Dou graças a Deus pelos muitos frutos que suscitou naqueles dias e que no futuro continuarão a multiplicar-se entre os jovens e as comunidades a que eles pertencem. Dirigimo-nos agora para o próximo encontro no Rio de Janeiro no ano 2013, que terá como tema “Ide e fazei discípulos de todas as nações!” (Cf. Mt 28,19).

Neste ano, o tema da Jornada Mundial da Juventude é-nos dado por uma exortação da Carta do Apóstolo São Paulo aos Filipenses: “Alegrai-vos sempre no Senhor!” (4,4). Com efeito, a alegria é um elemento central da experiência cristã. Também experimentamos em cada Jornada Mundial da Juventude uma alegria intensa, a alegria da comunhão, a alegria de sermos cristãos, a alegria da fé. Esta é uma das características destes encontros. Vemos a força atraente que ela tem: num mundo frequentemente marcado pela tristeza e pelas inquietações, a alegria é um testemunho importante da beleza e da fiabilidade da fé cristã.

A Igreja tem a vocação de levar a alegria ao mundo, uma alegria autêntica e duradoura, aquela que os anjos anunciaram aos pastores de Belém na noite do nascimento de Jesus (Cf. Lc 2,10). Deus não falou somente, nem cumpriu apenas sinais prodigiosos na história da humanidade, mas fez-se tão próximo que chegou a fazer-se um de nós, percorrendo todas as etapas da vida do homem. No difícil contexto actual, muitos jovens à vossa volta têm uma imensa necessidade de sentir que a mensagem cristã é uma mensagem de alegria e esperança. Queria reflectir agora convosco sobre esta alegria, sobre os caminhos para a encontrar, para que possais vivê-la cada vez com maior profundidade e ser mensageiros dela entre aqueles que vos rodeiam.

1. O nosso coração está feito para a alegria

A aspiração à alegria está gravada no mais íntimo do ser humano. Para além das satisfações imediatas e passageiras, o nosso coração procura a alegria profunda, plena e perdurável, que possa dar “sabor” à existência. E isto vale sobretudo para vós, porque a juventude é um período de uma contínua descoberta da vida, do mundo, dos outros e de si mesmo. É um tempo de abertura ao futuro onde se é impulsionado por ideais e se concebem projectos.

Em cada dia o Senhor nos oferece tantas alegrias simples: a alegria de viver, a alegria ante a beleza da natureza, a alegria de um trabalho bem feito, a alegria do serviço, a alegria do amor sincero e puro. E se olharmos com atenção, existem tantos motivos para a alegria: os belos momentos da vida familiar, a amizade partilhada, a descoberta das próprias capacidades pessoais, os sucessos alcançados, o apreço que outros nos têm, a possibilidade de nos expressarmos e sermos compreendidos, a sensação de ser úteis para com o próximo. E, além disso, a aquisição de novos conhecimentos mediante os estudos, a descoberta de novas dimensões por meio de viagens e encontros, a possibilidade de fazer projectos para o futuro. Podem também produzir em nós uma verdadeira alegria a experiência de ler uma obra, de admirar uma obra-prima artística, de escutar e interpretar uma música ou ver um filme.

Mas em cada dia encontramos tantas dificuldades no nosso coração, temos tantas preocupações para o futuro, que nos podemos perguntar se a alegria plena e duradoura a que aspiramos não será talvez uma ilusão e uma fuga da realidade. Há muitos jovens que se perguntam: hoje em dia a alegria plena é verdadeiramente possível? Esta procura segue vários caminhos, alguns dos quais se manifestam como erróneos, ou pelo menos perigosos. Mas como podemos distinguir as alegrias verdadeiramente duradouras dos prazeres imediatos e enganosos? Como podemos encontrar na vida a verdadeira alegria, aquela que dura e não nos abandona nem nos momentos mais difíceis?

