“O desejo é que este encontro deixe um sinal de esperança”, disse o prior da comunidade de Taizé numa entrevista à agência católica italiana SIR [traduzida pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura].
A comunidade ecuménica francesa espera mais de 15 mil jovens no encontro europeu de final de ano, na cidade suíça de Basileia, entre 28 de dezembro e 1 de janeiro, para uma nova etapa da “Peregrinação da Confiança na Terra”.
“Para os jovens de hoje o futuro não é fácil. Não o é nas nossas sociedades, particularmente na Europa”, afirmou o irmã Alois.
Entrevista
– Quinze, talvez até 20 mil jovens. É surpreendente que muitos decidam passar o fim do ano em oração e meditação.
Haverá muitos em Basileia. Vêm também de longe, e para chegar farão fazem longas viagens de autocarro. É inverno e não será fácil. Eu chamar-lhe-ia peregrinação.
Diante desta generosidade, também esperamos uma grande hospitalidade, para que os jovens possam descobrir, através do acolhimento, um valor evangélico: que Cristo nos une para além de cada fronteira. Esta é a esperança que queremos viver, uma comunhão que nos encoraja a retornar à nossa vida diária e enfrentar dificuldades.
– No programa estão previstos momentos de oração, canto e silêncio.
Acredita realmente que os jovens na Europa ainda gostam dessas coisas e que podem colocar-se “à prova do silêncio”?
Sim, é verdade. O silêncio e a oração são hoje difíceis de propor aos jovens, porque estes – creio que em todo o lado – procuram antes de tudo fazer uma experiência de amizade. E vão fazê-lo em Basileia: durante cinco dias estarão juntos com outros colegas de países diferentes; todas as manhãs reencontrar-se-ão em grupo na paróquia que os acolhe; caminharão juntos para chegar aos diferentes locais de encontro na cidade; vão estar juntos na fila para a distribuição das refeições; e todos estarão disponíveis para ajudar de alguma forma. Por isso vão conhecer-se entre eles.
Nos ateliês também chamaremos a atenção dos jovens para questões muito concretas: falaremos, por exemplo, de problemas sociais e políticos, das migrações a como viver a fé no local de trabalho e de estudo. Questões que os jovens se colocam e que debateremos com eles.
É tudo isto que conduz os jovens a viver momentos partilhados de oração e silêncio. Sempre que temos um encontro de jovens, numa cidade ou mesmo em Taizé, ficamos maravilhados ao ver que, no final da oração litúrgica, há jovens que continuam a rezar. Ficam ali, parados, em oração em torno da cruz. É deveras surpreendente.
– O que é o silêncio?
Estamos todos juntos, mesmo aos milhares. E fazemos silêncio juntos para que cada um possa sobretudo encontrar dentro e fora de si um momento de paz. Um momento em que não se deve fazer nada. Que só pede para se estar simplesmente lá. Estar lá, na presença de Deus.
É esta a experiência que gostaríamos de fazer com que os jovens experimentassem: estar juntos na presença de Deus. Para os jovens torna-se cada vez mais raro e difícil viver um momento de paz assim, numa vida em que, mesmo que se esteja sozinho, se está permanentemente ligado.
– Com que linguagem se vão dirigir aos jovens para que a mensagem chegue realmente ao seu coração?
Será uma mensagem de alegria, uma alegria que desejamos que nunca se extinga. A alegria de viver. Perguntamo-nos: o que é que nos dá alegria na vida? Uma alegria que não é uma fuga dos problemas. Mas, pelo contrário, encoraja-nos a enfrentar as dificuldades e a colocarmo-nos à escuta do grito daqueles que sofrem.
Vou falar aos jovens da minha recente visita ao Sudão do Sul e ao Sudão. Mesmo nos países que atravessam grandes dificuldades e sofrimentos, encontrei pessoas que conhecem momentos de profunda alegria. E experimentei que, quando há solidariedade, mesmo que as situações sejam difíceis, há sempre a possibilidade de viver uma alegria profunda.
Gostaria, portanto, de falar aos jovens da alegria de viver e de uma alegria que nos encoraja a enfrentar dificuldades e desafios e a escutar o sofrimento dos outros.
– Basileia é uma cidade localizada no coração da Europa. Que mensagem darão todos esses jovens em nome de Taizé à Europa?
Este encontro é, antes de tudo, o sinal de que os jovens querem viver na Europa. Querem a Europa. Querem poder viajar, encontrar, aprender outra língua, ir estudar e trabalhar fora. Eles querem o “Erasmus” não seja só para os estudantes mas também para quem tem de realizar uma aprendizagem. Por isso é um sinal de que a Europa está viva.
Basileia é uma cidade ligada a três países. Está localizada numa região transfronteiriça partilhada pela Suíça, França e Alemanha. Haverá jovens que serão acolhidos não só na Suíça, mas também na França e na Alemanha.
Pela primeira vez o encontro decorrerá simultaneamente em três países. Mostramos assim à Europa que há na sua terra lugares que nos dizem que não podemos voltar atrás. Vemo-lo, por exemplo, inclusive entre o norte e o sul da Irlanda, unidos por um laço que o “Brexit” não conseguiu enfraquecer. São todos sinais muito claros: a construção da Europa continua.
A few months after the clip "Bless the Lord", a new clip produced by the young people of Basel under the guidance of Samuel Stöckli: welcome to the European meeting in Basel!
Publicado por Taizé em Sexta-feira, 1 de Dezembro de 2017
– Um dos ateliês será animado pelo arcebispo Job de Telmessos (Patriarcado Ecuménico), copresidente da Comissão Mista para o Diálogo Entre Católicos e Ortodoxos. Uma comissão que faz um grande esforço para chegar a acordos sobre problemas teológicos complicados.
Acredita realmente que as Igrejas chegarão um dia à plena unidade? E qual é o caminho a seguir hoje para alcançar esse objetivo?
É muito belo que o arcebispo Job esteja presente e com ele também haverá outros bispos católicos e protestantes. Um bispo católico e outro protestante animarão juntos um ateliê sobre os 500 anos da Reforma.
É belo que os responsáveis das Igrejas participem neste encontro de jovens em Basileia porque a sua participação favorece o vínculo entre o diálogo teológico, de extrema importância, e os jovens de hoje, que estão muito longe desse diálogo teológico.
É importante que os jovens tomem consciência dos esforços feitos pelos teólogos para aproximar as Igrejas extraordinárias e das metas teológicas extraordinárias que se alcançaram, como, por exemplo, o acordo sobre a justificação entre a Igreja católica e as diversas Igrejas protestantes, inclusive, por último, a anglicana.
O encontro europeu pode, portanto, representar um momento em que se encontram dois mundos, o mundo teológico e o mundo dos jovens. Os jovens, creio, já querem viver a unidade. Querem estar juntos e o facto de que em Basileia haja jovens protestantes, católicos, ortodoxos é, de alguma forma, uma pequena antecipação desta unidade que esperamos.
[Entrevista de M. Chiara Biagioni publicada na agência católica italiana SIR; Tradução do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, publicado em 19.12.2017; Fotos: Facebook Taizé]