Não se vislumbram formas de obter meios que garantam uma vida digna, própria de uma sociedade que promove a justiça e a equidade. Muitos sentirão que o tempo que gastaram na formação académica foi perdido porque não vão conseguir encontrar emprego para as suas habilitações. O recurso à emigração revela-se para outros um caminho cheio de dificuldades. Por outro lado, muitos jovens entendem que Governantes e detentores do poder económico não levam a sério esta situação que afeta a juventude europeia e ameaça o seu futuro
Entre outras consequências, os jovens ficam vulneráveis às influências de grupos de extremistas políticos com a intenção de desestabilizar os fundamentos democráticos das nossas sociedades. Neste quadro, é importante apelar aos Líderes Europeus que privilegiem o investimento nos jovens. É necessário garantir-lhes educação, formação, segurança e bem-estar. Se isso não for feito, é natural que muitos jovens se envolvem em ações xenófobas e extremistas em quadro de exclusão social e intolerância, ao invés de lutarem por uma sociedade respeitadora dos direitos humanos.
O Papa Bento XVI na sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2012 – Educação dos Jovens para a Justiça e Paz – refere: «Nestes tempos sombrios a nossa esperança para o futuro está nos nossos jovens, cujo entusiasmo e idealismo pode oferecer uma nova esperança para o mundo». Mas o Papa não ignora, como é referido, a alienação e frustração experimentada por muitos jovens: «É importante que este mal-estar geral e seu idealismo subjacente recebam a devida atenção em todos os níveis da sociedade». Isto requer envolvimento das lideranças políticas, instituições financeiras, entidades patronais, Instituições de ensino, meios de comunicação, instituições de voluntariado, entre outros.
A educação (em sentido amplo) é de fundamental importância no combate ao racismo e extremismo político. E no que concerne à educação dos jovens há que ter em conta o seguinte:
a) A educação deve incluir valores. Os valores são tão importantes quanto o conhecimento. E deve-se ter presente que a dignidade da pessoa humana deve estar no centro de qualquer sistema de educação.
b) O Sistema de ensino deve preparar os jovens para viver numa sociedade globalizada e multicultural. A compreensão de culturas diferentes é um fator de enriquecimento e uma forma de quebrar o medo por aquele que é diferente. O próprio sistema de ensino deve proporcionar aos jovens experiências de inclusão e de multiculturalidade para que, para além de teoricamente adquirirem conhecimentos sobre estes temas, possam também vivê-los e experimentá-los. É adquirindo laços que ultrapassem as diferenças que os jovens podem abrir os seus horizontes da tolerância.
c) A educação é necessária para fomentar a participação e a cidadania. Ela pode ajudar a quebrar ciclos de pobreza e privação. Os sistemas de educação precisam
preparar os jovens para participar na sociedade, e que inclui, de modo particular, a vida política.
d) A educação tem que levar em conta os desafios específicos enfrentados pelos jovens hoje. Vivemos num mundo globalizado e marcado pelo desenvolvimento de tecnologias de comunicação muito desenvolvidas. E como lembrou o Papa Bento XVI na encíclica «Caritas in veritate» «Enquanto a sociedade se torna mais globalizada, faz-nos vizinhos mas não nos faz irmãos (e irmãs)». A educação tem que preparar os jovens para este mundo novo fornecendo-lhes instrumentos de análise que impeçam a manipulação de ideias e a despersonalização dos indivíduos.
A Comissão Nacional Justiça e Paz, focalizada nas situações que envolvem os jovens, e em uníssono com a Conferência das Comissões Justiça e Paz da Europa, faz alguns apelos:
– «Pedimos aos nossos líderes políticos para levar a sério a necessidade de reconstruir a confiança dos jovens no sistema político, protegendo o seu bem-estar presente e futuro, como parte integrante da estratégia de recuperação económica».
– «Chamamos os nossos Ministros da Educação para garantir que, mesmo em difíceis circunstâncias económicas, a promoção de oportunidades educacionais para todos os jovens continua a ser uma prioridade».
– «Sublinhamos que a educação precisa de ser mais que desempenho académico. Ela deve preparar os jovens para participar numa sociedade cada vez mais multicultural e capazes de atingir o seu pleno potencial através do desenvolvimento cultural pessoal».
– «Pedimos aos nossos jovens que as suas preocupações com o futuro impliquem uma participação ativa na sociedade, a busca de um conhecimento maior do sistema político e um esforço permanente em defesa da justiça e da paz.
Entende a Comissão Nacional Justiça e Paz que este conjunto de constatações, reflexões e apelos fazem todo o sentido na atual situação portuguesa. O desemprego juvenil atingiu números muito elevados. O emprego está sujeito à precariedade . As remunerações do 1º emprego são baixas e o sub-emprego foi-se generalizando. Estas situações, potencialmente perigosas, podem gerar sentimentos de exclusão e intolerância, que desencadeiam o racismo e o extremismo político. Em Portugal há sinais ténues desta realidade, mas igualmente preocupantes. É necessário tomar consciência e agir sobre as causas do mal-estar, e progressivamente tentar eliminá-las. A responsabilidade é de todos: governo, políticos, empresários, movimentos sindicais, homens e mulheres de cultura e participação social, religiões e igrejas, jovens, crentes e não crentes.