Pareceu-me, à primeira vista, encontrar lá tudo o que vivo no contexto diocesano e, no regresso, reconheço a possibilidade de, na Igreja local de que faço parte, viver ao estilo simples da comunidade de Taizé.
Especificando: contemplei a Fonte, Jesus Cristo, no encontro de irmãos crentes, na Palavra escutada, cantada e rezada, na Eucaristia, no Sacrário, na comunhão com a pluralidade de vivências e proveniências; contemplei a Igreja d’Ele, vinda da dispersão de várias formas de crer e de celebrar, ao encontro do diálogo iluminado pela Escritura e concretizado na partilha de serviços quotidianos; por esta grande e misteriosa “parabólica” que é o ecumenismo, reconheci a importância da pastoral social, ligando-me à realidade universal através de um “rumo a uma nova solidariedade”; senti-me atraído pelos sinais simples, não ingénuos, da beleza espiritual contida nos símbolos que apontam para o Mistério; pressenti que a consistência de um lugar assim é devida à vivência de irmãos consagrados por uma opção fundamental de vida em fraternidade.
De uma experiência destas sai-se mais rico: em humanidade, na fé, na possibilidade de ser criativo em favor de um caminho que me relaciona com os outros, no contexto em que vivo.
Se o essencial da fé está em todas as Igrejas e contextos de vida crente, como pode deixar de ser consequente, no meio em que vivo, o resultado obtido naquele fragmento de experiência em Taizé?
Taizé não diminui a experiência anterior de ninguém, nem do lugar de onde vem. Ajuda, sim, a limpar as “lentes” que impedem de viver a vida a partir da simplicidade e da confiança, corrigindo expectativas (pessoais e dos outros) veiculadas por um subjetivismo desnecessário, objetivando a coragem de olhar e de viver a vida terrena como espaço de onde emerge a questão do seu sentido, que pede urgentemente respostas.
Taizé é a proposta de um programa de vida organizada em torno do essencial (não é só oração, ou só encontro, ou só cânticos harmoniosos, ou só diversidade de formas de crer, ou só vida consagrada, ou só reflexão, ou só voluntariado, ou só um local do sul de França que refresca a vida espiritual…). É uma síntese do que pode ser uma administração espiritual do tempo, vivido pessoal e comunitariamente.
Ali, o tempo que tu dás cruza-se com o tempo que te é oferecido, o momento oportuno para que aconteça algo que está entre os teus desejos e uma Vontade amorosa que te é transcendente, mas que se faz presente e te apela a uma relação livre e coerente.
– Se já foste a Taizé, o que lá encontraste? E o que é que de lá trouxeste, concretizaste e partilhaste na tua vida e comunidade? Foi bom recomeçar?
Padre António Jorge
Diocese de Viseu/DNPJ