D. Antonino Dias
Presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família

O Sínodo disse muita coisa aos jovens, pois falou da Família. Falou dessa comunidade de vida e de amor, constituída, livre e vocacionalmente, por um homem e uma mulher, de forma estável, indissolúvel, aberta aos filhos que são o mais excelente dom do seu amor.

Apesar destes tempos, muito bonitos, aliás, mas muito controversos em modos de pensar e dolorosamente desfeitos no agir e conviver de muitas famílias, dizem os estudos que os jovens continuam a sonhar constituir uma família estável e feliz. É o desejo de todos, a menos que alguém se sinta chamado para a vocação ao ministério ordenado ou à vida consagrada, querendo fazer parte de uma família muito mais alargada a quem desejam servir e ver crescer.

Também pode acontecer que alguém entenda que não tem vocação para o matrimónio nem para a vida consagrada e, por opção vocacional responsável, fique solteiro ou solteira, servindo também, dessa forma, a comunidade humana.

Ora, uma das grandes preocupações do Sínodo e da pastoral da Igreja, foi e é, precisamente, a de como ajudar os jovens a se prepararem para, um dia, formarem essa família com a qual sonham. A primeira grande dificuldade está, penso eu, em convencer os jovens de que a preparação é necessária. A segunda não menor dificuldade estará em saber dar-lhes essa formação de forma inteligente e com nível.

A constituição de uma família, se é natural, bela e encantadora, exige responsabilidade e empenho para que venha a ser o que deve ser: comunidade de vida e de amor, pequenina Igreja doméstica, imagem do relacionamento de Deus com o Seu povo, de Cristo com a Sua Igreja, comunidade baseada em amor exclusivo e definitivo, escola de afetos e de valores, princípio de vida na sociedade e lugar onde se aprende a experiência do bem comum. Embora também possa ser, não é, com certeza, apenas sentados à sombra do chaparro ou encostados ao fumo do cigarro que isso acontecerá. Não é pensando que a preparação se pode e deve evitar. Não é adiando porque é muito cedo para pensar nisso. Não é presumindo que já se sabe tudo e que não há nada mais para aprender. Não é fazendo do namoro um encontro a dois para a destruição de ambos, sem respeito um pelo outro. Não é comprometendo-se, “à la carte”, antes de “escolher”, pois pode acontecer que, quando despertarem para a realidade da “escolha”, já o não possam fazer porque já estão comprometidos e até os filhos já estão a caminho, se os não “descartaram”. Não é vivendo orgulhosamente sós, à margem da comunidade, abandonando tudo quanto ela pode oferecer de positivo e útil.

É preciso viver e conviver com pessoas, em grupos e em comunidade cristã, com alegria e espírito jovem. De forma traquina e revolucionária, sim, pode ser, mas também de forma serena e sábia, com sentido de responsabilidade e abertos a tudo quanto, de positivo, os outros possam oferecer de bom pela vida que testemunham.

Como sabemos, a família é uma comunidade que é preciso saber gerir com amor e delicadeza, tendo presente, inclusive, as sãs virtudes da convivência humana. Alguém, suponhamos, alguém que sempre viveu de forma egoísta e sozinho, satisfazendo apenas os seus caprichos e leviandades, como poderá um dia suportar a convivência em família? Como poderá renunciar aos seus gostos para bem do todo familiar, em espírito de gratuidade e disciplina? Como poderá compreender os sentimentos, as alegrias e as tristezas, o cansaço e as dificuldades dos outros? Será fácil apaixonar-se, será difícil viver apaixonado.

Toda a vocação exige preparação e a vocação ao matrimónio não foge à regra. Implica muita preparação e grande responsabilidade nessa caminhada, pois o matrimónio e a família constituem um dos bens mais preciosos que temos de agradecer, defender e aplaudir.

Já o Sínodo de outubro de 1980, que também foi sobre a Família, se dirigiu “particularmente aos jovens que se preparam para iniciar o caminho do matrimónio e da família, para lhes abrir novos horizontes, ajudando-os a descobrir a beleza e a grandeza da vocação ao amor e ao serviço da vida” (FC1). Esta preparação, remota, próxima e imediata, deve acompanhar o crescimento da pessoa num itinerário de fé e de discernimento responsável, com oração, reflexão e ajuda de quem o possa e saiba fazer.

Alguns Padres Sinodais realçaram a necessidade de unir o itinerário catequético desde a receção do Sacramento da Confirmação ao Sacramento do Matrimónio; da importância que tem, nesta formação, o testemunho de famílias cristãs sólidas, de pastores dedicados e da própria comunidade cristã que deve renunciar a ser uma mera agência de serviços para se tornar um lugar “na qual as famílias nascem, se encontram e se confrontam juntas, caminhando na fé e partilhando percursos de crescimento e de intercâmbio recíproco” (IL53).

Entendemos que esta preparação para o matrimónio não deveria ser, pois, considerada, sobretudo pelos jovens, como uma opção, mas como uma obrigação desejada e feliz, que oferecesse, inclusive, ajuda na formação da afetividade, na educação para a sexualidade e para os valores humanos e cristãos.

Costuma dizer-se que o futuro é quando nós quisermos.

Em prol da família, eis um sério desafio do Sínodo para os jovens: querer, exigir e abrir-se, com interesse e humildade, a uma verdadeira preparação para o Matrimónio.

D. Antonino Dias
Presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família
e bispo de Portalegre-Castelo Branco

D. Manuel Clemente e D. Antonino Dias

(Fotografias: Ricardo Perna, jornalista da Revista Família Cristã)

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