Responsáveis da Pastoral Juvenil debatem novos desafios à luz da antropologia cristã
Decorreram, no passado dia 15 de Outubro, em Fátima, as V Jornadas Nacionais da Pastoral Juvenil. Com cerca de uma centena de participantes, a iniciativa procurou reflectir sobre os desafios hoje colocados à pastoral juvenil pelas novas visões antropológicas e de família, tendo em conta as perspectivas e linhas de força sobre a pessoa humana lançadas pela tradição bíblica e pela teologia cristã.
Coube ao bispo de Lamego e biblista, D. António Couto, abrir a reflexão, tomando como ponto de partida o capítulo segundo do Livro de Daniel. Do inesperado sonho de Nabucodonosor, acontecido no contexto do cativeiro do povo de Israel da Babilónia, D. António Couto explorou os sentidos dos materiais associados à imagem referida no sonho (um homem com cabeça de ouro, peito de prata, ventre e pernas de bronze e ferro e os pés de barro) para mostrar a fragilidade da construção fundada em (contra)valores que fecham à relação, evocando sobretudo sentimentos de posse, de domínio, de poder, a busca incessante do ter e da satisfação do prazer imediato. A reconstrução da pessoa – na realidade, a sua conversão – foi proposta a partir dos sentimentos e atitudes associados pela tradição bíblica às diversas partes do corpo: a sensatez, a inteligência, a opção por ideais, um olhar límpido e atento ao bem, a escuta da Palavra, um coração sensível e atento, braços para levantar e acolher, entranhas de misericórdia, capazes de gerar vida, pés ágeis no anúncio e na alegria de amar. Relembrou, contudo, como esta construção não é nada se não é fundada em Deus, o primeiro grande construtor.
O padre, professor e médico, José Manuel Pereira de Almeida, diretor Nacional da Pastoral Social, trouxe o olhar da doutrina social da Igreja sobre a pessoa, que se descobre como ser de relação, com os outros e para os outros. Na perspectiva cristã, o eu exige o outro, e só se realiza no risco da vida entregue: só se vive plenamente quando se faz viver. O outro tem sempre um nome e é sempre um irmão. Face à radicalização do presente, o grande desafio é o do acolhimento, do respeito da pluralidade, do olhar o outro como igual, como irmão. Relembrou como a Doutrina Social da Igreja se funda na dignidade de toda a pessoa humana, afirmada como imagem de Deus e como ser em e para a comunhão.
A terceira intervenção foi proposta pelo Prof. Doutor Diogo da Costa Gonçalves, professor auxiliar na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. A sua intervenção centrou-se nos desafios lançados à visão antropológica cristã pelo que, na sequência de Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa de 2013, se designou como “ideologia de género”. As questões levantadas, como o conferencista demonstrou, revelam o emergir de novas concepções antropológicas concorrentes, a seu ver, com a cristã, ao questionar a associação tradicional entre sexo e género, as configurações do masculino e do feminino e, por consequência, a própria visão de família, de pessoa, dos processos educativos e do próprio ordenamento jurídico da família e do seu papel na sociedade.
Se corremos o risco de “ideologizar” o debate, enfraquecendo-o e desfigurando-o, o tema merece a atenção pelos problemas que levanta, desde a precisão dos conceitos envolvidos (natureza / construção cultural, género e papéis sociais, sexo / sexualidade…) ao discernimento entre o que em muitos movimentos são, na sua origem, aspirações legítimas (ou não) e questionamentos dos modelos de pessoa e de família.
D. Joaquim Mendes, bispo auxiliar de Lisboa e vogal da Comissão Episcopal Laicado e Família, presente no decurso de todos os trabalhos, lembrou a importância destas questões, em ordem à formação da consciência dos jovens, por ele evocada a propósito das palavras dirigidas pelo Papa Francisco aos bispos portuguesas na sua última visita ad limina.
O padre Eduardo Novo, diretor do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil, nas suas intervenções, evidenciou que a Igreja continua a olhar para os jovens com confiança e amor e o sínodo dos Bispos de 2018 é sinal disso mesmo. Os jovens são o presente e o futuro da sociedade e da vida da igreja e por isso é tão pertinente esta preocupação e necessidade de formação permanente, para que possamos compreender as sua inquietações e problemas e saibamos no diálogo, descobrir como falar de Deus aos jovens, que métodos, que linguagens.
No decurso das Jornadas, decorreu a apresentação oficial do DOCAT, o compêndio para os jovens sobre a Doutrina Social da Igreja, e neste contexto, foi comunicada a continuidade do projeto conjunto da Paulus e do DNPJ – o YOUthTRAVEL.
Foi também apresentado o itinerário catequético proposto pelo Departamento Nacional da Pastoral Juvenil para o ano 2017, baseado na figura de Maria como modelo do discipulado cristão, inserido no centenário das aparições de Fátima 2017, com vista ao jubileu dos jovens 2017.
Departamento Nacional da Pastoral Juvenil
Lisboa, 20 outubro 2016