O Papa Francisco recebeu cerca de 500 meninos e meninas migrantes que integraram o ‘Comboio das Crianças’ na estação de caminho de ferro da Cidade-Estado, e depois numa audiência na sala Paulo VI, com o tema ‘Levado pelas ondas’.

“Não quero entristecer-vos, mas vós sois corajosos e conheceis a verdade. Estão em perigo: tantos jovens, meninos, meninas, homens, mulheres, estão em perigo. Pensamos nesta menina? Como se chamava? Não sei: uma menina sem nome. Cada um de vós dê-lhe o nome que deseja, no seu coração. Ela está no céu, ela olha para nós”, explicou o Papa este sábado.

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Francisco mostrou às crianças, que vivem em centros de acolhimento, o colete salva-vidas de uma menina que morreu no mar, e que lhe foi oferecido na audiência geral de quarta-feira, 25 de maio 2016.

O tema ‘Trazidos pelas ondas’ evocou e recordou quem saiu do seu país para fugir à guerra ou à perseguição religiosa e perdeu a família, amigos ou conhecidos no mar, na travessia para a Europa.

“Bom dia, Papa, quero pedir-te que rezes pela minha família que foi para o céu e pelos meus amigos, também foram para o céu, morreram na água”, pediu por exemplo Sayende, um jovem nigeriano que na viagem perdeu o pai e a mãe. Foi para Lamezia e numa comunidade para menores estrangeiros encontrou outra família que o acolheu como um filho.Comboiodascrianças2016 (215)

Falou também um menino do Sri Lanka, uma professora e o responsável do Centro Desportivo ‘Sem Fronteiras’.

Comboiodascrianças2016“Todos nós, todos, somos diferentes, diversos, mas também todos somos iguais porque somos irmãos. Mas, há um perigo: as crianças são obrigadas a fugir da sua terra, com seus pais e famílias, por causa da guerra, da fome… pegam grandes barcos e correm tantos perigos, sobretudo o de não chegar ao destino devido aos naufrágios”, disse Francisco após ter recebido uma carta com um desenho feito pelas crianças – com ondas, o pôr-do-sol, a indiferença e a fraternidade.

Antes de Francisco falar, o presidente do CPC, o cardeal Gianfranco Ravasi, explicou que o objetivo da viagem das crianças ao Vaticano era encontrar o Papa e entregar-lhe uma carta.

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Segundo o Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, o encontro começou uma mensagem ao mundo, a leitura de uma carta escrita por crianças italianas que acolheram os meninos e meninas migrantes: “Refletimos sobre todos aqueles adultos e crianças que deixam a sua terra por causa da guerra e das perseguições. Muitos não conseguem sequer atingir a meta por causa daquelas ondas que lhes deveriam garantir a salvação e que, pelo contrário, as traem e as levam à morte.

Pensemos nelas e não conseguimos compreender como no mundo possam haver tantas injustiças. Prometemos acolher cada um que chegar ao nosso país, sem considerar quem tem uma cor de pele diferente, que fala uma língua diferente ou professa uma outra religião, um inimigo perigoso.”

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O ‘Comboio das Crianças’ foi promovido peloPátio dos Gentiosdo Conselho Pontifício da Cultura (CPC) da Igreja Católica. A estrutura para o diálogo entre crentes e não crentes, é dinamizado desde 2011 e já passou pelas cidades portuguesas de Braga e Guimarães.

 

O comboio partiu da Calábria e os participantes percorreram cerca de 700 quilómetros até ao Vaticano, onde foram recebidos por 60 crianças da Orquestra Infantil ‘Quattrocanti’ e por 50 da associação Desporto Sem Fronteiras.

 

O ‘Flecha de Prata’ foi colocado à disposição pela companhia de caminhos de ferro estatal italiana, tendo partido às seis horas da manhã de Vibo Valentia, no sudoeste do país, e o presidente da companhia subiu a bordo, em Roma.

Quando chegaram ao Vaticano o momento foi eternizado com o lançamento de balões em homenagem às crianças que morreram na travessia marítima para a Europa.

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