Maria Felício, Diocese Leiria-Fátima, e
Vanessa Alves, Diocese Portalegre-Castelo Branco

Um ano passou e Cracóvia é novamente uma cidade habitada por turistas, num reboliço próprio de uma grande cidade europeia. Este andamento confere-lhe vida, mas faltam-lhe a cor e a Alegria que, entre 16 e 31 de julho de 2016, tivemos a oportunidade de testemunhar, por ocasião das XXXI Jornadas Mundiais da Juventude.

Enquanto voluntárias, assistimos à transformação das ruas que se tornaram, progressivamente, transbordantes de vozes, rostos, bandeiras, numa gradação que atingiu o seu máximo nas celebrações no Campus Misericordiae, agraciadas com a presença do Santo Padre.

Agora, de regresso, os sinais exteriores do grande evento que congregou a “juventude do Papa” são ténues – o elétrico, os placards com informações em várias línguas nas igrejas, ainda um ou outro cartaz alusivo – mas, no coração dos jovens polacos que viveram de perto esta intensa experiência de fé, permanece um marco indelével: estão mais firmes e comprometidos nesta Igreja que é jovem, dinâmica e atual, que começa na sua pequena paróquia e se estende por todo o mundo. É o que sente quem os ouve.

Para estes rapazes e raparigas, as JMJ não foram apenas uma festa de muitos povos, culturalmente enriquecedora, uma semana cool em que puderam conhecer pessoas das mais diversas línguas e tradições. Tratou-se, antes, de um caminho trilhado de mãos dadas com Deus, num aprofundamento das razões do seu acreditar e do conceito evangélico de Misericórdia, que os fez crescer naquele Amor que se faz próximo e que, sem reservas, abre as portas da sua casa, da sua família e do seu pequeno-grande mundo, numa genuína partilha de vida, do mais ínfimo ao mais significativo pormenor.

Nestes dias em que estivemos em Cracóvia, pudemos sentir, na alma e na pele, um afeto que as palavras não conseguem expressar. Aqueles que, em medidas humanas, “apenas” tinham vivido pouco mais de 3 dias ao nosso lado, não se pouparam na capacidade de doação – e a emoção de os rever, re-tocar, re-abraçar, e constatar o quão importantes se tornaram nas nossas vidas (e como, provavelmente, assim o serão, para sempre), são graças indescritíveis. Juntos, sentimos sempre a Alegria íntima que anima os irmãos, quando é Jesus que se faz presente no meio deles.

Por outro lado, a admiração alegre que esta visita suscitou naqueles que não conhecêramos no ano anterior e a quem, na paróquia, no grupo de jovens ou nas famílias, fomos sendo apresentadas, foi surpreendente. A felicidade que vimos nos seus rostos ao compreenderem, então, que as Jornadas tocaram corações, lançaram sementes e geravam frutos (também) além-fronteiras, assim como o reconhecimento agradecido pelo trabalho que nos dispuséramos a abraçar, a seu lado, foi algo verdadeiramente inesperado.

Assim, se, desta vez, o objetivo era estar – e não tanto ir, explorar, visitar e/ou provar -, o regresso à cidade revelou-se um reviver interior das muitas memórias, apuradas e amadurecidas como só o tempo e a distância permitem, numa vivência espiritual renovada, que estimula a procurar um “tu-a-tu” cada vez mais próximo com o Senhor.

Nestes que foram dias de relembrar, dar graças, sonhar e confiar, entregámos a Jesus o que fomos, aquilo em que nos tornámos e quem viremos a ser, na certeza-esperança de que é sempre Ele o guia, o dom e o sentido do tanto Bem recebido.

Iniciada a jornada que conduz à casa lusitana, trouxemos uma bagagem de gratidão e uma outra de saudade, aligeirada a cada recordação e/ou mensagem trocada com aqueles que deixamos longe.

Felizmente, porém, a nossa visita pôde já ser retribuída – e chegou a nossa vez de saborear a doçura de ser visitado: o Bartłomiej (Bartek), amigo responsável pelas catequeses dos Bispos na paróquia onde estivemos, veio a Portugal. Nos 7 dias que passou connosco, demos-lhe a descobrir a beleza de Lisboa, os lugares de Sintra, os mosteiros de Alcobaça e da Batalha, o centro histórico de Leiria, o coração da cidade do Porto e, claro, a envolvência serena do Santuário de Fátima.

Concedeu-nos, assim, a oportunidade de lhe mostrarmos as raízes que carregamos connosco de cada vez que vamos ao seu encontro, inscritas nos cenários, costumes, sons, sabores e cheiros da cultura portuguesa – com o que contam de nós e com o que podem querer dizer, de novo, como ensinamento, para eles.

Numa cumplicidade de irmãos, foram muitos os “pedacinhos de Céu” que partilhamos e incalculáveis as lições sobre a estima, sentido de serviço e persistência na busca da bondade dos pequenos gestos – que reaprendemos poderem pautar, realmente, as nossas relações. Destes, um nos enche de particular júbilo – e, por isso, da memória do coração, o transcrevemos, como mensagem final e resumo do essencial: por ocasião desta vinda, Sua Eminência o Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa concedeu-nos a honra de uma Audiência no Patriarcado, onde fomos recebidos com a amabilidade humilde de um pastor atento, que cuida das suas ovelhas com uma proximidade ímpar, que a todos tocou e, ao Bartek, de forma muito especial.

Dificilmente esqueceremos o brilho excepcional que o seu olhar ganhou ao escutar estas palavras, que procuramos transcrever fielmente, em resposta à pergunta ‘Como é ser Patriarca de Lisboa, é difícil?’: “Ser Patriarca de Lisboa não é difícil; difícil é ser Cristão. Para ser Patriarca, tenho a minha agenda e quem me ajude – e o trabalho vai-se fazendo, dia a dia, com o auxílio do Espírito Santo. Difícil é ser cristão – na minha vida, todos os dias, nas minhas relações, aí é que é difícil. E, para isso, a oração, que abre o coração à Providência, é fundamental.”

Estes dias que partilhámos em conjunto, tanto na Polónia como em Portugal, foram dias inesquecíveis que traremos sempre em lugar especial, na memória e no coração.

Maria Felício, Diocese Leiria-Fátima, e
Vanessa Alves, Diocese Portalegre-Castelo Branco
(Voluntárias na Jornada Mundial da Juventude Cracóvia 2016)

 

 

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