Pedro Hasse Ferreira

A minha conversão foi “aos bocadinhos” como acho que acabam por ser todas… mas ter conhecido Deus tão tarde deu-me a oportunidade de rezar sobre isso e de me aperceber que era o que ia acontecendo. Conto então algumas histórias das coisas que Ele me foi mostrando e em que me foi moldando e convertendo.

“Coitadinhos dos católicos… acreditam em Deus…”, devia ser esta a frase que mais me passava pela cabeça desde que me lembro de conviver com a concepção de religião.

Estudei num colégio de irmãs Salesianas do 5º ao 9º ano e tinha vários amigos católicos, mas para mim, a simples ideia de acreditar em Deus era literalmente sinónimo de falta de inteligência. O que só era confirmado por todas as discussões teológicas que ganhava a esses meus amigos.

Isto porque parte das pessoas que não acredita em Deus, sente-se tão incomodada com essa realidade que geralmente procura conhecer mais sobre a fé Cristã e a Bíblia do que os próprios Cristãos – eu fazia parte desse grupo. Ainda assim, nunca me esqueci do argumento que os meus amigos usavam sempre nessas discussões: “tudo e que lês e sabes sobre Deus e Jesus, nunca o poderás entender verdadeiramente, sem a experiência de viver a fé”. Nenhum argumento me poderia parecer mais falacioso e sem sentido do que este… pelo menos até O ter conhecido.

No fim do meu 10º ano, com 15 anos, propus-me fazer um trabalho para Filosofia com três amigos católicos. Era a oportunidade perfeita para passar esses três para o meu lado! O tema era “Religião: Fé ou Aceitação Social”, e decidimos entrevistar um padre, o Prior da Paróquia do Estoril na altura.

Obviamente quis ser eu a preparar e conduzir a entrevista! Mas ao sair daquele encontro, naquela tarde, só conseguia pensar que acreditava exactamente em tudo o que aquele homem tinha dito! E por isso só havia duas hipóteses, ou ele andava enganado, ou eu andava há anos a evitar chamar Deus ao que era de facto Deus.

Ponderei ir à Missa… mas o que é que as pessoas iam pensar? Quem me conhecia, conhecia também as minhas posições ateístas. Desabafei esta inquietação com os meus amigos, que me reponderam simplesmente que ser católico era exactamente o oposto disso! Era pensar “ainda bem que ele veio!”.

Depois de ter ido alguns Domingos à Eucaristia, Deus fez-me perceber que era mesmo por ali. Mandei uma mensagem ao Padre António, o pároco que tinha entrevistado há umas semanas, a pedir-lhe para ser baptizado – recebi esse Sacramento na Páscoa do ano seguinte, e hoje tenho o Padre António como meu padrinho de Crisma.

Logo após a minha conversão (que aconteceu por volta de Maio) fiz um campo de férias no Verão (Carrações), como animador. Fui para lá sabendo que Deus existia, mas todo o resto para mim era uma idiotice… de Deus existir até acreditar que Ele criou o mundo vai um bom bocado!

Nesse campo percebi, rezando, que tudo aquilo em que eu tinha acreditado toda a minha vida (a ciência) não deixava de fazer sentido só por causa de Deus, pelo contrário! As duas coisas não se anulavam, mas completavam-se – Deus criou de facto o mundo, através do Big Bang e de toda a evolução, porque isso aconteceu de acordo com a Sua vontade. Tinha percebido o que Louis Pasteur quis dizer com a frase “um pouco de ciência afasta-nos de Deus. Muita aproxima-nos!”.

Para além disso, mal sabia eu que estava ali, naquele campo de férias, a conhecer a mulher que Deus escolheu para, hoje em dia, termos um namoro e um projecto de vida juntos e com Ele também.

Então aqui já acreditava em Deus e no Seu poder criador, mas não cabia na minha cabeça como é que algum homem poderia querer, por vontade própria, abdicar de ter família, mulher, filhos, etc. Para mim, alguém querer ir para padre era quase sinónimo de insanidade.

Em Outubro desse mesmo ano (por isso antes sequer de ser baptizado) fui desafiado para ir fazer a minha primeira peregrinação a Fátima, peregrinação organizada pelo Coro da tia Pipos.

Não sei bem como, nem porquê mas nessa peregrinação comecei a pensar se de facto o meu caminho não seria o sacerdócio… mas tirava sempre essa ideia da minha cabeça, fosse o meu caminho ou não, não era uma coisa que eu quisesse de certeza, ainda por cima tinha namorada na altura!

