Manuel Cortes
Estudante Universitário
Movimento Apostólico de Schoenstatt

O meu nome é Manuel Cortes, tenho 21 anos, sou estudante universitário do Instituto Superior Técnico e, entre Fevereiro e Outubro de 2017, vivi a grande aventura da minha vida ao participar no projeto “Maria Ajuda Bairro 6 de Maio”.

Este projeto nasceu da vontade de um grupo de jovens do Movimento Apostólico de Schoenstatt de missionar não num país longínquo ou numa aldeia isolada mas num bairro Social em Lisboa.

O projeto concretizou-se assim num grupo de 3 jovens universitários a viver durante um semestre num bairro Social, empenhados num acompanhamento da comunidade e com especial foco nos mais jovens, acompanhando-os não só nos estudos, mas, acima de tudo, no seu crescimento pessoal! Tentando mostrar, através do exemplo continuado, um caminho alternativo: o caminho da amizade, honestidade, do compromisso escolar e do amor. E assim foi! Em Maio de 2014 descobriu-se o bairro 6 de Maio e, em Setembro do mesmo ano, um grupo de jovens embarcava neste grande desafio. E o resto, como se costuma dizer, é história!

Um dos princípios fundamentais do projeto era a presença física e constante no bairro. Não apenas para estarem em constante contacto com a comunidade (criando vínculos fortes e confiança), mas também para que os próprios missionários fossem desafiados a serem despojados do seu dia-dia normal e terem uma experiência comunitária.

A minha aventura no bairro começou no dia 1 de Janeiro, numa missa nos Jerónimos quando o Diogo Líbano Monteiro, um ex-missionário e na altura responsável pelo projeto, me desafiou a ir viver para lá. Lembro-me que na altura fiquei logo entusiasmado com a possibilidade, pois era um projeto que já acompanhava há algum tempo e que sempre me cativara bastante. Depois do entusiamo inicial veio o discernimento, tive durante alguns dias a pensar se de facto deveria mesmo ir ou se, bem vistas as coisas, era uma loucura.

Mas a verdade é que, depois de muitas rezas, acabei por dar o passo em frente e dar o meu sim ao projeto. A autorização dos meus pais nunca foi um problema, desde o início que me apoiaram muito. Em relação aos estudos rapidamente percebi que estes não iriam ficar comprometidos, uma vez que um dos meus “roommates” era um dos melhores alunos do Técnico, de seu nome Diogo Bragança (explicações à balda!).

Lembro-me que as primeiras semanas foram difíceis, a comunidade do bairro não me conhecia e eu, que entre ter de cozinhar, fazer as compras, lavar a roupa e varrer o chão, estava a viver uma realidade totalmente nova. Mas com o passar dos tempos tudo se foi ajustando e facilmente entrei na rotina (muito graças ao meu outro roommate Manel Líbano Monteiro que era uma autêntica dona de casa!). Além do Diogo e do Manel outros dois missionários viveram comigo esta aventura: o Duarte Nifo e Manel Mendes. O Duarte vivia no bairro desde o início do projeto e era uma peça fundamental no projeto devido à sua experiência, sabedoria e acima de tudo a fé que tinha! O Manel veio em Setembro substituir o Diogo e esteve na fase final do projeto, formando o trio dos Maneis!

Aos poucos, as semanas iam passando e o dia-a-dia ficando definido. Mas o que era uma semana típica lá em casa? Durante o dia, cada um tinha as suas rotinas, para alguns era ficar o dia sentado no sofá a ver vídeos no computador (Manel L.M.), para outros (eu) era acordar cedo e ir para as aulas. Acabadas as aulas cada um regressava a casa e nas tardes disponíveis, em que não tivéssemos de estudar, costumávamos ir para a mediateca (um ATL onde os miúdos vão depois das aulas para estudar) ou então jogávamos à bola num parque de estacionamento à frente de casa. Uma vez por semana, íamos jantar a casa (casa dos pais…), onde éramos tratados como verdadeiros filhos pródigos! Os fins de semana eram os momentos mais intensos. No sábado, tínhamos a reunião com o nosso grupo de miúdos, que passava muitas vezes por dar grandes passeios. Aos domingos, tínhamos a missa de manhã, em que éramos responsáveis pelo coro, e à tarde rezávamos o terço em casa de um membro da comunidade. Dos terços seguiam-se sempre um lanche e longas horas de conversa que entre gargalhadas e partilhas muito profundas e emocionantes, faziam do terço um dos momentos mais marcantes da semana. À noite, tínhamos sempre uma oração, onde partilhávamos o dia e aproveitávamos para pedir forças.

Não posso falar do bairro sem mencionar 4 pessoas que são, sem dúvida, dos maiores exemplos de santidade que eu conheço: 4 irmãs Dominicanas do Rosário, que já estão no bairro há quarenta anos e que são verdadeiras amigas, sempre acolhedoras, cheias de vontade de nos ajudar e acima de tudo com uma fé espantosa!

O Centro Social 6 de Maio é uma IPSS – Instituição Particular de Solidariedade Social constituída em 1983 pelas Irmãs Missionárias Dominicanas do Rosário

Agora, passados quase 10 meses, olho para trás e percebo que a minha vida nunca mais vai ser a mesma! O testemunho de pessoas que eu olhava com algum preconceito, e toda a simplicidade, alegria e hospitalidade que vivi durante este período são coisas que me marcaram e são valores que levo para sempre no meu coração!

Realmente, a vida deve ser encarada como uma constante missão, quer seja em casa, na faculdade, ou, no meu caso, no bairro 6 de Maio, mas só saindo de si mesmo e entregando-se totalmente aos outros é que se é verdadeiramente feliz.

Manuel Cortes
Estudante Universitário
Movimento Apostólico de Schoenstatt

Bairro 6 de Maio, Freguesia da Damaia, Amadora

 

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