2. Deus é a fonte da verdadeira alegria

Na realidade, todas as alegrias autênticas, quer sejam as pequenas do dia-a-dia quer as grandes da vida, têm a sua origem em Deus, mesmo que o não pareça à primeira vista, porque Deus é comunhão de amor eterno, é alegria infinita que não se fecha em si mesma, mas que se difunde naqueles que Ele ama e que o amam. Deus criou-nos à sua imagem por amor e para derramar sobre nós o seu amor, para nos encher da sua presença e da sua graça. Deus quer fazer-nos participantes da sua alegria, divina e eterna, fazendo que descubramos que o valor e o sentido profundo da nossa vida está em sermos aceites, acolhidos e amados por Ele, e não com um acolhimento frágil como pode ser o humano, mas com um acolhimento incondicional como o é o divino: eu sou amado, tenho um lugar no mundo e na história, sou amado pessoalmente por Deus. E se Deus me aceita, me ama e estou seguro disso, então saberei com clareza e certeza que é bom que eu seja, que exista.

Este amor infinito de Deus para com cada um de nós manifesta-se de modo pleno em Jesus Cristo. N’Ele se encontra a alegria que procuramos. No Evangelho, vemos como os factos que marcam o início da vida de Jesus se caracterizam pela alegria. Quando o arcanjo Gabriel anuncia à Virgem Maria que será mãe do Salvador, começa com esta palavra: “Alegra-te!” (Lc 1,28). No nascimento de Jesus, o Anjo do Senhor diz aos pastores: “Anuncio-vos uma boa notícia que será de grande alegria para todo o povo: hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, o Messias Senhor” (Lc 2,11). E os Magos que procuravam o menino, “ao ver a estrela, encheram-se de imensa alegria” (Mt 2,10). O motivo desta alegria é, portanto, a proximidade de Deus, que se fez um de nós. Isto é o que São Paulo quis dizer quando escreveu aos cristãos de Filipos: “Alegrai-vos sempre no Senhor; repito, alegrai-vos. Que a vossa bondade seja conhecida por todos. O Senhor está próximo” (Fl 4, 4-5). A primeira causa da nossa alegria é a proximidade do Senhor, que me acolhe e me ama.

Com efeito, o encontro com Jesus produz sempre uma grande alegria interior. Podemo-lo ver em muitos episódios dos Evangelhos. Recordemos a visita de Jesus a Zaqueu, um desonesto cobrador de impostos, um pecador público, a quem Jesus diz: “Preciso de ficar hoje em tua casa”. E São Lucas diz que Zaqueu “O recebeu muito contente” (Lc 19,5-6). É a alegria do encontro com o Senhor; é sentir o amor de Deus que pode transformar toda a existência e trazer a salvação. Zaqueu decide mudar de vida e dar metade dos seus bens aos pobres.

Na hora da paixão de Jesus, este amor manifesta-se com toda a sua força. Nos últimos momentos da sua vida terrena, na ceia com os seus amigos, Ele diz: “Como o pai me ama, assim também eu vos amo. Permanecei no meu amor… Disse-vos estas coisas para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa” (Jo 15,9.11). Jesus quer introduzir os seus discípulos e cada um de nós na alegria plena, aquela que Ele partilha com o Pai, para que o amor com o qual o Pai o ama esteja em nós (Cf. Jo 17,26). A alegria cristã é abrir-se a este amor de Deus e pertencer a Ele.

Narram os Evangelhos que Maria Madalena e outras mulheres foram visitar o sepulcro onde Jesus foi colocado depois da sua morte e receberam de um Anjo uma notícia desconcertante, a da sua ressurreição. Então deixaram rapidamente o sepulcro, escreve o evangelista, “cheias de medo e de alegria”, e correram para anunciar a boa notícia aos discípulos. E Jesus veio ao seu encontro e disse: “Salve!” (Mt 28,8-9). É a alegria da salvação que se lhes oferece: Cristo vive, é Aquele que venceu o mal, o pecado e a morte. Ele está presente no meio de nós como o Ressuscitado, até ao fim do mundo (Cf. Mt 28,20). O mal não tem a última palavra sobre a nossa vida, mas a fé em Cristo Salvador diz-nos que o amor de Deus é que vence.

