperaturas que aquele quarto atingia. Há um museu pequenino, com várias coisas que pertenciam a Madre Teresa, os seus sarees, as suas sandálias, a sua tão querida nacionalidade indiana. O museu é aberto a toda a gente e mesmo para quem não está lá a trabalhar, tem uma carga emocional muito forte. Esta é aliás uma das características que mais admiro no trabalho das irmãs: não olham a quem. Ajudam quem mais precisa, seja ele quem for. Esta é uma verdadeira característica de Jesus presente no trabalho diário das irmãs. “Quem julga as pessoas não tem tempo para as amar.” E toda a gente, não são só os pobres dos mais pobres, acima de tudo, precisam de Amor.
Quando saímos de Calcutá e fomos conhecer outras cidades da Índia, jurámos que íamos voltar lá. Não estava igual a como o deixámos, estava mais autêntico. Sem os tantos voluntários que enchem as casas no mês de Agosto, numa missa às 6 da manhã, foi mesmo um abrir de olhos. Independentemente das mãos que cá estejam a ajudar, Calcutá não pára. É por isso muito importante ter a certeza que se o nosso trabalho foi feito com Amor, mesmo que pareça que é só uma gota no oceano, “sem essa gota, o oceano era muito mais pequeno”.
Margarida Simões Correia
Voluntária
Nota: O Dia Internacional da Caridade foi instituído pela Assembleia-Geral das Nações Unidas em 2012, através da Resolução 67/105, na data da morte da Madre Teresa de Calcutá (1910-1997).
“Reconhecer o papel fundamental das instituições, governos e pessoas que praticam a caridade e aliviam as crises humanitárias e o sofrimento humano”, é o objetivo.
Canonizada pelo Papa Francisco a 4 de setembro de 2016, Madre Teresa de Calcutá que se distinguiu pelo serviço aos pobres também recebeu o Prémio Nobel da Paz, em 1979.