D. Virgílio Antunes
Bispo de Coimbra, presidente da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios

A Semana das Vocações tem como primeiros destinatários os jovens cristãos, porque são eles quem vê com mais clareza o que se passa no mundo e quem mais sente as debilidades do que se vive na Igreja.

É frequente ouvirem-se os gritos de alerta nascidos da voz dos jovens insatisfeitos com as injustiças que fazem vítimas por toda a parte, críticos relativamente à ausência de testemunhos de verdade, revoltados com a onda avassaladora de superficialidade no tratamento das questões essenciais da vida, da fé, do amor, do estudo ou do trabalho.

Felizmente são muitos os jovens que não se conformam com o que se passa à sua volta, por considerarem que precisamos de renovar a humanidade para fazer dela o lugar da felicidade de todos.

No dia em que os jovens se acomodarem ao que veem e sentem, perdem uma das suas principais caraterísticas, perdem a sua juventude porque perderam a capacidade de sonhar com um mundo melhor e mais belo.

Jesus, que nunca se conformou com as realidades do seu tempo, dedicou aos jovens as suas palavras mais radicais, porque viu sempre neles a maior possibilidade de empreender caminhos de acolhimento, de desprendimento e de seguimento.

No episódio do jovem rico não precisamos de olhar somente para a conclusão, que refere a dificuldade de seguir Jesus; podemos olhar sobretudo para a proposta de Jesus que ousa pedir-lhe aquilo que não pediu a outras gerações: vai, vende o que tens, dá-o aos pobres e, depois, vem e segue-Me.

Esta proposta, fruto de uma especial predileção, vem carregada de amor por cada jovem e cheia de uma imensa confiança na grandeza do coração daqueles que estão abertos a agir com misericórdia em favor dos outros.

D. Virgílio (3)A paradoxal utopia de amar sem limites, de dar a vida até ao fim, de gastar todas as energias pelo bem do próximo, encontra nos ideais e sonhos juvenis o lugar da sua realização.

A vocação é o lugar de realização desse sonho feliz de ir com o Senhor ao encontro de todos os homens para os levar às fontes da vida.

A vocação é a resposta aos apelos interiores que nascem da fé em Deus, Aquele que renova todas as coisas e, por isso, precisa de homens e mulheres disponíveis para ensaiar atitudes diferentes.

A vocação é a nossa oportunidade de vivermos com Deus e com a humanidade ao serviço da renovação que tanto desejamos. Alguém há de ir à frente com Cristo que nos precede e reclama a nossa ousadia para que, com Ele, sejamos os primeiros.

As famílias, a Igreja e a sociedade serão o que os jovens fizerem delas, pois o presente e o futuro do mundo está nas suas mãos. Cristo é o caminho para que sejam lugar de harmonia, de bondade e de beleza para todos. O resto é juventude que se desperdiça e perde.

D. Virgílio Antunes
Bispo de Coimbra, presidente da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios

D. Virgílio (2)

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