Somos agora convidados a trilhar rumo a Cracóvia o caminho das bem-aventuranças. Diz o Papa Francisco “Ao proclamar as Bem-aventuranças, Jesus convida-nos a segui-Lo, a percorrer com Ele o caminho do amor, o único que conduz à vida eterna. Não é uma estrada fácil, mas o Senhor assegura-nos a sua graça e nunca nos deixa sozinhos”.

E é na Alegria da experiência do Encontro com Ele, que somos depois interpelados pela sua graça, a devolvê-Lo aos outros, testemunho autêntico de um amor infinito.

«Porque muito amou» (Lc 7,47).

Surpreendo-me com aquela mulher que, mesmo sabendo-se olhada com desdém, entra numa casa que não é sua, sem que ninguém a convide, para ungir os pés de Jesus com perfume e lágrimas. A coragem ou a loucura dessa ousadia apenas se explicam com o amor. Só um coração que se sabe amado incondicionalmente arrisca tanto. Ajoelhada, aos pés do Mestre, o seu silêncio narra uma história de amor com palavras de gratidão e de arrependimento. As suas lágrimas são sinopse da História Maior, essa que fala de um Deus que se define com o léxico do afeto (1Jo 4,8) e que não desiste de amar cada pessoa como única.

É esta descoberta de que sou amado incondicionalmente com um amor até ao extremo (Jo 13,1), e também a ousadia da gratidão e do afeto. Porque muito sou amado, muito amo. Porque muito amo, muito sou amado. O Todo-Santo vem mexer a terra de que somos feitos para nos santificar pelo amor. A Eucaristia – que é partir do pão e partir da vida, que é gesto vivo que vivifica, memória da Vida que se dá plenamente na cruz para que tenhamos plenamente vida – é espaço de encontro para quem se deixa encontrar.

É isto a adoração do Santíssimo.

No desconcerto em que Deus se nos dá, a adoração faz-se da disposição para o encontro com esse Alguém que me convida à coragem de me deixar amar. Adorar é ousadia bastante. Significa dispor-me a despir-me diante de Deus, na nudez da minha verdade, a olhar-me na humildade daquilo que sou, na riqueza e na pobreza, e a descobrir que Deus ama incondicionalmente a massa de que sou feito.

Não é sem risco, a adoração. Aquele que tiver a ousadia de penetrar neste diálogo de coração a Coração, de deixar Deus ser Deus na sua vida, arrisca-se a ver-se convertido a um jeito de ser eucarístico. Na escola da adoração eucarística, aprende-se que a vida se ganha perdendo, que o amor dá fruto quando é dado até ao extremo, e que aquele que adoramos no memorial eucarístico nos desafia a fazermos isso mesmo: a ousarmos amar tanto ao ponto de darmos a nossa vida pelos amigos. Da intimidade da adoração, deste gesto ousado que, tal como à mulher do evangelho, me implica a sensibilidade, o corpo, o afeto, a vida toda, devo esperar ser chamado «amigo» por Jesus.

Ora, é bem sabido que os amigos de Jesus arriscam a vida.

Adorar é essa ousadia.

Desafio-vos, com a mesma ousadia de há dois anos atrás, quando iniciamos esta forma de comunicar, a fazer a descoberta deste Deus, revelado no mistério da anunciação.

“Eis-me aqui, envia-me” (Is 6,8)

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