O padre José André Ferreira, da Sociedade de São Paulo, representou a Paulus Editora na equipa que preparou o «DOCAT – Como agir?». Na véspera do Dia Mundial do Livro (23 abril) falou sobre a obra lançada na Jornada Mundial da Juventude 2016 em Cracóvia.

O livro da coleção YOUCAT dedicado à Doutrina Social da Igreja (DSI) responde a 328 questões e é dividida em 12 capítulos, cada um deles abordando um tema diferente, numa “linguagem jovem, acessível e dinâmica”.

O DOCAT tem também uma app para smartphones, que inclui um “quiz” e a Paulus Editora lançou também uma nova temporada de vídeo ‘Minuto YOUCAT’ sobre a DSI.

DNPJ: O que é o DOCAT? A quem se destina?

Padre José André Ferreira: De um modo muito geral, podemos afirmar que o DOCAT é um pequeno e atrativo compêndio da Doutrina Social da Igreja. A Doutrina Social da Igreja congrega os ensinamentos do Magistério sobre tudo aquilo que implica a presença do Homem na sociedade e no Mundo.

Como todos os projetos da Fundação YOUCAT, os primeiros destinatários são os jovens. Ainda que de modo mais alargado, estamos convictos de que o DOCAT se destina a todos quantos tenham desejos de agir no Mundo para transformá-lo pela força do Evangelho.

DNPJ: Como é que o DOCAT vai ajudar os jovens a entender a Doutrina Social da Igreja e a pô-la em prática, a agir?

Padre José André Ferreira: A Doutrina Social da Igreja, de uma maneira geral, não é muito conhecida, isto é, não se conhecem profundamente os vários documentos do Magistério que abordam os temas sociais. Neste sentido, o DOCAT oferece aos jovens a possibilidade de conhecerem a DSI aplicada a temas concretos.

Se os jovens quiserem saber quais são os pressupostos da DSI sobre o trabalho humano eles estão todos elencados de um modo sistemático. Conhecendo a DSI por temas, os jovens terão a capacidade de agir em consequência. Afinal, trata-se, nada mais, nada menos, do Evangelho em movimento.

DNPJ: O livro da Fundação YOUCAT responde à pergunta “como agir”. É difícil os jovens saberem como agir na sociedade/cultura atual?

Padre José André Ferreira: Não tenho uma visão crítica sobre o modo de agir dos nossos jovens. De um modo geral, os jovens comprometidos com a fé da Igreja agem em consequência. Evidentemente que o DOCAT ajudá-los-á a compreender as razões do seu agir. Todos nós procuramos as razões do nosso agir.

DNPJ: Quais os pontos da Doutrina Social da Igreja que têm mais urgência de aplicação na sociedade?

Padre José André Ferreira: A Doutrina Social da Igreja é essencial ao Mundo e à sociedade de hoje, a começar pelos seus princípios: a dignidade da pessoa, o bem comum, a subsidiariedade e a solidariedade.

No entanto, estou convencido de que o primordial é que tenhamos jovens que sejam incapazes de passar diante das necessidades da Humanidade, que são inúmeras, sem agir.

DNPJ: O DOCAT está dividido por temas: família, trabalho, vida económica, política, comunidade internacional, paz e proteção do meio ambiente. Quais são os que estão mais próximos dos jovens, e porquê?

Padre José André Ferreira: Estou convicto de que os temas mais próximos aos jovens são aqueles que podem representar uma certa fratura com a cultura vigente. São aqueles temas que mais os inquietam que podem estar mais próximos deles.

Ainda assim, arrogo-me ao direito de dizer que o tema mais urgente será o da família. Se não tivermos famílias estruturadas a sociedade ressentir-se-á de forma irremediável, e talvez já estejamos a sentir alguns desses efeitos…

DNPJ: Como lê a frase do Papa «um cristão que não seja revolucionário neste tempo, não é cristão»?

Padre José André Ferreira: O Evangelho é a grande revolução para a Humanidade de todos os tempos. A boa notícia de Jesus Cristo aos Homens: o morrer de amor pelos homens, seus irmãos! Enquanto este não for o modo de viver dos Homens, cada cristão, que viva em coerência, será de forma irremediável um revolucionário, movido pela necessidade de transformar o Mundo através do amor.

