12 e 13 de maio: PEREGRINAÇÃO INTERNACIONAL ANIVERSÁRIA

Em entrevista, D. Fouad Twal fala sobre a vinda a Fátima e sobre a peregrinação do Papa Francisco à Terra Santa, ambas em maio

2014-04-21

1 – Com que sentimento recebeu o convite para presidir à peregrinação de 12 e 13 de maio de 2014? 

Com uma grande alegria, por poder encontrar a Igreja Universal também em Portugal, por poder compartilhar com tantos fiéis de todo o mundo a beleza da catolicidade da nossa fé. É um feito extraordinário! Além disso, alegra-me poder encontrar a Virgem de Nazaré em Fátima, nesse lugar privilegiado que Ela elegeu para anunciar mensagens de salvação tão importantes. Com todos vós, em Fátima, sentir-me-ei em casa, porque onde está Maria a pessoa sente-se como que em casa: seguro, protegido, em paz.

2 – Será a sua primeira vinda a Fátima?

Há algum tempo atrás participei numa peregrinação de doentes a Fátima, organizada pelo Silenciosos Operários da Cruz. Foi uma bela viagem, cheia de graças celestiais para todos. Sem lugar para dúvidas, em Fátima experimenta-se a presença especial de Nossa Senhora. Ali, como em Nazaré, em Belém, em Jerusalém… e em todos os santuários marianos do mundo, Maria continua a irradiar a sua luz, o seu amor de Mãe, os seus ensinamentos…

3 – Trará consigo a Fátima alguma intenção especial de oração?

Virei apresentar a Nossa Senhora as súplicas dos seus filhos do Médio Oriente e as dos seus filhos de todo o mundo e, de um modo especial, pedir-lhe-ei pelas necessidades dos cristãos e de todos os habitantes da sua pátria: a Terra Santa. A todos vos peço para que rezem pela Terra de Jesus e de Maria. 

Venho também para dar testemunho junto de todos vós sobre a importância, a centralidade, da devoção mariana na vida de cada cristão e incentivar-vos a continuar a confiar na força de tão boa e poderosa Mãe. Fátima é um sinal incontestável do poder de Maria na história da humanidade. Sem Fátima, mesmo estes nossos dias não se entenderiam bem.

4 – Também prepara alguma mensagem para deixar aos peregrinos que de todo o mundo aqui estarão a ouvi-lo? 

Entre os apelos da Virgem em Fátima, como bem conheceis, está o apelo à conversão, ao arrependimento e à confissão dos pecados, ao oferecimento voluntário de todos os nossos sofrimentos para a glória de Deus e para a salvação das almas. Daí que Fátima seja uma repetição fiel e histórica do que aconteceu em Caná da Galileia.

A Virgem Maria em Fátima queria, como em Caná, intervir em favor da humanidade. Em Fátima, como em Caná, indicou o caminho da salvação: Fazei tudo o que Ele vos disser! (Jo 2, 1-11). Devemos fazer o que Jesus nos disse. Esse é o modo de dar glória ao Pai e de obter as graças de que o mundo, tão ferido, necessita de maneira urgentíssima.

Se Nossa Senhora quis aparecer em Fátima e chamar-nos à conversão é porque o mundo está em perigo. E não apenas materialmente, mas no aspeto principal: os homens e as mulheres do mundo, todos e cada um dos habitantes do planeta Terra, estão em perigo de condenação eterna. Se excluem esse aspeto da mensagem de Fátima, a aparição e as mensagens de Nossa Senhora não terão significado.

Também gostaria de dizer aos peregrinos que vão a Fátima que estão convidados a completarem a sua peregrinação com uma visita à Terra Santa. Para encontrarem, mais uma vez, a Igreja Mãe de Jerusalém, aquela que acolhe todos os filhos de Deus espalhados por todo o mundo. Vinde todos à Terra Santa, é a vossa casa, a casa da vossa Mãe! Encontrareis também em Beit Sahur – na zona do Campo dos Pastores, onde os anjos anunciaram a primeira “Glória” – a paróquia católica de Nossa Senhora de Fátima, construída para honrar a nossa Mãe e seu relacionamento com os humildes do povo de Deus.

Desejo também chamar todos os cristãos do mundo e todos os bispos a sentirem-se corresponsáveis pela comunidade cristã da Terra Santa e por todo o Médio Oriente, pela sua existência e pelo seu futuro. 

Os cristãos do Médio Oriente são uma riqueza para a Igreja Universal e, por isso, todos nós devemos procurar estar junto destes irmãos que, apesar de serem uma minoria absoluta, dão testemunho do amor de Jesus no meio de povos e de culturas muito diversas.

5 – Centremo-nos então agora no Médio Oriente. O que representará para a Igreja do Médio Oriente a prevista deslocação do Papa Francisco à Terra Santa, em final de maio? 

Como sabeis, o Papa Francisco, dentro de poucos dias (24 a 26 de maio), irá como peregrino à Jordânia, à Palestina e a Israel.

