“O irmão Roger procurou sempre pôr-se no lugar dos jovens. O seu temperamento ajudava-o nesse sentido. Ele sentia e compreendia as coisas como eles. Ele pressentia facilmente o que era incompreensível para os jovens. (…)”

Em Taizé, três vezes por dia interrompem-se as diferentes atividades que ocupam os jovens: o trabalho, as reflexões bíblicas, as partilhas em pequenos grupos, o convívio. Os sinos chamam para a oração. Centenas, por vezes milhares de jovens dos mais diversos países dirigem-se à igreja e juntam-se aos irmãos da nossa Comunidade para rezar juntos.

Cânticos curtos, várias vezes repetidos, que procuram dizer em poucas palavras uma realidade fundamental facilmente assimilável. Depois, a leitura bíblica é feita em várias línguas. No centro de cada oração, o silêncio de alguns minutos é um momento único de encontro pessoal com Deus. Entre irmãos, ficamos frequentemente surpreendidos ao ver como os jovens participam nestas orações e depois as prologam ao serão, por vezes durante várias horas, em silêncio ou apoiados pelos cânticos meditativos. E os próprios jovens dizem-se muitas vezes espantados ao constatar o tempo que passam em oração em Taizé! Quando perguntamos aos grupos que encontramos no final de uma semana em Taizé o que mais os marcou, é raro a resposta não mencionar a oração. Muitos dos que visitam a nossa colina dizem que em Taizé «se sentem em casa», que é como um porto seguro onde podem vir mesmo em momentos agitados. É impressionante ouvir estas mesmas expressões na boca de uma jovem professora lituana, de um jovem desempregado espanhol, de uma alemã estudante de teologia luterana, de uma estudante de enfermagem na Ucrânia ou de um informático húngaro. Ou ainda na boca de jovens africanos, latino-americanos e asiáticos que vêm a Taizé enviados pelas suas Igrejas, para passar três meses como voluntários durante o Verão.

Será que podemos concluir que em Taizé nos esforçamos para nos adaptar aos jovens? Talvez, em certo sentido. Durante toda a sua vida, o irmão Roger procurou acolher e compreender aquilo que podia impedir alguém de confiar em Deus. Um dos primeiros irmãos da Comunidade, o irmão François, escreveu um artigo pouco depois da morte do irmão Roger onde dizia: «O irmão Roger procurou sempre pôr-se no lugar dos jovens. O seu temperamento ajudava-o nesse sentido. Ele sentia e compreendia as coisas como eles. Ele pressentia facilmente o que era incompreensível para os jovens. (…) Ao ouvir o irmão Roger falar aos jovens, eu pensava muitas vezes na atitude missionária de São Paulo. Nas suas cartas, São Paulo adaptava o vocabulário aos destinatários, que eram extremamente diferentes uns dos outros, e integrava algumas expressões deles, com a única preocupação de poder ser compreendido. Uma elasticidade de espírito destas não é um sinal de fraqueza ou de temperamento versátil. Provém do facto do essencial ser mais firme do que tudo o resto.» («La Croix», 2 de Setembro de 2005.)

No entanto, o irmão Roger não costumava falar em querer adaptar-se. Falava de simplificar. Muitas pessoas diziam que ele tinha uma linguagem que passava bem junto dos jovens. Mas ele não falava como eles. Nos seus textos, encontramos constantemente palavras bíblicas como «misericórdia», «compaixão», «comunhão»… Palavras que até parecem pouco acessíveis aos jovens. Apesar disso, surpreendentemente, na boca do irmão Roger, com as suas frases simples, os jovens não se assustavam com este tipo de vocabulário. No fundo, o irmão Roger conseguia dizer-lhes com simplicidade alguns aspectos exigentes da Fé cristã. Um pouco como nas parábolas do Evangelho, ele adaptava-se sem se adaptar. Falar com parábolas não é dizer tudo, mas deixar antever que há algo para aprofundar. Desta forma, sem compreenderem sempre tudo, os jovens percebem que há caminho a percorrer e algo mais a descobrir. É uma linguagem que não os desconcerta, mas que deixar espaço para avançar. O irmão Roger procurava continuamente simplificar, tanto a forma de viver como a forma de se expressar.

O melhor exemplo desse desejo de simplificação é talvez a nossa oração comunitária. Também nessa área, o irmão Roger deu um salto gigante: transformou pacientemente a oração, deixando de lado elementos que não são essenciais e que criam bloqueios inúteis. E tentou colocar nela tudo o que uma pessoa dos nossos tempos lá procura para aprofundar a confiança em Deus. Tornou contemplativa a própria oração comunitária. A nossa forma de rezar, com cânticos simples e meditativos, teve a sua origem na vontade de tornar uma experiência interior acessível aos grandes números de jovens que nos visitam. Não que tudo tenha sido adaptado para a juventude.

Os cânticos de Taizé não são propriamente feitos com músicas que se possam dizer «jovens». São cânticos profundamente enraizados na tradição contemplativa: através da letra, que vem frequentemente dos Salmos, da longa tradição de oração cantada que começou nas primeiras assembleias de Israel; e através do seu carácter meditativo e mesmo repetitivo. No fundo, no início a Comunidade cantava Salmos e hoje continua a fazer isso mesmo. Mas em vez de cantar todo o Salmo, ficamos só com um versículo, que meditamos juntos, deixando-o ecoar em nós e encontrar experiências que podem ser iluminadas. Por isso não se trata verdadeiramente de uma adaptação, é preciso ir mais longe. O que toca os jovens em Taizé talvez seja o facto deles perceberem que nos esforçamos por tornar o mais simples possível a expressão da Fé, sem no entanto a nivelarmos ou a adocicarmos. Eles sentem, por vezes de forma emotiva e atingidos no mais profundo de si mesmos, que a oração que lhes é proposta não é a tradução na linguagem deles de uma realidade que lhes é estrangeira. É antes um convite a viver uma procura que os faz avançar e que, pondo na boca deles palavras de outros tempos, os obriga suavemente a saírem de si mesmos, libertando-os para novos horizontes. Talvez os jovens sintam que, como Comunidade, ao termos em conta na liturgia a presença deles, procuramos alargar a nossa própria estrada, alargando a todos a intimidade que desejamos viver em Deus.

Para terminar, sublinho ainda dois aspetos da simplicidade que talvez ajudem a nossa oração a ser acessível, atraente e acolhedora para muitos jovens. Por um lado, ela não esmaga caminhos de Fé que podem ser muito tímidos e revelam até uma certa fragilidade. Por outro, centrando- se naquilo que é essencial, ela permite dar lugar à diversidade na expressão da Fé sem que cada detalhe seja motivo de discórdia. Hoje, para muitos jovens, a procura de unidade na diversidade não pode ser descuidada.

Irmão David, da Comunidade de Taizé

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