O amor, não como o vive o Mundo, segundo a conceção de São João, mas o amor como viveu Jesus.

DNPJ: O prefácio do Papa Francisco tem uma mensagem forte e incentiva à ação. O que destaca das suas palavras? O carisma do pontífice argentino torna mais fácil a adesão dos jovens a mudarem o Mundo pela DSI?

Padre José André Ferreira: As palavras do Papa Francisco são sempre desafiadoras e desinstaladoras e por isso é muito difícil destacar algo do prefácio, que é, todo ele, um desafio à ação.

Creio que, além das palavras de Francisco, os jovens sentem-se muito atraídos pela sua forma de estar e pelo seu exemplo. As palavras e o exemplo do Santo Padre são o que mais interpela os jovens a mudarem o Mundo e a Igreja, como ele pede: «Trabalhai para que esta Igreja se transforme, para que seja viva, porque se deixa interpelar pelos gritos dos desprovidos de direitos, pelos clamores dos que sofrem todo o tipo de necessidade e daqueles pelos quais ninguém se interessa.»

Foto: Família Cristã
Padre José André Ferreira

DNPJ: A Doutrina Social da Igreja para jovens também está na internet, nas redes sociais, tem uma aplicação. Qual a importância destas ferramentas para a divulgação e para o estudo da DSI? Que outras mais-valias tem a aplicação?

Padre José André Ferreira: Inicialmente, a mais-valia seria a possibilidade de usar as mesmas linguagens que os jovens usam. Por outro lado, esta aplicação prevê a interação, através de um questionário, e a disseminação da informação. Previa-se, no princípio, que o aplicativo permitisse convidar outros amigos a usufruir da aplicação.

No entanto, devo reconhecer, pelos primeiros dados, desde logo nas JMJ, que não foram muito animadores. Os jovens que descarregaram o aplicativo não superaram as expectativas. Na Europa, os jovens ainda valorizam a experiência do livro.

DNPJ: O formato pergunta-resposta torna a leitura mais fácil e acessível. Os jovens podem encontrar mais rapidamente as respostas às suas questões?

Padre José André Ferreira: Este formato é imersivo. A grande maioria destas questões é formulada pelos jovens. Assim sendo, quando o jovem lê a pergunta, que ele também poderia formular, e tem de imediato a possibilidade de resposta, sente-se mais atraído pela leitura.

Este formato permite uma espécie de diálogo entre o leitor e o livro.

DNPJ: O que destaca da publicação da coleção YOUCAT?

Padre José André Ferreira: Destaco a origem. Este projeto fascina-me porque nasce da vontade dos próprios jovens; nasce das questões que eles não têm medo de colocar e da ousadia na busca de respostas.

Todos os projetos da Fundação YOUCAT nasceram da vontade dos jovens que se entendem como construtores de um novo mundo, não apenas pela repetição de ideias feitas ou contrapondo-se a elas, mas criando soluções!

DNPJ: Já realizaram um sunset, quais são as próximas ações da PAULUS Editora para divulgar e dar a conhecer o DOCAT entre os jovens portugueses?

Padre José André Ferreira: Claro que a PAULUS não deixou de apostar em eventos de promoção do DOCAT, seja através de campanhas de divulgação da obra ou através de ações de formação.

No entanto, temos a clara consciência de que o projeto deixou de ser totalmente nosso, agora é da Igreja em Portugal e a PAULUS quer apoiar as iniciativas que os jovens desta porção da Igreja dinamizarem.

DNPJ: Como foi trabalhar na equipa internacional que preparou o livro? O que recorda?

Padre José André Ferreira: Foi uma bela e intensa experiência. Na altura apenas tinha recebido o primeiro grau da Ordem, o diaconado, estava chamado a servir e senti-me a servir a Igreja daquela forma! Mas o que mais recordo foram as conversas que tive sobre o “pequeno livro amarelo”, como o chamavam, referindo-se ainda ao YOUCAT.

Alguns dos jovens com quem me cruzei narravam experiências muito fortes no primeiro contacto com aquele livro. Diziam eles: «nós encontrámos as respostas às perguntas que nos inquietavam, e isso intensificou o meu sentido de pertença à Igreja».

Foto: Missão Press
Apresentação do DOCAT: Mariana Alvim, D. Manuel Linda e padre José Carlos Nunes

 

 

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