Pe. Fernando Calado Rodrigues
Diocese Bragança-Miranda
A solenidade católica do Dia de Todos Santos celebra-se desde os primeiros séculos do cristianismo. Num só dia a Igreja recorda todos os homens e mulheres que vivem para sempre junto de Deus.
Uns têm sido declarados santos, ou seja, canonizados, ao longo destes vinte séculos de história, e são festejados ao longo do ano. Outros são-no de facto, apesar de ainda não terem sido reconhecidos, e são lembrados no dia 1 de Novembro de cada ano.
Todavia, ao longo dos tempos, esta festa foi perdendo o seu sentido mais profundo e acabou por ficar cada vez mais entalada entre o Halloween americanizado, do dia 31 de Outubro, e os Fiéis Defuntos do dia 2 de Novembro.
O primeiro tem-se vindo a impor nos últimos anos e tem relegado para segundo plano as tradições nacionais à volta do dia de Todos os Santos, como era o «Pão de Deus», que apesar de tudo ainda se mantém em algumas localidades.
Contudo, não são só as tradições pagãs que têm corrompido a celebração dos Santos com a celebração da morte. Como o dia 1 de Novembro foi feriado, até ao ano de 2012, foi-se enraizando entre nós o costume de se visitar os cemitérios nesse dia, em vez do dia próprio, que seria o dia 2, o dia dos Fiéis Defuntos. Sem nos apercebermos, até nós os sacerdotes colaborámos com essa tendência, ao promovermos a visita aos cemitérios no dia de feriado, tendo em conta a maior disponibilidade das pessoas.
Antecipava-se assim para o dia anterior o que deveria acontecer no seguinte. Com o passar dos anos, generalizou-se a ideia de que este era o dia próprio para ir aos cemitérios. Transformaram-se, assim, os Santos em Finados.
No ano de 2013, já sem o feriado no dia 1, aconteceu os Fiéis serem a um sábado, permitindo a muitos visitar o cemitério, no dia próprio. Neste sentido, foi uma oportunidade para a Igreja libertar os Santos da recordação dos defuntos e fazer, no dia que lhe pertence, as orações de sufrágio, nos cemitérios. No ano passado, ainda se manteve esse ritual no dia certo, pois dia dois de Novembro coincidiu com um domingo. Este ano poderá de novo gerar-se a confusão em torno do dia correto para celebrar os defuntos, pois muitos o farão, novamente no dia 1, por ser domingo.
Compete a cada um de nós, mesmo indo ao cemitério no dia de Todos os Santos, não esquecer que estamos a celebrar a santidade de tantos homens e mulheres que acreditamos que vivem junto de Deus nosso Pai. E no dia seguinte, é que se recordam todos os que se purificam para entrar na comunhão plena e definitiva com Deus.
Pe. Fernando Calado Rodrigues
Diocese Bragança-Miranda