Esta alegria profunda é fruto do Espírito Santo que nos torna filhos de Deus, capazes de viver e de provar a sua bondade, de nos dirigirmos a Ele com o termo “Abba”, Pai (Cf. Rm 8,15). A alegria é sinal da sua presença e da sua acção em nós.

3. Conservar no coração a alegria cristã

Neste ponto, perguntamo-nos: como receber e conservar este dom da alegria profunda, da alegria espiritual?

Um dos salmos diz-nos: “Põe no Senhor as tuas delícias e Ele satisfará os anseios do teu coração” (Sl 37,4). E Jesus explica que “o Reino dos céus é também semelhante a um tesouro escondido num campo. Um homem encontra-o, mas esconde-o de novo. E, cheio de alegria, vai vender tudo o que tem para comprar aquele campo” (Mt 13,44). Encontrar e conservar a alegria espiritual nasce do encontro com o Senhor, que pede que o sigamos, que nos decidamos com determinação, pondo toda a nossa confiança n’Ele. Queridos jovens, não tenhais medo de colocar à disposição toda a vossa vida, dando espaço para Jesus Cristo e o seu Evangelho; esse é o caminho para ter a paz e a verdadeira felicidade dentro de nós mesmos, é o caminho para a verdadeira realização da nossa existência de filhos de Deus, criados à Sua imagem e semelhança.

Procurar a alegria no Senhor – a alegria é fruto da fé – é reconhecer cada dia a sua presença, a sua amizade: “O Senhor está próximo!” (Fl 4,5). É voltar a colocar a nossa confiança n’Ele, é crescer no conhecimento e no amor d’Ele. O “Ano da fé”, que daqui a alguns meses iniciaremos, será para nós ajuda e estímulo. Queridos amigos, aprendei a ver como Deus age nas vossas vidas, descubri-O escondido no coração dos acontecimentos de cada dia. Ele é sempre fiel à aliança que fez convosco no dia do vosso Baptismo. Sabei que nunca vos abandonará. Dirigi frequentemente o olhar para Ele. Na Cruz, doou a sua vida porque vos ama. A contemplação de um amor tão grande leva aos nossos corações uma esperança e uma alegria que nada pode destruir. Um cristão nunca pode estar triste porque encontrou Cristo, que deu a vida por ele.

Procurar o Senhor, encontrá-lo na vida, significa também acolher a sua Palavra, que é alegria para o coração. O profeta Jeremias escreve: “Eu devoro as tuas palavras, onde as encontro; a tua palavra é a minha alegria, e as delícias do meu coração” (Jr 15,16). Aprendei a ler e meditar a Sagrada Escritura. Ali encontrareis uma resposta às perguntas mais profundas sobre a verdade que brotam em vossos corações e em vossas mentes. A Palavra de Deus faz que descubramos as maravilhas que Deus operou na história do homem e que, cheios de alegria, proclamemos em louvor e adoração: “Vinde, exultemos de alegria no Senhor… prostremo-nos em terra, adoremos o Senhor que nos criou” (Cf. Sl 95,1.6).

De modo particular, a Liturgia é um lugar por excelência no qual se exprime a alegria que a Igreja recebe do Senhor e transmite ao mundo. Cada Domingo, na Eucaristia, as comunidades cristãs celebram o Mistério central da salvação: a morte e ressurreição de Cristo. Este é um momento fundamental para o caminho de cada discípulo do Senhor. Nele faz-se presente o seu sacrifício de amor. É o dia no qual encontramos Cristo Ressuscitado, escutamos a sua Palavra, alimentamo-nos do seu Corpo e do seu Sangue. Um Salmo afirma: “Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria!” (Sl 117, 24). E na noite de Páscoa, a Igreja canta o Exultet, expressão de alegria pela vitória de Jesus Cristo sobre o pecado e a morte: “Exulte de alegria a multidão dos anjos… Rejubile também a terra, inundada por tão grande claridade… e ressoem neste templo as aclamações do povo de Deus!”. A alegria cristã nasce da consciência de ser amado por um Deus que se fez homem, que deu a sua vida por nós e venceu o mal e a morte; e é viver de amor para ele. Santa Teresinha do Menino Jesus, jovem carmelita, escreveu: “Jesus, minha alegria é amar-te!” (Poesia 45, 21 Janeiro 1897).

