O Papa Francisco vai participar nas cerimónias ecuménicas que assinalam os 500 anos da «reforma» de Martinho Lutero e que vão reunir católicos e luteranos “na recordação e na oração”, esta segunda e terça-feira, dias 31 de outubro e 1 de novembro, na Suécia.
“Peço que rezem por minha viagem à Suécia, para que possa contribuir para a unidade de todos os cristãos”, escreveu hoje Francisco na sua conta na rede social de microblogging Twitter, em @Pontifex_pt.
O Papa disse que “não se pode ser católicos e sectários. É preciso tender para estarmos juntos com os outros”, esta sexta-feira, numa entrevista divulgada pelas revistas ‘La Civiltà Cattolica’ (Itália) e ‘Singum’ (Suécia) da Companhia de Jesus (Jesuítas).
‘Do conflito à comunhão: unidos na esperança’, é o lema da viagem à Suécia que a Santa Sé apresentou como um evento “inédito” por juntar católicos e luteranos nos 500 anos da reforma de Lutero (que se assinalam em 2017). O porta-voz do Vaticano destacou que o propósito da viagem é assinalar o diálogo ecuménico entre católicos e luteranos, especialmente nos últimos 50 anos.
“É um sinal ecuménico, de viajar juntos”, comentou Greg Burke sobre o facto da deslocação entre Lund e Malmö ser feita num autocarro, onde vai estar o Papa e o presidente da Federação Luterana Mundial, Munib A. Younan.
Para além da Federação Luterana Mundial, com cujos representantes vai ter encontros, o Papa foi convidado pela Igreja Católica na Suécia e pelo governo local.
Na sua 17.ª viagem internacional, Francisco chega a Malmo pelas 11h00 de amanhã (menos uma em Lisboa) e é recebido pelo primeiro-ministro sueco antes da visita à família real, no palácio de Lund.
O dia termina com uma oração na Catedral Luterana de Lund e um encontro ecuménico na Arena Malmo, com 30 delegações luteranas. Vão estar presentes também o presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos (Santa Sé), o cardeal Kurt Kock, Munib A. Younan e o secretário-geral da Federação Luterana Mundial, Martin Junge.
No segundo e último dia de visita à Suécia, o Papa presidida à Eucaristia da solenidade de Todos os Santos no Swedbank Stadion, em Malmo, às 12h30 locais (10h30 em Lisboa), e depois regressa a Roma.
“Acho que podemos falar de um momento histórico, um marco no caminho da reconciliação e da unidade de pesquisa conjunta entre as Igrejas e comunidades eclesiais. E esse momento tão importante é o fruto do diálogo que se desenvolveu ao longo dos últimos cinquenta anos, a partir do Concílio Vaticano II”, destacou o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, em entrevista ao Centro Televisivo do Vaticano.
No programa está prevista a celebração e o testemunho destinado aos jovens, na cidade de Malmo, “um momento de festa e alegria”.
“Os jovens são chamados na primeira pessoa a este desafio porque são o futuro e a esperança, como já dissemos muitas vezes, a Igreja. Vão apelar de uma forma especial este momento de celebração, que também deve resultar em um compromisso de um testemunho comum”, explicou o responsável pela diplomacia da Santa Sé.
“[Suécia] Tem 200.000 católicos, 110 nacionalidades, 170 padres e 162 religiosos/as de 41 ordens e 36 nacionalidades. Cada domingo, a santa missa é celebrada em 26 línguas e 9 ritos diferentes em todo o país», escreveu o vigário-geral da diocese o padre Pascal-René Lung, no jornal católico francês ‘La Croix’, divulga o padre João Aguiar* no seu perfil na rede social Facebook. *[antigo diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais (SNCS) da Igreja Católica e antigo presidente do Conselho de Gerência da Renascença.]
A Igreja Católica no país nórdico é “jovem e dinâmica: 35% dos crentes tem menos de 25 anos, 55% entre 26 e 64 anos, e apenas 10% são maiores de 65 anos”. A sua origem, por ordem de importância: Polónia, América Latina, Médio Oriente, Croácia, Filipinas, Vietnam, Coreia, Índia, Etiópia e África.
Segundo o padre Pascal-René Lung, na Suécia os católicos são muito praticantes, um “crescimento de 3,5% ano, num país fortemente secularizado”: “Se em 1976, 94% dos suecos eram membros da Igreja luterana sueca, hoje não são mais de 62%. (…) 85% dos suecos dizem não ter religião, pelo menos, dizem-se não-crentes”.
A Igreja Católica no país da Península Escandinava sobrevive com a ajuda dos crentes e o apoio financeiro da Igreja Católica na Alemanha. Tem três escolas primárias e secundárias, três escolas para adultos, em Malmo é frequentada por uma centena de mulheres muçulmanas, uma Faculdade de Teologia e Filosofia e a revista Signum.
Na Suécia existe apenas a Diocese de Estocolmo que é presidida por D. Anders Arboreklius, ordenado em 1998, o primeiro bispo católico sueco depois da Reforma numa diocese que é multicultural.
O principal documento dos 50 anos de diálogo teológico católico-luterano é a declaração conjunta sobre a Doutrina da Justificação (31 de outubro de 1999), informa a Agência ECCLESIA.
De recordar que a 23 de setembro de 2011, o agora Papa emérito Bento XVI visitou o antigo convento dos Agostinhos em Erfurt, Alemanha, onde viveu Martinho Lutero (1483-1546), antes de promover a separação de Roma.
A viagem do Papa Francisco à Suécia acontece 27 anos depois da visita do Papa São João Paulo II.