Logo nas primeiras palavras da sua mensagem para a Quaresma, o Papa Francisco recorda que este é o tempo favorável à “renovação para a Igreja, para as comunidades e para cada um dos fiéis”. Ora, como a todos os cristãos, está claro nas palavras de Francisco um desafio explícito e muito adequado aos jovens.
E são muitos os lugares e os momentos onde esta transformação poderá acontecer. Desde logo, na unidade paroquial onde não podem contentar-se a refletirem sobre as realidades do tempo presente e futuro e ficar de ”braços cruzados”. O Papa Francisco deixa-nos a este respeito algumas interrogações que nos interpelam: “tudo o que se disse a propósito da Igreja universal é necessário agora traduzi-lo na vida das paróquias e comunidades.” Nestas realidades eclesiais, consegue-se porventura experimentar que fazemos parte de um único corpo? Um corpo que, simultaneamente, recebe e partilha aquilo que Deus nos quer dar? Um corpo que conhece e cuida dos seus membros mais frágeis, pobres e pequeninos? Ou refugiamo-nos num amor universal pronto a comprometer-se lá longe no mundo, mas que esquece o Lázaro sentado à sua porta fechada (cf. Lc 16, 19-31)?
Muitas outras afirmações do nosso querido Papa Francisco poderiam ser evocadas, mas bastam-nos estas duas que dizem respeito à “renovação” e ao cuidado dos “mais frágeis, pobres e pequeninos”. Falando de renovação é incontornável que o nosso pensamento vá para os mais jovens das nossas comunidades. Eles personificam esta possibilidade de mudança de que fala Francisco. A eles pertence também a capacidade de sonhar e a oportunidade de concretizar ideais, de ousar diferentes formas de intervenção para que a Boa Nova seja, na verdade, anunciada a todos e acreditada pelo testemunho do compromisso com as realidades terrestres, particularmente, com as que onde menos se pratica a justiça e a caridade que brotam do coração misericordioso de Deus. Todas estas potencialidades dos jovens, ampliadas pela vivência em grupo, são indispensáveis para o cuidado dos seres humanos mais frágeis. Por razões óbvias os jovens cristãos têm, neste campo, responsabilidades acrescidas!
Não se pode deixar de dar relevância ao número de iniciativas solidárias em que participam os jovens das nossas paróquias e movimentos cristãos. É incontornável esta realidade. A título individual ou coletivo eles têm dado corpo e levado a bom porto muitas iniciativas eclesiais ou cívicas motivadas pelo amor ao próximo às quais têm dedicado muitas das suas energias e o seu entusiasmo. No entanto, salvo algumas exceções, naturalmente, estas iniciativas não traduzem um compromisso efetivo e continuado com a ação caritativa organizadas nas comunidades cristãs. Muitos jovens, ainda que tenham já recebido o dom do Espírito Santo, através do Crisma, sacramento do compromisso militante, não estão, de facto, envolvidos em grupos paroquiais de ação social, onde eles existam, porque, infelizmente, ainda há muitas que os não têm, relevando uma certa “anemia pastoral”.
É imperioso o contributo dos jovens para o rejuvenescimento dos grupos existentes ou a criação onde ainda não existam. Como fazê-lo? Desafiando-se a si próprios, olhando à sua volta: “cada comunidade cristã é chamada a atravessar o limiar que a põe em relação com a sociedade circundante, com os pobres e com os incrédulos. A Igreja é, por sua natureza, missionária, não fechada em si mesma, mas enviada a todos os homens.” Mais uma vez, são as palavras do Papa Francisco que nos impelem a avançar. Onde já existem grupos organizados de ação social, então, que os jovens os integrem. Onde não existem, desafiem outros cristãos, da comunidade, jovens e mais velhos, à sua criação. Onde houver resistências, porque sabemos que as há, escudadas no “sempre se fez assim”, como preveniu o Papa na “Alegria do Evangelho”, os jovens não podem resignar-se, mas procurar novos caminhos, procurar novas estratégias, criando espaços de intervenção juvenil, que possam depois trabalhar em articulação comos grupos existentes, sob a orientação dos párocos. Nada justifica que leve os jovens a comprometerem-se na edificação da “cidade dos homens e da cidade de Deus”, correndo o risco de pertencerem a uma paróquia como se tratasse de uma mera coletividade de cultura ou desportiva.
No que toca à ação social da Igreja são muitos os desafios que se colocam à Pastoral Juvenil:
1º – Ajudar os jovens cristãos a saber que não o são de verdade se não viverem a dimensão da caridade com todas as exigências que ela acarreta;
2º – Motivar os jovens a conhecerem o pensamento social da Igreja que é fundamental, não só nas práticas pastorais, mas também na vida pessoal e profissional – o posicionamento como cristãos face à realidade social, politica e económica;
3º Promover a integração de conhecimentos académicos, nomeadamente, na áreas de humanidades, economia e tecnologias, mais especificamente nas relacionadas com a informática, na promoção de um conhecimento da realidade socioeconómica da sua comunidade paroquial e com a “fantasia da caridade” apontar soluções que levem à construção da justiça e da fraternidade.
Se os jovens cristãos não se envolverem mais e depressa, de forma organizada, na pastoral da caridade da Igreja, esta não só continuará a correr o risco de não ser testemunha da Caridade na Verdade que o Papa Emérito Bento XVI tão bem explicitou na sua carta Encíclica, com este mesmo nome, como corremos o risco de se contribuir para um maior enfraquecimento da ação pastoral neste setor.
Recordamos as palavras do Papa Francisco, no Encontro Mundial da Juventude no Brasil: “Não tenham medo!» Quando vamos anunciar Cristo, Ele mesmo vai à nossa frente e nos guia. Ao enviar os seus discípulos em missão, Jesus prometeu: «Eu estou convosco todos os dias» (Mt 28,20). E isto é verdade também para nós! Jesus não nos deixa sozinhos, nunca vos deixa sozinhos! Sempre vos acompanha!”
Jovens cristãos de Portugal vamos imprimir uma nova “fantasia” à vivência da caridade nas nossas comunidades cristãs e humanas? Não esqueçam que viver a “caridade dá que fazer”, mas só ela nos garantirá a vida em plenitude e para sempre.
Eugénio Fonseca