4. A alegria do amor

Queridos amigos, a alegria está intimamente ligada ao amor: são dois frutos inseparáveis do Espírito Santo (Cf. Gl 5,23). O amor produz alegria, e a alegria é uma forma de amor. A Beata Madre Teresa de Calcutá, recordando as palavras de Jesus: “Há mais alegria em dar do que em receber!” (Act 20,35), dizia: “A alegria é uma rede de amor para capturar as almas. Deus ama quem dá com alegria. E quem dá com alegria dá mais”. E o Servo de Deus Paulo VI escreveu: “No próprio Deus, tudo é alegria, porque tudo é dom” (Exort. Ap. Gaudete in Domino, 9 de Maio de 1975).

Pensando nos vários âmbitos da vossa vida, gostaria de vos dizer que amar significa constância e fidelidade aos compromissos assumidos. E isto, em primeiro lugar, nas amizades: os nossos amigos esperam que sejamos sinceros, leais, fiéis, porque o verdadeiro amor é perseverante também e, sobretudo, nas dificuldades. E o mesmo vale para o trabalho, os estudos e as actividades que desempenhais. A fidelidade e a perseverança no bem conduzem à alegria, mesmo que ela não seja sempre imediata.

Para entrar na alegria do amor, somos chamados também a ser generosos, a não nos contentarmos em dar o mínimo, mas a empenhar-nos a fundo na vida, com uma atenção especial para com os mais necessitados. O mundo necessita de homens e mulheres competentes e generosos, que se coloquem ao serviço do bem comum. Esforçai-vos por estudar com seriedade; cultivai os vossos talentos e colocai-os desde já ao serviço do próximo. Procurai a maneira de contribuir para uma sociedade mais justa e humana, onde estiverdes. Que toda a vossa vida seja guiada pelo espírito do serviço, e não pela busca do poder, do sucesso material e do dinheiro.

A propósito da generosidade, não posso deixar de mencionar uma alegria especial: aquela que se encontra na resposta à vocação de dar toda a vida ao Senhor. Queridos jovens, não tenhais medo do chamamento de Cristo para a vida religiosa, monástica, missionária ou ao sacerdócio. Tende a certeza de que Ele enche de alegria aquele que, dedicando a vida nesta perspectiva, responde ao seu envio deixando tudo para permanecer com Ele e dedicar-se de coração inteiramente ao serviço dos outros. Do mesmo modo, grande é a alegria que Ele reserva ao homem e à mulher que se doam totalmente um ao outro em Matrimónio para constituir uma família e tornar-se sinal do amor de Cristo pela sua Igreja.

Quero destacar novamente um terceiro elemento para entrar na alegria do amor: fazei crescer em vossas vidas e na vida das vossas comunidades a comunhão fraterna. Existe uma estreita ligação entre a comunhão e a alegria. Não é por acaso que São Paulo escreve a sua exortação no plural; não se dirige a cada um singularmente, mas afirma: “Alegrai-vos sempre no Senhor” (Fl 4,4). Somente juntos, vivendo em comunhão fraterna, podemos experimentar esta alegria. O livro dos Actos dos Apóstolos descreve assim a primeira comunidade cristã: “Partiam o pão nas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração” (Act 2,46). Empenhai-vos também a fundo para que as comunidades cristãs possam ser lugares privilegiados de partilha, de atenção e de cuidado um com o outro.