É uma visita muito importante: é Pedro vem confirmar a nossa fé! Ali encontrará o pequeno rebanho de Cristo presente na região. Que pena que a visita do Papa Francisco seja breve, mas esperamos que regresse em outra ocasião para também visitar Nazaré e a Galileia.

O Papa vem também como peregrino da paz e da unidade. Por isso, tem dado grande importância à reunião com o Patriarca Ortodoxo, na Basílica do Santo Sepulcro, e aos encontros com os representantes das comunidades muçulmana, judaica e drusa.

Rezai em Fátima pelo Papa e oferecei sacrifícios por ele. Fátima está intimamente ligada à missão universal do “bispo vestido de branco”.

6 – Tem mostrado publicamente o seu desejo de que, ainda antes da chegada do Papa Francisco, sejam dados passos concretos, realizadas ações visíveis, em favor da Paz na Terra Santa, tendo em conta  a dimensão espiritual desta terra. Pode sublinhar alguns gestos que gostaria de ver concretizados?

Na Terra Santa há muitos muros que separam as famílias, as paróquias, a terra; mas piores do que os muros de betão são as paredes do coração do homem: as injustiças inveteradas; o ódio racial e religioso; a ambição e o egoísmo feitos lei; a desconfiança, a força bruta e a arrogância em todos os lugares… Sim! Os muros do coração são invisíveis, mas são piores do que os visíveis. Temos que trabalhar para que todos esses muros caiam. E também devemos voltarmo-nos para a oração. Para pedir Aquele que com o seu corpo destruiu a barreira entre os homens (Ef 2, 14), para que nos dê a graça de derrubar os muros que nos separam.

Rezemos pela justiça e trabalhemos, cada um no seu âmbito, para a obter, já que a justiça é o fundamento da paz; uma paz justa e duradoura. Sem justiça, ninguém, seja da religião ou da nação que for, poderá desfrutar de uma paz verdadeira.

Pedimos a liberdade total de acesso aos locais sagrados para todos os crentes das diferentes comunidades. Também pedimos a liberdade para que as famílias, aquelas que vivem separadas pelo muro, possam encontrar-se com os seus.

7 – Como se vive no Médio Oriente, num lugar ciclicamente ora em guerra ora em paz?

O Médio Oriente está em chamas. O que fazer? Em quem confiar? A quem recorrer? A Cristo. Porque Ele não falha, não pode falhar. Por isso Ele disse: “Não se perturbe o coração. Credes em Deus, crede também em mim” (Jo 14, 1); “Não tenhais medo” (Jo 16, 33); “Estarei sempre convosco até ao fim dos tempos” (Mt 28, 20).

São muito atuais os apelos deixados por Maria em Fátima. E o mundo, em perigo de perdição, não encontrará a paz nem a graça se não se esforçar por colocar em prática o que Nossa Senhora pediu: conversão, oração, sacrifício, reparação… Rezemos o Terço todos os dias para a salvação e pela paz do mundo!

8- Que outra reflexão ou apelos gostaria de deixar neste momento, para o bem da Igreja e pela paz no Mundo?

Gostaria de pedir-vos para que rezeis de maneira particular pela família. Como sabeis, este ano o Sínodo dos Bispos, em outubro, convocado pelo Papa Francisco, tem como tema: “Desafios Pastorais da Família no contexto da evangelização”.

Pensemos, então, na unidade da família. Da família internacional – composta pelas nações e povos do mundo –; e também na família eclesial – na bela diversidade das suas vocações –, mas, acima de tudo, pensemos e trabalhemos pela família humana. Por aquela que o Criador instituiu para ser a base e o fundamento da sociedade, na família baseada sobre o matrimónio indissolúvel entre um homem e uma mulher, a família criada para ser fonte de amor mútuo e de generosa fecundidade.

Parece que atualmente se querem impor modelos de famílias chamados alternativos… É um desatino, uma temeridade, mais ainda, uma atrocidade. Enquanto não houver uma família sã, a sociedade não será sã.

Rezemos pelos frutos do Sínodo e por todas as famílias do mundo, para que todos possam experimentar o amor de Deus, que se manifesta no seio dos lares. Peçamos também por aqueles que, desgraçadamente, por distintas razões, sofrem nas suas realidades familiares. Para que nunca percam a fé em Deus e a esperança sobrenatural.

9 – A finalizar, qual o seu principal desejo para esta peregrinação a Fátima?

Finalmente, desejo a todos que esta peregrinação divida em duas partes a existência individual: a vida antes e a vida depois da peregrinação. Para que, apesar de todos os pesares, todos e cada um de nós, depois de visitar Nossa Senhora, regressemos aos nossos lares rejuvenescidos na fé e na caridade, mais serenos e alegres, mais enamorados do Senhor Jesus, da sua Mãe Santíssima e da Igreja.

Entrevista conduzida por LeopolDina Reis Simões, assessora de imprensa do Santuário de Fátima

Share
Share