Eu, tu, ele, nós, vós, eles!
Assim aprendemos a conjugar os verbos em todos os tempos e em todas as pessoas.

No entanto sem nos darmos conta esquecemo-nos de conjugar todas as pessoas nas nossas frases e… apenas vivemos em primeira pessoa do singular:

Eu quero, eu não gosto, a mim apetece-me, eu não consigo, eu vou, eu não fui, eu não sou capaz, a mim não me deram, eu não sou importante, isto é meu! Eu e eu e mais eu. E reduzimos a nossa gramática a eu, ao que é meu e a mim próprio.

Temos a ideia – errada, claro está – de que quanto mais pensamos em nós, quanto mais fazemos o que queremos e nos passa pela cabeça, quanto mais conjugamos os verbos na primeira pessoa mais felizes seremos! E isso é uma grande mentira! Mentira bem contada mas mentira em que se calhar tu acreditas!

Tu e eu seremos mais felizes, se aprendermos a conjugar todos as pessoas de cada verbo! Começa pelo verbo ser: Eu sou! Tu és! Ele é! Nós somos! Vós sois! Eles são! É um verbo irregular para conjugar na vida! E a Quaresma é o tempo para isso. Como?

Comecemos pela segunda pessoa do singular: Tu…

Quem são os “Tus” da tua vida? Quais são as pessoas com quem vives? Com quem te cruzas? Com quem estudas? Com quem te divertes? Com quem conjugas a vida?

Quando se nos pede na Quaresma dar ESMOLA, não se trata simplesmente de dar umas moedinhas a um pobre na rua. Trata-se mais bem de poder descobrir o que as pessoas que estão ao pé de nós vivem, sentem e precisam. Viver em ritmo de ESMOLA é aperceber-me que o outro é tão importante como eu! É conjugar a segunda pessoa de cada verbo e transformar isso em pergunta, em relação: Tu queres? Tu gostas? A ti apetece-te? Tu de que precisas? Tu que sentes? E tomar consciência de que: Tu existes! Tu estás aqui ao pé de mim!

Simples? Difícil? Viver a ESMOLA é conjugar assim os verbos e dar a resposta que o outro precisa! E assim aprender a alargar a nossa gramática para Eu e Tu!

No entanto isto só é possível se deixares que Deus faça parte do teu mundo! A Quaresma é tempo de ORAÇÃO. Mas rezar não é Eu peço, Eu preciso, Eu penso! É aprenderes a descobrir que não estás só. É aprenderes a conjugar sempre a primeira pessoa do plural: Nós, como Jesus. “Eu e o Pai”, é uma das frases que Jesus mais utilizou. Ele disse muitas vezes: Eu não estou sozinho, o Pai está sempre comigo.

Tempo de ORAÇÃO para nos apercebermos que há alguém que sempre nos olha com carinho, que nos abraça com ternura e que nos quer dar a força que precisamos para viver marcando connosco o rumo a seguir. Para isso precisamos de tempos sossegados e intensos com Deus. Sozinhos não conseguimos preencher o vazio que experimentamos, nem vencer o buraco negro da solidão que nos asfixia por dentro, nem ultrapassar a força centrípeta do nosso egoísmo traiçoeiro. Só Deus nos consegue completar e fazer conjugar os verbos em todas as pessoas.

Faltam ainda algumas pessoas mais por conjugar: ele, vós  e eles!

Para isso precisamos de JEJUM. É uma palavra estranha e fora de moda. Normalmente entendemos que é deixar de comer nalguns dias. Pois é, num mundo onde muitos são obrigados a não comer de normal, não nos faz mal nenhum deixar de comer para solidarizar-me com tantos e perceber o que vivem dia sim dia sim. E ao mesmo tempo, levar o JEJUM mais longe e mais fundo: deixar de pensar tanto em mim para viver mais com e para os outros! Esse é o JEJUM verdadeiro! É aprender a inverter as pessoas dos verbos e começar por Tu, ele, nós, vós, eles e só depois conjugar o eu! Este JEJUM é brutal!

O Papa Francisco esta QUARESMA convida-nos a fazer JEJUM da indiferença: “Quando  estamos bem e comodamente instalados, esquecemo-nos certamente dos outros (isto, Deus Pai nunca o faz!), não nos interessam os seus problemas, nem as tribulações e injustiças que sofrem; e, assim, o nosso coração cai na indiferença: encontrando-me relativamente bem e confortável, esqueço-me dos que não estão bem… Por isso, o povo de Deus tem necessidade de renovação, para não cair na indiferença.”

Vive a ESMOLA, a ORAÇÃO, o JEJUM e aprende a viver em pleno, agora na Quaresma e depois durante toda a tua vida, aprende a conjugar todas as pessoas dos teus verbos: Tu, ele, nós, vós, eles e Eu!

Irmã Paula Jordão, da Fraternidade Verbum Dei

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