5. A alegria da conversão

Queridos amigos, para viver a verdadeira alegria precisais também identificar as tentações que a afastam de vós. A cultura actual induz muitas vezes a buscar objectivos, realizações e prazeres imediatos, favorecendo mais a inconstância que a perseverança no esforço e a fidelidade aos compromissos. As mensagens que recebeis impulsionam-vos a entrar na lógica do consumo, prometendo uma felicidade artificial. A experiência ensina que ter não coincide com a alegria: existem tantas pessoas que, mesmo tendo tantos bem materiais em abundância, estão sempre assombradas pelo desespero, pela tristeza e sentem um vazio na vida. Para permanecer na alegria, somos chamados a viver no amor e na verdade, a viver em Deus.

E a vontade de Deus é que nós sejamos felizes. Por isso, foram-nos dadas indicações concretas para o nosso caminho: os Mandamentos. Observando-os, nós encontramos a estrada da vida e da felicidade. Mesmo que à primeira vista possa parecer um conjunto de proibições, quase um obstáculo à liberdade, se os meditamos mais atentamente, à luz da Mensagem de Cristo, estes são um conjunto de essenciais e preciosas regras de vida que conduzem a uma existência feliz, realizada segundo o projecto de Deus. Quantas vezes, ao contrário, constatamos que construir a vida ignorando Deus e a Sua vontade leva à desilusão, tristeza, sensação de derrota. A experiência do pecado, como recusa a segui-Lo, como uma ofensa à sua amizade, traz sombra aos nossos corações.

Mas, mesmo se às vezes o caminho cristão não é fácil e o empenho de fidelidade ao amor do Senhor encontra obstáculos ou regista quedas, Deus, na sua misericórdia, não nos abandona, mas nos oferece sempre a possibilidade de retornar a Ele, de nos reconciliarmos com Ele, de experimentarmos a alegria do Seu amor que perdoa e acolhe novamente.

Queridos jovens, recorrei sempre ao Sacramento da Penitência e da Reconciliação! Este é o Sacramento da alegria reencontrada. Pedi ao Espírito Santo a luz para saberdes reconhecer os vossos pecados e a capacidade de pedir perdão a Deus, recebendo este Sacramento com frequência, serenidade e confiança. O Senhor vos abrirá sempre os Seus braços, vos purificará e vos encherá com a sua alegria: Haverá alegria no céu por um só pecador que se converte (Cf. Lc 15,7).

6. A alegria nas provas

Por fim, poderá ainda permanecer em nosso coração a pergunta se realmente é possível viver na alegria mesmo no meio de tantas provas na vida, especialmente as mais dolorosas e misteriosas; e se realmente seguir o Senhor e fiar-se d’Ele dá sempre a felicidade.

A resposta pode vir-nos de algumas experiências de jovens como vós que encontraram justamente em Cristo a luz capaz de dar força e esperança, mesmo no meio das situações mais difíceis. O Beato Pier Giorgio Frassati (1901-1925) experimentou tantas provas na sua breve existência; entre elas, houve uma relacionada com a sua vida sentimental, que o feriu de maneira profunda. Precisamente nesta situação, escreveu à sua irmã: “Tu perguntas-me se hoje estou alegre. E como poderia não estar? Enquanto a fé me der força estarei sempre alegre! Um católico não pode deixar de ser alegre…A finalidade para a qual fomos criados mostra-nos que o caminho, embora repleto de muitos espinhos, não é um caminho triste; é alegre mesmo no meio das dores” (Carta à irmã Luciana, Turim, 14 de Fevereiro de 1925). E o Beato João Paulo II, apresentando-o como modelo, dizia dele: “era um jovem de uma alegria contagiante, uma alegria que superava tantas dificuldades da sua vida” (Discurso aos jovens, Turim, 13 de Abril de 1980).

