O Papa Francisco aprovou o milagre atribuído à intercessão de Carlo Acutis que vai permitir a sua beatificação, o jovem italiano de 15 anos que faleceu vítima de uma leucemia fulminante, em setembro 2006, e tem sido apresentado como modelo de santidade e um “génio” da informática.

A Sala de Imprensa da Santa Sé divulgou hoje que o Papa Francisco recebeu o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos e aprovou a promulgação do decreto relativo a Carlo Acutis e a outros sete processos de canonização em curso, esta sexta-feira (21 de fevereiro).

O jovem Carlo Acutis vai ser beatificado no dia 10 de outubro (sábado), às 16h00 locais (menos 1 hora em Portugal), numa celebração presidida pelo prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, o cardeal Angelo Becciu, na Basílica de São Francisco, em Assis, Itália.

“A alegria que estamos esperando há muito tempo finalmente tem uma data; As notícias constituem um raio de luz neste período em que no nosso país estamos a lutar contra uma situação de saúde, social e de trabalho. Nos últimos meses, enfrentamos a solidão e o distanciamento ao experimentar o aspeto mais positivo da internet, uma tecnologia de comunicação para a qual Carlo tinha um talento especial” – Bispo de Assis, D. Domenico Sorrentino, divulga a  agência católica italiana SIR – Servizio Informazione Religiosa – da Conferência Episcopal Italiana.

Foto Vatican News

 

O Papa Francisco, na exortação apostólica pós-sinodal «Christus Vivit» (Cristo Vive), explica que Carlo Acutis usou “as novas técnicas de comunicação” para “transmitir o Evangelho, para comunicar valores e beleza”.

“Não caiu na armadilha. Via que muitos jovens, embora parecendo diferentes, na verdade acabam por ser iguais aos outros, correndo atrás do que os poderosos lhes impõem através dos mecanismos de consumo e aturdimento”, escreveu no documento dedicado aos jovens que surgiu do Sínodo dos Bispos «Os jovens, a fé e o discernimento vocacional», realizado em outubro de 2018.

«Cristo Vive» – Exortação Apostólica para os jovens e todo o povo de Deus

 

 

Carlo Acutis nasceu em maio de 1991, em Londres onde os pais estavam a trabalhar, faleceu com 15 anos, vítima de uma leucemia fulminante, em setembro de 2006, em Monza (Itália). Desde 6 de abril de 2019, está no Santuário da Spogliazione (Assis). A cura milagrosa atribuída de uma criança brasileira que sofre de distúrbios digestivos muito graves aconteceu em 2013.

 

Padre Ricardo Figueiredo; Foto Óbidos Diário

O padre Ricardo Figueiredo, do Patriarcado de Lisboa, descobriu o jovem italiano quando foram aprovadas as suas virtudes heroicas (julho, 2018) e escreveu o livro «Não eu, mas Deus – Biografia espiritual de Carlo Acutis» (Paulus Editora, 2019), com uma memória fotográfica onde fotos do jovem italiano em Lisboa e Fátima.

 

Marco Mammoli, autor da música ‘Emmanuel’, o hino da Jornada Mundial da Juventude 2000 – e o maestro Michele Rosati são os autores canção “Non io, ma Dio” dedicada a Carlo Acutis:

 

Entrevista à mãe de Carlo Acutis, Antonia Salzano

Missa presidida por D. Sorrentino na presença dos restos mortais de Carlo Acutis, no Santuário do Despojamento; Foto Vatican News

Hoje [sábado, 22/2] chegou esta bela notícia…

Sonhei que Carlo me dizia que se tornaria beato e também santo. No momento trágico da sua doença, e quando depois ele faltou, sonhei também com S. Francisco, que me dizia que Carlos chegaria muito alto na Igreja: eu vejo esta grande igreja, e Carlo ao alto. Nesse tempo não compreendia, depois compreendi muitas coisas.