Vai então um Padre espanhol falar-nos numa das noites… só me lembro dele dizer o seguinte: “Nós muitas vezes achamos que a nossa vida é como um cheque. Escrevemos tudo o que queremos (casa, carro, família, etc) e entregamos a Deus para Ele assinar! Mas é ao contrário! Deus tem um cheque para nós, com o que nós trará a verdadeira felicidade, mesmo que não o consigamos ver no imediato, e nós somos livres de aceitar esse cheque ou não…” – só podiam estar a brincar comigo… eu a rezar sobre a minha vocação e aparece-me um padre a dizer isto… mas voltei a fingir que não era comigo.

Na última manhã da peregrinação, a equipa do pequeno-almoço decidiu levar ao saco-de-cama de cada um dos peregrinos, um saco com a refeição e com um papelinho lá dentro com uma mensagem de Deus para cada um, distribuído “ao calhas” (ou melhor, como conviesse ao Espírito Santo). O meu papel dizia algo do género: “Não tenhas medo e segue-me”…

Só depois de muito rezar é que percebi que o que Deus queria. Não era que eu fosse para Padre mas sim fazer-me perceber o que esses homens sentiam, para que mais uma vez, eu me convertesse em mais um ponto.

O que marcou novamente a minha vida foi a minha namorada, na altura, acabar comigo passado 2 anos e 4 meses de relação… e eu fiquei perdido…

Ainda por cima deixei de ver Deus, de O sentir… eu era um mimado por Ele, todos os sinais que pedia, tudo o que rezava, eu via concretizar-se à minha frente! E naquela altura que eu tanto precisava dEle, parecia que me tinha abandonado.

Mais tarde percebi que só assim pude começar a ter fé… porque se de facto tinha precisado de todos esses sinais na minha vida, era porque ainda O estava a conhecer, e Ele sabia que sem isso eu desistiria… mas tinha chegado a altura de acreditar sem ver! Mesmo assim ainda precisei de um “miminho” dEle para perceber isso…

Naquela altura deixei de ir à missa… estava chateado com Deus! Estive uns dois meses assim… desligado. Até que uma noite, estava deitado a chorar de desespero e frustração! E adormeci a dizer a Deus que ou Ele fazia alguma coisa rápido ou eu desistia mesmo de toda a minha vida com Ele! Era eu cá em baixo e Ele lá em cima, e cada um seguia a sua vida! (Como se Deus se intimidasse pelas minhas ameaças… mas deve ter tido compaixão de mim) No dia a seguir acordei com o meu telemóvel a tocar.
– “Estou? Pedro? É a tia Carmo Diniz, o Pedro não me deve conhecer mas era para convidá-lo para ser monitor do Milonga Estremoz”.

O Milonga é um campo de férias católico, e era obviamente a resposta de Deus ao que se passava na minha vida, o caminho que Ele queria que eu seguisse! Mas tinha acabado de arranjar trabalho, fora os estudos, e não me iam dar férias de certeza no meio de Agosto… e não deram… (inicialmente) mas confiei nEle e mesmo quando achei que me ia ter de despedir para puder animar o campo, disseram-me que afinal podia ir!

E bem que precisei desse trabalho nestes últimos anos… mas Ele tinha tudo pensado, era só eu dizer que “Sim!”

Tentei pautar a minha vida até hoje por essa confiança nos caminhos dEle, dizendo que “Sim!” – aos dois campos de férias que animo (Milonga e Pegadas), a dar catequese, às Equipas de Jovens de Nossa Senhora, à Missão País, às Missões Familiares com a família da minha namorada…

E tantos outros pequenos “Sim’s” que Ele me foi pedindo…

Um dos últimos? Despedir-me da loja em que trabalho há 2 anos e pouco para continuar a estudar e ter tempo para todos estes projectos dEle – 3 dias depois numa noite de oração, ainda preocupado se tinha sido a melhor decisão pelo peso financeiro que recairia nos meus pais, tirei um papel de um pote com mensagens, com a mensagem de Deus para nós naquele momento segundo o próprio Padre a conduzir a noite de oração, e dizia “Não podereis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16, 13).

Hoje em dia sinto-me capaz de acreditar sem ver! Porque também nisso Ele me converteu! Obviamente que fico muito feliz quando Ele me “mima” com alguma Palavra ou sinal, mas a minha fé depende dEle e não disso… e sei que ainda em muitas coisas Ele me há-de converter, e outras em que já está a fazê-lo. Espero estar aberto a todas essas conversões para que possa um dia ser Santo.

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