DNPJ – Uma Igreja jovem para e com os jovens – como se consegue este desejo/objetivo e propósito de anunciar o Evangelho? A Igreja fala a mesma linguagem e sabe manter diálogo com os jovens?
D. Ilídio Leandro – Este princípio é fundamental na evangelização e consegue-se, tendo os jovens como protagonistas do próprio caminho. Se e quando são destinatários, é bom que os sujeitos sejam jovens ou, melhor ainda, o sujeito seja a Igreja mas com a predominância de jovens.
João Paulo II ensinou-nos esta metodologia, criando uma proximidade muito grande com os jovens e em que eles se tornavam protagonistas. Assumiam-se como primeiros destinatários mas com desafios claros e empenhativos que os tornavam, de imediato, sujeitos e construtores de todo o programa e de todo o caminho.
DNPJ – Como na sociedade atual do momentâneo/instante e de inúmeras solicitações se pode e deve “apresentar Jesus Cristo como Alguém que vale a pena e dá sentido e respostas, abrindo a uma relação em caminho de Fé”?
IL – A conceção que os jovens têm da vida, da Fé e do sobrenatural está muito marcada pela cultura própria do tempo presente: do provisório e ‘descarte’, do imediato e passageiro, do falível e relativo… Não podemos apresentar Jesus Cristo nos critérios dessa cultura, pois seria equivalente a todos os critérios com que aceitam tudo – depressa passa e é preciso que passe…
Os jovens precisam de algo diferente, que seja “seguro”, que entre por outras vias de valores e que dê tranquilidade à agitação da vida. O testemunho de pessoas credíveis: Papa e outras referências próximas; jovens animadores e exemplos concretos de boas referências serão ajudas para entenderem Jesus Cristo e o que Ele dá e acrescenta de “diferente” e de “seguro”…
DNPJ – Qual o papel e a importância dos Animadores de Pastoral Juvenil estarem preparados para serem referência para os jovens que os procuram e pertencem aos grupos/secretariados diocesanos e dos diversos movimentos?
IL – É uma importância decisiva. É preferível não existir um grupo organizado de jovens, em determinado tempo, por falta de Animadores do que haver “qualquer coisa”… Uma desilusão ou inversão de valores nos testemunhos apresentados causa pior resultado do que não haver grupo organizado. Não queimar etapas é muito importante…
A preparação de bons Animadores é ação decisiva para a vida da Igreja e para a formação e ação dos jovens. Ainda que se gaste muito tempo na preparação dos Animadores, os efeitos far-se-ão sentir, com vantagens para o futuro mas, também, para o presente dos próprios jovens.
O experimentalismo na ação com os jovens não traz vantagens e é contraproducente em relação ao futuro…
DNPJ – Litoral e interior, norte e sul. As diferenças de oportunidades entre os jovens estão mais acentuadas, com a atual conjuntura? Qual a realidade que constata na Diocese de Viseu e no contacto com jovens de outras dioceses?
IL – O espírito de aventura dos jovens vence barreiras e distâncias. Importa é serem bons, acreditarem na necessidade de formação e de valorização. As distâncias importam menos.
Os jovens de hoje sentem-se próximos de todos os outros jovens – do litoral ou interior, do norte ou sul, do país ou estrangeiro…
DNPJ – Foi diretor da Pastoral Juvenil. Com uma longa experiência de vida pastoral dedicada à Pastoral Juvenil na sua perspetiva como e para onde tem caminhado a juventude católica portuguesa, em particular e os jovens em geral?
IL – Nas percentagens semelhantes às restantes idades, os jovens têm dificuldade de fazer opções e de tomar decisões… E a vida cristã séria é sempre fruto de uma decisão pessoal e comprometida… A vida vive-se de forma muito fluida e sem exigências familiares, eclesiais e sociais muito qualificadas. Não há espanto nem surpresa por qualquer disparate ou aventura e isto é terrível para a formação do discernimento, da consciência ética e da opção vocacional…
No fundo, a formação do carácter nos jovens de hoje fica muito entregue ao próprio, por falta de ajudas suplementares que sejam referenciadas, positiva ou negativamente… É uma ajuda muito grande à liberdade mas é uma dificuldade muito grande para o compromisso…
DNPJ – O novo bispo de Aveiro, na homilia da Eucaristia da entrada solene na diocese, frisou que os jovens “são o futuro da Igreja e da sociedade” e devem “ter um lugar privilegiado nas paróquias”.
Na sua opinião e da sua experiência como é que se podem conjugar as duas realidades: envolver os jovens e que as estruturas da Igreja também os recebam?
IL – É certo e constitui um desafio para toda a Igreja e para toda a Sociedade. Acredito, também, que os jovens, já enquanto jovens, são importantes e devem ter um lugar importante nas comunidades. Na verdade, cabe-lhes a afirmação e construção de um presente que, sem eles, não é o mesmo. A sua alegria, inconformismo, imaginação, esperança e espírito de aventura e de luta pela mudança e pela novidade – são valores indispensáveis. A eles, aos adultos e às crianças para acreditarem na vida e no futuro e para terem estímulo à preparação para a ação e a transformação das realidades. Às autoridades e responsáveis – civis, políticas e religiosas – os jovens também ajudam a exercer a sua autoridade na abertura a quem vem e a quem os vai seguir e substituir.
É positivo que sempre nos sintamos em comunhão com outros que nos avaliam, nos exigem, nos seguem e nos substituem.
DNPJ – Qual a importância e o carisma do Papa Francisco para os jovens? Que diferenças destaca da sua relação com os jovens com a que tinha o Papa São João Paulo II?
IL – No Papa Francisco, destaco a simplicidade, a proximidade e a verdade das suas palavras e expressões, dos seus sentimentos e afetos. Também nas suas palavras e atitudes com os jovens, Francisco “cheira às ovelhas”… Sem as intuições surpreendentes e originais de São João Paulo II, Francisco atrai os jovens pela simplicidade e originalidade da sua vida e do seu testemunho. Enquanto João Paulo II era um líder e um guia, Francisco – que também o é – é, sobretudo, um amigo que caminha conjuntamente e aponta horizontes e metas a descobrir e a alcançar juntos.
Os dois manifestam um grande amor, uma indesmentível confiança e uma indispensável certeza da sua necessária e urgente participação na construção do futuro. Mais do que diferenças, vejo e anoto aspetos característicos que, cada um, acentua à sua maneira.
DNPJ – O que é a Pastoral Juvenil?
IL – É a ação da Igreja enquanto caminha com os jovens e vive o Evangelho e o seguimento de Jesus Cristo na vida e na missão dos jovens. É, essencialmente, a vida da Igreja enquanto assumida pelos jovens nas suas tarefas de participação humana e cristã, construindo o seu presente e o seu futuro, iluminados pela Fé em Jesus Cristo.
(Fotografias DNPJ e Luís Santos/Agência Ecclesia)