A morte de um filho é sempre terrível para um pai…

Quando morreu, tive a sensação de que morria como santo: enfrentou a doença sempre com o sorriso, nunca um lamento, apoiado pela luz da fé, não tinha medo. Dizia: «Morro feliz porque nunca desperdicei um minuto da minha vida em coisas que não agradavam a Deus». Estava sereno. Quando adoeceu, estava muito consciente: «Eu não saio vivo daqui, mas dar-te-ei muitos filhos», tranquilizava-me. Poucos meses antes de adoecer, filmou-se a dizer que quando chegasse aos 70 kg estava destinado a morrer. Efetivamente, morreu pesando 70 kg.

Houve muitos pequenos sinais que me ajudaram depois a viver esta grande dor da distância, que me confortaram. Na fé a relação não acaba, mas é preciso aprender uma modalidade diferente de comunicação.

A sua fama de santidade espalhou-se depressa?

Sim, desde que morreu as pessoas dirigiram-se a ele com confiança: uma senhor que foi ao funeral tinha um tumor, rezou-lhe e teve uma cura; outra mulher, de 44 anos, não podia ter filhos, rezou a Carlo e após alguns meses ficou grávida. Desde logo as pessoas que o tinham conhecido confiavam-se a ele, depois a fama de santidade espalhou-se: jovens que começaram a formar grupos de oração, imitando-o; catequistas que levaram a sua história como testemunho. Tudo isto me deu serenidade. O Carlo trouxe frutos para muitas pessoas, ajudou muitas almas a aproximarem-se de Deus. Muitos assinalaram-nos milagres, graças especiais e conversões.

Na família tinham a perceção de ter um filho excecional?

Já em vida tínhamos dado conta de que Carlo era um jovem especial: a sua luminosidade, a sua bondade, a sua vida de oração eram fora do normal. Ao mesmo tempo, ele teve uma vida como muitos seus coetâneos, partilhou paixões comuns a outros jovens, como a internet, a bola e outros passatempos; gostava de estar com os amigos, era um rapaz muito simpático, mas fez cada coisa com grande equilíbrio e esperança, e tudo à luz e na presença de Deus, melhor, colocando sempre Deus no centro dos seus dias, com a santa missa, o santo terço, a adoração eucarística antes ou depois da missa. Era fidelíssimo a estes encontros. Levou Deus na vida diária, na escola, na família, com os amigos, em todo o lado.

Esta sua vida, a harmonia que tinha alcançado, penso que pode ser uma ajuda para o caminho de santidade de muitos. Muitas vezes começa-se com a ideia de fazer coisas demasiado altas, e depois quando não se consegue há o desencorajamento, e deixa-se andar, ou não se começa porque há o sentimento de impreparação. O papa Francisco recorda-nos que todos somos chamados a ser santos. Deus tem para cada pessoa um projeto único, especial e irrepetível, mas, como o Carlo dizia, todos nascem originais, mas depois, por vezes, morremos como fotocópias, porque não se segue o projeto de Deus sobre nós. Por isso, é importante compreender que também hoje, apesar da tecnologia e das descobertas científicas, que nos fazem sentir invencíveis, a televisão e tantos inputs negativos que são dados, pode ser-se santo.

Como o Carlo fez, espero que este caminho de santidade possa ser percorrida por muitos jovens, mesmo sem serem beatificados ou canonizados. O meu desejo é que o Carlo possa ser um encorajamento para muitos jovens a não perderem a esperança, e sobretudo a não perder a relação especial com Deus, colocando Deus em primeiro lugar, como ele fez.

O que nos pode dizer do milagre que levará o seu filho aos altares e sobre a data da beatificação?

O milagre diz respeito ao pâncreas deformado de uma criança que esteve em perigo de vida. Após a oração a Carlo, o pâncreas voltou à normalidade sem intervenção cirúrgica, que teria sido muito arriscada para a sobrevivência do pequeno.

A data da beatificação deverá ser na primavera. O papa irá a Assis no final de março para “A economia de Francisco”, pensamos que possa ser pouco depois. Não acreditamos que passe muito tempo, agora aguardamos a decisão da Secretaria de Estado da Santa Sé.

Túmulo de Carlo Acutis; Foto Vatican News

 

 

 

[Notícia atualizada 14 de junho
Entrevista Agência SIR e tradução Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura;
Fotos Agência Ecclesia, Vatican News, Associação Carlo Acutis]

 

 

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