DA SILVA MENDES Joaquim Augusto
Bispo titular de Caliabria e Auxiliar de Lisboa, Presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família – Portugal
A minha intervenção tem como referência particular o número 178, capítulo III, da III parte do Instrumentum laboris, que fala de proporcionar aos jovens uma experiência familiar de Igreja.
Creio que não se pode educar e evangelizar sem chegar ao coração, e para chegar ao coração é preciso amar, acolher incondicionalmente, proporcionar uma experiência impregnada de um verdadeiro espírito de família.
Vimos no Instrumento laboris que os jovens clamam por uma Igreja “mais relacional e menos institucional” (IL, 68), por uma Igreja «amiga e próxima», por “uma comunidade eclesial que seja família para todos, onde todos se sintam bem-vindos, cuidados e integrados” (IL 68).
Clamam por uma Igreja que seja mãe, por uma liturgia “viva e mais próxima, que os faça experimentar o “sentido de comunidade”, de “família”, de “Corpo de Cristo” (IL,69). Diz-se neste número que “para muitos jovens que vivem em famílias frágeis e desfavorecidas, é importante que eles percebam a Igreja como uma verdadeira família capaz de «adotá-los» como seus próprios filhos”.
No mundo atual são mais os “órfãos” de pais vivos do que de pais defuntos.
Há um sentimento de orfandade em muitos jovens. São numerosos os que nasceram e cresceram numa família desestruturada, que não sabem o que é uma família, que foram abandonados, que não foram amados.
Diz-se também neste número que “um dos resultados mais frutíferos da renovada atenção à família, vivida nos últimos anos, foi a redescoberta do carácter familiar da Igreja” e que as nossas paróquias são chamadas a ser “família de famílias” (AL 87.202).
“Família de famílias”, mas também família para os que têm família, proporcionando aos jovens um ambiente familiar, onde se sintam acolhidos, amados, cuidados, acompanhados no seu crescimento, desenvolvimento integral e na realização dos seus sonhos e esperanças.
Creio que este é um grande desafio pastoral para as nossas comunidades: serem “profecia de fraternidade”, “casa” que acolhe, espaço de encontro, lugar de crescimento e de vida, verdadeira família de filhos e filhas de Deus.
Só um testemunho de amor materno de uma Igreja-família pode tocar o coração dos jovens e abrir caminho para o seu encontro pessoal com Jesus, com o Evangelho, conduzir à descoberta do sentido da vida, da alegria do serviço e do compromisso na transformação da própria Igreja e sociedade.
É necessário, nos nossos ambientes eclesiais, proporcionar aos jovens espaços de acolhimento, participação e corresponsabilidade, no plano pastoral das paróquias, dos movimentos e das escolas católicas, inserindo-os nas equipas pastorais, nos órgãos pastorais de comunhão e participação, como os conselhos pastorais paroquiais, atribuindo-lhes funções de responsabilidade e de liderança.
É preciso coragem para abater barreiras e preconceitos de que os jovens são “pouco experientes para tomar decisões e que deles se espera somente erros” (IL 33).
O Sínodo é uma oportunidade para uma conversão pastoral e missionária das comunidades cristãs, para que proporcionem aos jovens aquilo que eles têm direito, anseiam, e esperam: uma Igreja família, onde eles se sintam parte viva, uma Igreja-casa onde todos têm lugar, onde todos se preocupam com todos, onde se experimenta a fraternidade cristã que brota da fé e do amor de Jesus.
A educação e evangelização dos jovens e a revitalização e o futuro das nossas comunidades passam inevitavelmente por oferecer aos jovens ambientes eclesiais permeados de um verdadeiro espírito de família.
D. Joaquim Mendes
Vaticano, 17 de outubro de 2018