Comissão Episcopal do Laicado e Família
31 de maio de 2019

Encerramos o mês de maio com o Dia dos Irmãos. Um dia para agradecer os laços que nos unem aos nossos irmãos e irmãs. Uma forma de celebrar os mais próximos, aqueles com quem crescemos em família.  

Que bem nos fazem os relacionamentos verdadeiramente fraternos construídos na vida em comum, nas aventuras, nas descobertas, na solidariedade, na proximidade, na cumplicidade, na diversidade, na entreajuda, na cooperação e divisão de tarefas, na alegria e na tristeza, nas emoções boas e más, na tolerância, na reconciliação, nas raízes e na memória.

É fundamental conservar e cuidar dos nossos laços fraternos, sobretudo quando surgem e se prolongam conflitos e desavenças. Neste capítulo, o convívio de irmãos pode ser o espaço onde se vai descobrindo como Deus também nos fala através do erro e do fracasso. Isto pode acontecer na família, como no mundo onde vivemos e trabalhamos.

É oportuno evocar a passagem bíblica do reencontro de José com os seus irmãos no Egipto: “Não se aflijam nem tenham remorsos por me terem vendido para aqui, porque foi Deus que me enviou à vossa frente para podermos sobreviver”. E conclui, afirmando de novo: “Não foram, portanto, vocês que me mandaram para aqui; foi Deus que me enviou” (Gn 45, 5-8).

Estamos perante uma obra-prima da arte da reconciliação depois de feridas profundas. Para curar a fraternidade traída não existem outras palavras. São precisas palavras que olhem para o passado de um modo diferente; que o amem e salvem.

Para curar em profundidade uma grande traição ou ofensa, é imperioso descobrir uma leitura dos factos que evidencie o bem que nasceu do mal. Estas leituras, que só as vítimas – com o auxílio imprescindível da Graça de Deus – as podem fazer, não são nem simples nem indolores; é preciso que sejam verdadeiras e não inventadas; é necessário muito esforço-amor para descobrir uma verdade mais profunda do que a que vemos diante dos olhos.

Sem tal interpretação transformante, que tem a força de ressuscitar relações mortas e de dar a força para reatar a amizade, a reconciliação é frágil; à primeira crise regressam a revindicação, a acusação recíproca, o sentimento de culpa; e a antiga ferida sangra de novo.

A história de José diz-nos algo sempre novo e importante: a Palavra é capaz de recriar até as nossas relações despedaçadas, fazê-las ressurgir dos sepulcros-poço em que o nosso egoísmo e orgulho insiste em lançá-las.

É possível curar com a Palavra a nossa fraternidade ferida, buscando interpretações de história que a ressuscitem. É possível até uma fraternidade diferente, mais profunda e universal que a do sangue; é o dom maior que José continua a oferecer-nos.

Se a Bíblia pôs no centro da história da Aliança e da Promessa uma fraternidade que morreu e ressuscitou, é porque o milagre da tentativa de um fratricídio que se transforma em nova fraternidade é possível, faz parte do repertório das coisas humanas. Pode repetir-se sempre e em toda a parte; aqui e agora também, em cada família.

Que, sob o olhar e a bênção de Maria, o Dia dos Irmãos seja uma calorosa celebração familiar!

Comissão Episcopal do Laicado e Família
31 de maio de 2019
(http://leigos.pt)

 

(Foto Mabel Amber)

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