Leonel Claro
Missionário Comboniano

Todos nós conhecemos a linguagem simples e as atitudes serenas do Papa Francisco. Já nos habituamos a isso nos seus textos e nos seus encontros com as pessoas. Tudo isto se manifesta na simples, na básica, mensagem para o Dia mundial Missionário de 2015, publicada no domingo de Pentecostes, 24 de Maio.

De maneira acessível e compreensível para todos, o Papa toca aos pontos essenciais da missão, com uma linguagem, desconcertante até, pela sua clareza. Para mim, que sou missionário, membro de uma congregação missionária, o importante está concentrado nesta mensagem, que convido veemente a ler.

A mensagem enquadra-se no ano da vida consagrada, que se celebra a nível eclesial desde Novembro passado (primeiro domingo do advento) até ao próximo dia 2 de Fevereiro 2016, dia do consagrado. Esta ligação tem razão de ser, porque se toda a vida de Cristo tem carácter missionário, os consagrados, “que o seguem mais de perto assumem plenamente este mesmo carácter”. Porque a missão “é uma paixão por Jesus Cristo e uma paixão pelas pessoas”, e o amor “saído do coração trespassado, estende-se a todo o povo de Deus e à humanidade inteira”, então os consagrados são convidados a ouvirem a voz do Espírito que “os chama a partir para as grandes periferias da missão”.

Manifesta-se quase no fim da mensagem, o que me parece central da mesma: “A Paixão do missionário é o Evangelho” – escreve o Papa. Só pode ser! É tão evidente, que só pode ser afirmada assim, sem mais nem menos. Porque sim! É que o Evangelho, continua ao Papa, “é fonte de alegria, liberdade e salvação para cada homem”. Por isso a nossa missão (bispos, sacerdotes, religiosos e leigos), “é colocar a todos, sem excluir ninguém, em relação pessoal com Cristo”.

É evidente, mas ao mesmo tempo desconcertante. É que, a maior parte dos cristãos confunde missão com ajuda caritativa ou solidária. O essencial do missionário, ou de cada cristão, é Jesus Cristo, é o anúncio, testemunho e partilha da sua pessoa nas nossas vidas. A missão não pode resumir-se à simples ajuda, caritativa ou solidária, seja ela material ou espiritual, ou as duas coisas. Ela toca o mais profundo e sagrado da pessoa humana, a sua vida em plenitude. Daí a urgência de “repropor o ideal da missão com o seu centro em Jesus Cristo e a sua exigência na doação total de si mesmo ao anúncio do Evangelho”. A nossa Missão é Jesus Cristo. Voluntariado, ajuda, qualquer pessoa pode fazer, mas anunciar Jesus Cristo é restrito aos discípulos de Jesus que o vivem nas suas vidas.

Sendo assim, todo e qualquer cristão só pode ser missionário, porque “a missão faz parte da gramática de fé” e, portanto, “quem segue Cristo não pode deixar de tornar-se missionário”.

A mensagem percorre ainda, alegremente, alguns outros espaços da missão:
O convite aos formadores a apontar verdadeiros caminhos de vida e acção;
O convite aos jovens, capazes de testemunhos corajosos, a não deixarem que lhes roubem o sonho duma verdadeira missão;
O convite à inculturação;
O convite a redefinir os destinatários privilegiados do anúncio do Evangelho (os pobres, os humildes, os doentes, os desprezados e esquecidos).

Termino fazendo referência a duas pedras basilares da evangelização hoje, presentes na mensagem.

A primeira é a certeza de que “o anúncio do Evangelho, antes de ser uma necessidade para quantos não o conhecem, é uma carência para quem ama o Mestre”. Ai de mim se não evangelizar! Independentemente de haver ou não, interlocutores que nunca ouviram falar de Jesus, o discípulo de Jesus necessita de o testemunhar, de anunciar justamente aquele em quem acredita, Jesus Cristo.

A segunda é o apelo que o Papa faz aos consagrados para promoverem, no serviço da Missão, “a presença dos fieis leigos”, que desejam “partilhar a vocação missionária inscrita no baptismo”. É um convite concreto do Papa, aos consagrados, a abrirem as portas das suas casas e dos seus carismas a todos aqueles e aquelas que desejam colaborar com eles na obra da evangelização.

Neste âmbito já se fizeram progressos, mas ainda há muito caminho a percorrer.
Continuamos, corajosamente, a percorrer os caminhos da missão de Jesus ressuscitado.

Leonel Claro
Missionário Comboniano

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