António Costa Pereira
Presidente da Associação DariAcordar
Associação para a Recuperação do Desperdício
O Movimento Zero Desperdício nasceu da vontade de alguns cidadãos em acabar com um imenso desperdício de refeições em perfeitas condições que diariamente iam para o lixo, alicerçado apenas na desculpa que a lei (uma Norma Europeia) assim o exigia.
No entanto, qualquer lei tem de ter um carácter humano, pelo que era necessário alterar esta situação e assim após cerca de três anos em que procurei chamar a atenção da sociedade para esta questão (resultando numa petição com mais de 70.000 assinaturas e múltiplas reportagens na Comunicação Social) no início de 2011 juntei-me a outros 8 cidadãos além-palavras e criámos a Dariacordar (www.dariacordar.org), iniciando um longo trabalho de equipe em 4 frentes:
1 – Com a ASAE e uma empresa privada de segurança alimentar, criou-se uma série dechecklists – normas de procedimento para recolher, acondicionar, transportar e entregar refeições do dia. Agora, já era legal e seguro, dando-se início a uma nova era..
2 – Ao ser legal, deu-se conforto a quem queria doar refeições e logo começámos em finais de 2011 a assinar protocolos com hotéis, cadeias de supermercados, refeitórios de empresas, etc.
3 – Com o conceito de não desperdiçar o que já existe, o Modelo Municipal trabalha com as Câmaras Municipais e com as instituições sociais locais – tudo isto sem dinheiro envolvido.
4 – Com o contributo gratuito da empresa J. Walter Thompson, criou-se o Movimento Zero Desperdício (www.zerodesperdicio.pt), da qual também fazia parte o Hino Acordar que juntou mais de 50 artistas que ofereceram toda a sua arte e empenho.
A partir daqui tudo foi possível e o crescimento tem sido uma realidade, tendo o movimento já chegado a 10 municípios portugueses (ver ficheiro Resultados ZD).
De acordo com a FAO [Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura], este modelo criado em Portugal pode e deve ser replicado em outros locais do mundo – pelo facto de ser legal, ter obtido parcerias transversais na sociedade (organismos estatais, empresas privadas, poder local, instituições sociais, escolas/universidades, cidadãos comuns, etc) e ter adaptado um modelo de funcionamento local.
No entanto, o lançamento deste movimento também pretende colocar esta atitude anti-desperdício no ADN de cada um de nós e nesse sentido, mais uma vez juntamos em probono autores, ilustradores, editora Clube do Autor e mais uma vez da J. Walter Thompson lançámos para os mais novos uma colecção de 4 livros que já faz parte do Plano Nacional de Leitura e que também já foram distribuídos gratuitamente nas escolas do Ensino Básico 1º Ciclo em Lisboa (ver ficheiro Livros ZD).
Ainda nesta matéria, continuamos a trabalhar para que todas as escolas secundárias em Portugal sejam Zero Desperdício e aguardamos que os nossos esforços junto do Ministério da Educação venham a ter sucesso, até porque já foram iniciados há mais de dois anos.
Atendendo a que várias das nossas parcerias locais funcionam com Centros Paroquiais e Misericórdias, gostaríamos de lançar mais um desafio, neste caso direccionado à comunidade católica: todas as cerimónias que envolvam alimentos (casamentos e baptizados) tenham esta vertente contra o desperdício e tudo pode começar nos CPMs [Centros de Preparação para o Matrimónio] onde será passada esta atitude humanista e que é seguramente muito cristã.
Desde Abril de 2014 que contamos com o importante apoio da Fundação Calouste Gulbenkian que permitiu a criação dum BackOffice, fundamental para o crescimento sustentável deste movimento que em 2015 foi certificado como uma Iniciativa de Elevado Potencial de Empreendedorismo Social pelo ES+.
Adicionalmente fomos reconhecidos pelo selo PRATo (Boas Práticas e Actos no desperdício alimentar zero) e vencemos ainda o 1º prémio dos Food & Nutrition Awards na categoria de Iniciativa de Mobilização (ver ficheiro Reconhecimento ZD).
Por tudo isto, é muito importante que o Parlamento português tenha decidido que 2016 é em Portugal o Ano Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar, afim de aumentar a discussão e o conhecimento de todos nesta matéria – pois o maior desperdício é o doméstico, é aquele que acontece em cada de cada um, logo caso nos interessemos, preocupemos, façamos individualmente alguma coisa e não nos desculpemos com os outros, estamos a criar uma sociedade mais sustentável e em comunhão com a natureza.
Não nos esqueçamos que desperdício alimentar é desperdício a lamentar..!
António Costa Pereira
Presidente da Associação DariAcordar
Associação para a Recuperação do Desperdício