Acabaram os Jogos Olímpicos de Londres 2012.
E é uma pena, porque durante 16 dias, o mundo voou mais alto. E provou-se que nesta vida, tudo vale realmente a pena se a alma não é pequena. Quisera que se prolongasse por mais tempo, mas permanece o espírito que se viveu nas últimas duas semanas e toca-nos gerir as emoções de uma festa histórica até aos próximos Jogos, marcados para 2016, curiosamente no Rio de Janeiro, à semelhança das próximas Jornadas Mundiais da Juventude.

Durante 16 dias, o mundo focou os seus olhares, objetivas e atenções nos seus melhores atletas, teve batimentos cardíacos aos ritmos dos mais rápidos velocistas enquanto assistia às provas mais tensas, esqueceu as intrigas do quotidiano e compartilhou a excitação dos vencedores e a desolação dos vencidos.

Durante 16 dias, os melhores do mundo na sua especialidade desportiva superaram os limites físicos, bateram records, celebraram vitórias ou lamentaram-se da má sorte ou da feroz competição. Estar nos Olímpicos não é para todos, e pisar aqueles palcos, ser residente por breves dias na aldeia olímpica e viver aquele ambiente já é um triunfo, que nenhum adepto, por mais exigente que seja, se deve esquecer.

Houve tantas imagens e histórias que marcaram estes Jogos Olímpicos, que merecem uma recordação condigna. É evidente que os media ligaram demasiada importância a outros fatos, que fazem vender mais jornais e satisfazer os apetites do mercado que tem mais dificuldade em escolher com critério as notícias e controlar os seus impulsos.

Não pode ser só verdade que os atletas na aldeia olímpica se divertissem unicamente em conhecer parceiros sexuais, aproveitando a campanha generosa dos 150 mil preservativos distribuídos gratuitamente. Havia outras formas de se divertirem e de passarem o tempo com qualidade, como por exemplo fazendo parte das maratonas de 24/7 de adoração do Santíssimo Sacramento, em 3 igrejas católicas que rodeavam o aldeamento.

Também não pode ser verdade que o Usain Bolt (JAMAICA) seja só descontração, bom feeling, boa vida e um pouco de arrogância, como sugerem as imagens que passam. Este medíocre julgamento desvaloriza as horas de treino intensivo, a longa preparação de 4 anos para chegar a Londres ao mais alto nível, a humildade para se inspirar nos melhores, o trabalho que desenvolveu juntamente com o seu treinador e seus companheiros de treino e o amor e aconchego que recebe por parte da sua família, que o educaram num ambiente profundamente cristão.

Bom ou mau grado o que nos chega até nós, não tenho dúvidas em afirmar que os Jogos Olímpicos são uma pequena amostra do Reino de Deus e do Catolicismo – mais do que se possa pensar – e encerram a concretização da última oração de Jesus com os seus apóstolos “Pai santo, Tu que te deste a mim, guarda-os em ti para serem um só, como Nós somos” (Jo 17, 11). O espírito olímpico é também sinal da fraternidade universal sobre a terra. Os cinco anéis são o sinal da presença de todos os continentes, povos, raças e géneros numa competição única, tendo um só lema: ser mais rápido, ser mais forte e saltar mais alto.

E há ainda outras verdades bíblicas que foram reveladas nos Jogos.

Todos aqueles atletas foram feitos para levar aos limites as suas capacidades físicas e mentais, sendo a realização daquilo para que foram criados. Numa parábola moderna dos talentos, Usain Bolt (JAMAICA), Michael Phelps (USA) e Mo Farah (GB) seriam o exemplo de quem põe a render as qualidades que herdaram do Pai.

Disse Jesus: “de graça recebestes, de graça dai” (Mt 10, e em Londres estiveram ao serviço dos atletas e dos adeptos mais de 70 mil voluntários, que apenas levaram para casa como recordação material um pólo e umas sapatilhas patrocinadas pela marca desportiva que apoiou os Jogos.

“Não a nós, ó Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória, pelo teu amor e fidelidade” (Sl 115, 1) e muitos dos atletas depois de acabarem a prova davam graças a Deus pelos feitos obtidos. A mais impressionante ação de graças foi a da medalha de ouro dos 5000 metros, Meseret Defar (ETIÓPIA), que assim que cortou a meta, se prostrou no chão, tirou um pedaço de tecido com uma representação da Virgem segurando o Menino e beijou efusivamente o objeto religioso, dando glória a Deus pela Sua fidelidade.

“Sete vezes cai o justo e se levanta ” (Pv 24, 16). Podem não ganhar medalhas, mas a coragem e determinação daqueles atletas que caíram, mas não desistiram e continuaram com enorme sofrimento e dor encantaram o mundo. Foi o caso do herói chinês, Liu Xiang, campeão dos 110 metros barreiras em Atenas 2004, que acusou uma lesão crónica no tendão de aquiles, caiu ao primeiro obstáculo, mas voltou à pista para terminar a prova, ao “pé coxinho”. É uma imagem arrepiante. Outros atletas acabaram as respetivas provas em sangue, como a meio-fundista dos 3000 metros, Clarisse Cruz (PORTUGAL) e o triatleta Leonardo Chacón(COSTA RICA).

Para ser um vencedor, o atleta despreza-se a si próprio para dar ouvidos ao seu mestre. O judoca Teedy Riner (FRANÇA), logo após ganhar brilhantemente contra o seu adversário na final de categoria + 100 kg, foi a correr direito ao seu treinador e deitou-se no chão para beijar o pé do seu mestre. S. Pedro terá tido a mesma atitude de disciplina quando recebeu do seu Mestre as chaves do Reino.

E há ainda outras tantas imagens emocionantes e de extrema beleza que a televisão nos proporcionou nestes 16 dias de Olimpíadas.

Voou mais alto o mundo, à medida que voaram mais alto os atletas, para além do pódio olímpico.

Os Jogos devem ser para muitos jovens uma inspiração e uma rara prova de que vale a pena lutar pelos nossos sonhos e que todo o trabalho e esforço é compensado, quando nos superamos a nós mesmos.

Mário Alves

Share
Share