Octávio Carmo, Agência ECCLESIA

A Igreja Católica celebra anualmente um Dia Mundial das Comunicações Sociais, guiada por uma mensagem do Papa que Francisco dedicou este ano à família. Simbolicamente, num momento em que estamos cada vez mais ligados ao mundo, podemos ficar mais isolados em casa, sem poder partilhar tudo o que vemos, damos e recebemos.

A reflexão do Papa argentino não é um puxão de orelhas aos mais novos nem um grito de alerta de alguém que não nasceu “digital” e vê este novo mundo como um planeta diferente, que nunca conseguirá colonizar. É antes um apelo a regressar ao básico, à comunicação que parte da comunicação, dos afetos, da ternura, no lugar onde aprendemos tudo, desde o falar ao sentir. A ECCLESIA apresenta no seu portal um conjunto de reflexões que podem ajudar a aprofundar esta temática.

Pessoalmente, partilho uma reflexão pessoal que já tive oportunidade de apresentar, sobre o meu papel como jornalista neste mundo cada vez mais mediatizados, em que tudo é notícia, mesmo quando se tem de passar por cima do outro. Porém, tanto as relações pessoais como a deontologia profissional obrigam, em determinados momentos da vida, a travar esse ímpeto.

Percebe-se que seja fácil, numa era de espetáculo e de grande facilidade de comunicação, do ponto de vista dos recursos existentes, que se bombardeiem os espetadores/ouvintes/leitores com toda a espécie de ‘informação’, mais ou menos relevante, enquanto se espera por algo que seja verdadeiramente notícia. Julgo, no entanto, que isso é trair o papel fundamental do jornalista como mediador e, a longo prazo, é mesmo uma condenação para a profissão.

Há cada vez maior possibilidade de acesso aos factos e são muitos os que, sem qualquer carteira profissional, os divulgam ou ajudam a divulgar. Por outro lado, a sucessão (por vezes inacreditável) de factos absolutamente irrelevantes ou a repetição de informações – como a repetição até à náusea de vídeos de agressões ou de pessoas a entrar em tribunais – mina a relação de confiança com o jornalismo. O espetáculo, o direto estéril e decorativo, não são, nunca foram nem nunca serão um objetivo.

Se o público é tão crítico do jornalismo é porque tem, a respeito dele, as mais nobres expectativas. Espera que lhe seja capaz de mostrar para lá da epiderme, que o ajude a compreender e a entrelaçar a realidade face a um volume cada vez maior de informações. O que é que interessa reter? O que é ou não verdade? O que é ou não notícia? O que se deve ou não partilhar, no âmbito do trabalho informativo?

São questões que não são secundárias, porque não é a partir de frestas que o jornalismo cumpre a sua missão. Não nos basta ver, não nos basta saber, é preciso noticiar. Aos jovens, pede-se que sejam cada vez mais exigentes com a informação que consomem e que, um dia, saibam ser ainda mais sérios, se a tiverem de produzir. Com um coração atento e aberto ao mundo, para não ficar sozinho em casa.

Octávio Carmo
Chefe de redação Agência ECCLESIA

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