Mais próxima de nós, a jovem Chiara Badano (1971-1990), recentemente beatificada, experimentou como a dor pode ser transfigurada pelo amor e ser misteriosamente habitada pela alegria. Aos 18 anos de idade, num momento em que o cancro a fazia sofrer particularmente, Chiara rezou ao Espírito Santo, intercedendo pelos jovens do seu Movimento. Além da sua cura, pediu a Deus que iluminasse com o Seu Espírito todos aqueles jovens, dando-lhes a sabedoria e a luz: “Foi mesmo um momento de Deus: sofria muito fisicamente, mas a alma cantava” (Carta a Chiara Lubich, Sassello, 20 de Dezembro de 1989). A chave da sua paz e alegria era a completa confiança no Senhor e a aceitação também da sua doença como misteriosa expressão da Sua vontade para o seu bem e de todos. Repetia muitas vezes: “Jesus, se tu o queres, eu também quero”.

São dois simples testemunhos entre tantos que mostram como o cristão autêntico nunca está desesperado ou triste, mesmo diante das provas mais duras. Mostram que a alegria cristã não é uma fuga da realidade, mas uma força sobrenatural para enfrentar e viver as dificuldades quotidianas. Sabemos que Cristo crucificado e ressuscitado está connosco; é o amigo sempre fiel. Quando participamos dos seus sofrimentos, participamos também das suas alegrias. Com Ele e n’Ele, o sofrimento transforma-se em amor. E aí se encontra a alegria (Cf. Cl 1,24).

7. Testemunhas da alegria

Queridos amigos, para concluir, gostaria de vos exortar a ser missionários da alegria. Não se pode ser feliz se os outros não o são: a alegria, portanto, deve ser partilhada. Ide contar aos outros jovens a vossa alegria por terem encontrado aquele tesouro precioso que é o próprio Jesus. Não podemos guardar para nós a alegria da fé: para que esta possa permanecer connosco, devemos transmiti-la. São João afirma: “O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também vós estejais em comunhão connosco…Escrevemo-vos isto para que a nossa alegria seja completa” (1Jo 1,3-4).

Muitas vezes é descrita uma imagem do cristianismo como de uma proposta de vida que oprime a nossa liberdade, que vai contra o nosso desejo de felicidade e de alegria. Mas isto não corresponde à verdade! Os cristãos são homens e mulheres realmente felizes porque sabem que nunca estão sozinhos, mas estão sempre sustentados pelas mãos de Deus! Cabe, sobretudo, a vós, jovens discípulos de Cristo, mostrar ao mundo que a fé leva a uma felicidade e a uma alegria verdadeira, plena e duradoura. E se o modo de viver dos cristãos parece às vezes cansativo e chato, então sede vós os primeiros a dar testemunho do rosto alegre e feliz da fé. O Evangelho é a boa nova de que Deus nos ama e que cada um de nós é importante para Ele. Mostrai ao mundo que é mesmo assim!

Sede, portanto, missionários entusiasmados da nova evangelização! Levai àqueles que sofrem, àqueles que procuram, a alegria que Jesus quer oferecer. Levai-a às vossas famílias, às vossas escolas e universidades, aos vossos locais de trabalho e aos vossos grupos de amigos, lá onde viveis. Vereis que é contagiosa. E recebereis cem por um: a alegria da salvação para vós mesmos, a alegria de ver a Misericórdia de Deus operando nos corações. No dia do vosso encontro definitivo com o Senhor, Ele poderá dizer-vos: “Servo bom e fiel, entra no gozo do teu senhor!” (Mt 25,21).

Que a Virgem Maria vos acompanhe neste caminho. Ela acolheu o Senhor dentro de si e o anunciou com um canto de louvor e de alegria, o Magnificat: “A minha alma glorifica o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador” (Lc 1,46-47). Maria respondeu plenamente ao amor de Deus dedicando a Ele a sua vida num serviço humilde e total. É chamada de “causa da nossa alegria”, porque nos deu Jesus. Que Ela vos introduza naquela alegria que ninguém vos poderá tirar!

Vaticano, 15 de Março de 2012

BENEDICTUS PP XVI


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