O título da mensagem do Papa Francisco para a Quaresma parece dar razão a estes comentários que tantas vezes molestam o meu aparelho auditivo. Onde já se viu, num tempo em que se fala tanto e tão mal da pobreza vir agora o Papa falar da pobreza de Cristo?! Como é que se pode enriquecer com a pobreza? Não fosse a Europa tão anticlerical e já se está mesmo a ver a força que alguns governos podiam ir buscar a algumas frases neotestamentárias! Afinal não é tudo mau na alergia do mundo às coisas cristãs!

O que estes nossos detratores ignoram é que ser cristão não é a mesma coisa que ser um burro atrás de uma cenoura. Ser cristão, é encontrar e seguir Jesus Cristo em todas as dimensões da vida. Por isso mesmo, o Papa Francisco preocupa-se apenas em manter-se fiel àquilo que é a mensagem extraordinária do Evangelho. A mesma fidelidade que São Paulo guardou em toda a sua vida e que o faz anunciar aos coríntios que só se pode encontrar Cristo quando o procuramos entre os pobres. «Que nos diz isto hoje?», pergunta o Papa na mensagem. O mesmo responde: «Tais palavras dizem-nos, antes de mais nada, qual é o estilo de Deus. Deus não Se revela através dos meios do poder e da riqueza do mundo, mas com os da fragilidade e da pobreza». O estilo de Deus é ser pobre! Por esta é que eu não esperava…

«Como eu queria uma Igreja pobre para os pobres», avisou logo Francisco no início do seu pontificado. E a proposta do Santo Padre é sempre na direção de Jesus, pelo esvaziamento de si, pelo amor que leva à doação e ao sacrifício, à maneira do Bom Samaritano, que se faz próximo do caído no caminho e o cura com o que de melhor tem consigo.

A mensagem do Papa Francisco para esta Quaresma é mais um vento que sopra a favor desta Igreja pobre, que procura combater a outra pobreza, muitas vezes miséria, com que grande parte da população mundial é atingida. A mensagem é mais um trampolim para propor aos nossos contemporâneos uma vida em abundância, longe da miséria moral que origina uma legião de ‘escravos’ por esse mundo fora, fruto muitas vezes de péssimas escolhas tomadas por quem se recusou a ouvir todos os bons conselhos. Esta mensagem é ainda mais um degrau na escada que nos conduz à “vida mais alta”, centrada em Deus e que a partir d’Ele leva à transformação própria e do contexto ao redor. Para sair da miséria espiritual, basta um antídoto eficaz: o Evangelho! E não consta que traga efeitos secundários nocivos…

Para começar, a conversão, sem esquecer que, tal como a verdadeira esmola, custa e dói!

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