Padre António Lopes
Diretor das Obras Missionárias Pontifícias

“Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou no mundo” (EG 273). O papa Francisco diz: Eu sou missão. O acento é colocado no SER e não no TER.

Quando dizemos: tenho uma missão, isso confina-nos a um espaço e a um tempo limitados. Um mês, dois, três, um ano, ou mais. É isso que fazem, por exemplo, as Forças Armadas, algumas ONG, algumas pessoas envolvidas em voluntariado social e até voluntariado missionário. Mas quando acentuamos: Eu sou missão, já não há limites de tempo nem de espaço: sou sempre!

Ser missão, é o reafirmar que a vida é vocação, mais ainda, um sonho a realizar. É entender e viver a vida com criatividade à imagem de Deus criador que colocou nas nossas mãos o cuidado deste mundo e a realização do seu maravilhoso plano de salvação.

Sabendo-nos “uma missão” vivemos o presente com paixão. É isso que ainda hoje muitos missionários vivem: apaixonados por Cristo e pelas pessoas. Ao ponto de abandonarem as seguranças para se lançarem em âmbitos arriscados de missão, tentando chegar às mais afastadas fronteiras do ser humano e devolver a muitos a própria dignidade. Com paixão, entregam com generosidade a própria vida para proteger e cuidar outras vidas ameaçadas por causa da injustiça.

Outros mantêm a mesma paixão em missões mais comuns, de menos risco imediato, mas não mais fáceis por causa do escasso acolhimento e dos muitos obstáculos e dificuldades com que se enfrentam diariamente. Uns e outros evangelizam com o testemunho da sua vida apaixonada por Jesus Cristo e de um serviço generoso que irradia a luz do Evangelho.

O ser missão é sentir-se amado, chamado, convocado por Jesus para viver com ele e incorporar-se na sua missão: “Vinde comigo…” (Mc 1, 17) “Ide pelo mundo inteiro…” (Mc 16, 15). O chamamento de Jesus dá tudo e pede tudo. E a resposta tem de ser também de totalidade: amor apaixonado por ele e pela sua missão. É esta a “gramática da fé”: Com Jesus vive-se a experiência de ter encontrado o tesouro escondido, a rocha firme, o caminho, a verdade e a vida.

Por isso o missionário está chamado a viver em e desde esse centro integrador que é Jesus. Centro afectivo e efetivo, capaz de preencher as mais profundas aspirações do ser humano e de motivar, impulsionar e alargar o próprio coração para sair de si e ir ao encontro dos outros. É a “cultura do encontro”. Deixar-se encontrar pelo Senhor e converter-se em lugar de encontro da humanidade. Somos chamados a caminhar ao lado do outro, compreendendo-o e, ao mesmo tempo, animando a sua própria procura de Deus.

Se alguma coisa deve inquietar-nos e preocupar-nos é que tantos irmãos nossos vivam sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os sustenha, sem um horizonte e sentido de vida. Na base de todo o processo de ajuda tem de estar sempre a escuta. Escutar é um modo de amar. É acolher a pessoa tal como é, como o maior respeito o que requer fazer silêncio interior para facilitar a expressão de quem precisa ajuda. Escutar implica estimular o desejo de procurar a vontade de Deus (EG 171).

“Jovens, não deixeis que vos roubem o sonho de uma verdadeira missão, de um seguimento de Jesus que implique o dom total de vós mesmos”. Que a vossa missão seja o que o amor não pode calar, uma vida que transparenta a alegria e a beleza de viver o Evangelho e de seguir Jesus Cristo. Não tenhas medo de gritar bem alto: Eu SOU Missão!

Padre António Lopes
Diretor das Obras Missionárias Pontifícias

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