Este é um tempo que já conheço. Não há nada de novo. Todos os anos, em certa medida, repito o que aconteceu no ano anterior, e no ano anterior ao anterior, e no anterior a esse, e nos anteriores todos. Já sei o que vai acontecer. Nada me surpreende.
Vai ser um tempo de preparação. Vou estar nas festas de fim do 1º período. Nos almoços e nos jantares de Natal com colegas, amigos e família. Terei de ir às compras encontrar presentes. Vou viajar, fazer longas viagens. Vou ter reencontros. Vou ter de me despedir. Vou dizer muitas vezes – Boas Festas! Feliz Natal! Festas Felizes! Vou fazer e riscar listas de coisas para fazer – porque o dia se aproxima rapidamente (e tão rapidamente). Atenção aos enfeites! E os embrulhos? Montar a árvore de Natal e fazer a coroa do Advento. Olha o presépio. Olha o Menino Jesus, fica aqui para depois o colocarmos no grande dia. Põe as luzes. Que frio que está hoje…
E os cânticos! Vou ouvir cânticos de Natal na sala, no quarto, na televisão, na internet, no café, no centro comercial, no hipermercado. Depois vou ler muitos textos como este. Textos que falam do Advento, tempo de espera, de preparação. Textos que dizem que Maria que disse sim, um grande sim. Vou-me recordar que Maria e José encontram tudo cheio, não havia espaço, não tinham lugar. Vou ler textos que falam do milagre que aconteceu em Belém. Vou-me recordar que Jesus nasceu pobre, um Deus pobre. Vou ver que mesmo assim os anjos cantaram Glória! Mas que foram ter com os pastores, os pobres pastores. Depois vou ler textos que vão chamar a atenção para o consumismo desenfreado; textos que dizem que o Natal é quando um homem quiser; textos que me vão dizer que os nobres sentimentos que vivo nesta época se devem prolongar ao longo do ano, dos anos, ao longo da vida.
Vou perceber, e já percebo, que nada disto é novo. Nem este texto é novo nem é original. Estas ideias estão mais do que ditas. Já tudo foi escrito. Já tudo aconteceu. Várias vezes. Repetidas vezes. E todas as vezes vivo, e todas as vezes estou e sou e faço e leio e rezo, e todas as vezes me alegro e entristeço, todas as vezes me admiro e me desiludo, todas as vezes perco e encontro o essencial.
Como disse no princípio, tenho um certo desconforto e pouca disposição. Mas a verdade é que, até como acontece nos outros anos, em todos os outros anos, a disposição cresce lentamente à medida que os dias passam e se aproximam daquele dia. E a verdade é que o conforto, esse, como uma doença contagiosa, vai-me consolar, vou dar por mim alegre, feliz, cheio de sentimentos nobres, cheio de vontade de dar presentes aos meus sobrinhos, irmãos, pais, amigos; cheio de vontade de ser bom com todos os que encontro; de ajudar quem precisa. Eu já sei. É tudo igual, repetição. Nada é novo.
Obviamente, se eu quiser que este Advento seja diferente, original, marcantemente novo, então, continuar a ter a mesma atitude de outros anos, é, sem dúvida, pouco inteligente.
Mas a verdade é que eu quero que seja igual.
É tradição. E nem por isso é menos autêntico.
Nem sequer disse que é uma grande seca. Não. É bom! É mesmo bom! É profundamente bom!
Já vivo isto há tantos anos; já experimentei estas verdades tantas vezes, que realmente este tempo torna-me melhor pessoa.
E isto vai acontecer exatamente assim.
E eu vou estar feliz a viver o Advento e o Natal.
E o que é realmente pouco inteligente é viver o Natal sem querer que ele seja aquilo que ele, de facto, é.
Por isso vou aproveitar. Vou tentar não perder nenhum pormenor do que se vai repetir este ano!
Quanto a ti, também não te esqueças de nada!