Frei Miguel Grilo
Franciscano Capuchinho
Paz e Bem!
Esta 4ªFeira de Cinzas [10 fevereiro], na Basílica de São Pedro, fui enviado pelo Papa Francisco, com mais 1070 sacerdotes, como Missionário da Misericórdia.
Pode parecer algo óbvio, já que todos somos, de certo modo, missionários e chamados a ser misericordiosos para com o nosso próximo. No entanto, este envio tem uma acentuação peculiar…
É vontade do Papa Francisco que os Missionários da Misericórdia, através do Sacramento da Reconciliação, sejam sinal visível da infinita Misericórdia de Deus para com cada um de Seus filhos. Na verdade, o Papa Francisco pretende sublinhar o infinito amor que Deus tem para com cada um de nós, em contraposição ao ‘deus castigador e implacável’ que muitas vezes idealizamos. Se soubéssemos o quanto Deus nos ama…
Assim sendo, espalhados pelos quatro cantos do mundo, assumimos a missão de acolher com misericórdia, de modo especial aqueles que, por diversos motivos, se afastaram de Deus e/ou não acreditam que Deus os acolha de braços e coração abertos. Esta missão tem ainda a peculiaridade de que o Papa Francisco concedeu aos Missionários enviados a faculdade de confessar inclusive alguns dos pecados reservados à Santa Sé ([1]).
No meu caso concreto, visto que me encontro dividido entre os estudos em Roma e a pastoral em Lisboa, acabo por ter dois campos de acção bastante distintos: Entre a comunidade fraterna onde estou inserido (com mais de 100 frades), bem como algumas actividades pastorais nos arredores de Roma e a Paróquia do Calhariz de Benfica, em Lisboa, onde nas interrupções escolares vou prestando apoio.
Além disso, todos os Missionários devem estar disponíveis para socorrer às necessidades que as respectivas dioceses possam ter.
Frei Manuel Arantes (Fátima); Frei Miguel (Roma/Lisboa); Frei Luís Gonçalves (Barcelos) e Frei Maximilian (Timor)
DNPJ: “A vossa tradição, é uma tradição de perdão, de dar o perdão. E entre vocês há tão bons confessores”, disse o Papa Francisco aos Capuchinhos, no dia 09 de fevereiro, na Basílica de S. Pedro. Como é que esta tradição e vocação se relaciona com a missão de Missionário da Misericórdia?
Frei Miguel Grilo: Como Franciscano Capuchinho, acabo por ter uma responsabilidade acrescida, já que muitos dos nossos santos se destacaram pela sua extraordinária misericórdia no confessionário. Basta ter presente que São Leopoldo Mandic e São Pio de Pietrelcina foram escolhidos pelo Papa Francisco como modelos a seguir. Foi muito comovente ver a multidão de fiéis que acorreram a Roma para venerar estes dois grandes santos.
Ao mesmo tempo, foi também uma provocação, no sentido em que me desafiam a ir e a fazer o mesmo. Estes dois santos passavam horas infindáveis no confessionário… e é belíssimo o exemplo de São Leopoldo, quando dizia: “Se no céu Deus me acusar de ter sido demasiado misericordioso, direi que a culpa é d’Ele, pois foi d’Ele que tirei o exemplo”.
De facto, a fasquia é para nós hoje bastante elevada…
DNPJ: Foste ordenado sacerdote em 2015 e és o padre mais novo na e da Província Portuguesa da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. Como é vivida esta nova responsabilidade e missão pedida no contexto do Jubileu? Foste tu que te ofereceste?
Frei Miguel Grilo: Em primeiro lugar devo salientar que a minha vocação capuchinha começou a ganhar forma quando conheci a vida e a espiritualidade de São Pio de Pietrelcina. Tocou-me profundamente…
Daí que, quando tive conhecimento desta iniciativa do Santo Padre, e apresentando ele como modelo este santo que tanto me tocou, imediatamente me disponibilizei para fazer parte deste grupo de Missionários da Misericórdia. Não que eu me considere melhor que qualquer outro sacerdote… mas porque nesta iniciativa revejo o fundamento daquilo que pretendo que seja toda a minha vida enquanto frade menor e enquanto sacerdote.
Se conseguirei ser um fiel sinal da Misericórdia de Deus? Na verdade, Deus não costuma escolher os mais capacitados, mas capacitar os que são fracos e débeis, a fim de manifestar por meio deles, neste caso de mim, as Suas grandes obras, de modo a que todos vejam que quem age é Deus e não eu. O que é preciso é confiar!
Frei Miguel Grilo
Franciscano Capuchinho
[1] Ou seja: a profanação das espécies eucarísticas, violência física contra o Papa, absolvição do cúmplice no pecado contra o 6.º Mandamento e a violação directa do sigilo sacramental.