Porque choras? Porque é natural chorar quando alguém parte, quando sentimos a sua ausência, quando sabemos que não a voltamos tocar, não sentiremos o seu perfume… Porque é natural chorar!
Diz Santo Ambrósio “Sobre a morte de seu irmão, I, 70-71”: Chorem, os que não podem ter a esperança da ressurreição; não é a vontade de Deus que lhes tira essa esperança, mas a dureza daquilo em que acreditam. Tem de haver uma diferença entre os servos de Cristo e os pagãos. Eis o que é essa diferença: estes choram os seus pensando-os mortos para sempre; não podem assim pôr fim às suas lágrimas, não encontram descanso para a tristeza: […] enquanto para nós, servos de Deus, a morte não é o fim da existência mas o fim da nossa vida. […] Os nossos mortos não foram enviados para longe de nós, mas apenas antes de nós – eles a quem a morte não tragará, mas a quem a eternidade receberá.
Porque choras?
A morte é portadora de uma grande esperança: que a vida do homem não termina aqui. Partimos para a casa do Pai. Choras de alegria? (é fácil escrever, difícil é viver. Mas mais difícil é ser testemunha e portador desta esperança, desta certeza).
Como dizia a minha mãe: não chores, filho, a avô partiu, mas estará sempre a olhar para nós, foi para junto do Jesus. E tudo parecia que ganhava uma nova vida.
Mas, porque rezamos pelos falecidos?
Bento XVI na Carta Encíclica Spe Salvi, nº48, dá-nos as razões: Há ainda um motivo que deve ser mencionado aqui, porque é importante para a prática da esperança cristã. No antigo judaísmo, existe também a ideia de que se possa ajudar, através da oração, os defuntos no seu estado intermédio (cf. por exemplo, 2Mac 12,38-45: obra do I século a.C.). A prática correspondente foi adoptada pelos cristãos com grande naturalidade e é comum à Igreja oriental e ocidental. […] O facto de que o amor possa chegar até ao além, que seja possível um mútuo dar e receber, permanecendo ligados uns aos outros por vínculos de afecto para além das fronteiras da morte, constituiu uma convicção fundamental do cristianismo através de todos os séculos e ainda hoje permanece uma experiência reconfortante. […] As nossas vidas estão em profunda comunhão entre si; através de numerosas interacções, estão concatenadas uma com a outra.
Ninguém vive só. Ninguém peca sozinho. Ninguém se salva sozinho. Continuamente entra na minha existência a vida dos outros: naquilo que penso, digo, faço e realizo. E, vice-versa, a minha vida entra na dos outros: tanto para o mal como para o bem. Deste modo, a minha intercessão pelo outro não é de forma alguma uma coisa que lhe é estranha, uma coisa exterior, nem mesmo após a morte. Na trama do ser, o meu agradecimento a ele, a minha oração por ele pode significar uma pequena etapa da sua purificação. E, para isso, não é preciso converter o tempo terreno no tempo de Deus: na comunhão das almas fica superado o simples tempo terreno.
Nunca é tarde demais para tocar o coração do outro, nem é jamais inútil. Assim se esclarece melhor um elemento importante do conceito cristão de esperança. A nossa esperança é sempre essencialmente também esperança para os outros; só assim é verdadeiramente esperança também para mim. Como cristãos, não basta perguntarmo-nos: como posso salvar- me a mim mesmo? Deveremos antes perguntar-nos: o que posso fazer a fim de que os outros sejam salvos e nasça também para eles a estrela da esperança? Então terei feito também o máximo pela minha salvação pessoal.
Bento Oliveira | @ilusaobento