O meu nome é Catarina, tenho 30 anos de vida, 12 como Jovem Hospitaleira, 3 de missão adgentes e 5 meses como estagiária da FEC.

Sempre que me pedem que escreva um artigo relativo á missão, eu fico sempre preocupada em me cingir ao essencial, por esta ser uma área tão vasta e da qual tanto se poderia dizer…Antes de mais falar de missão sem falar de Deus não me é de todo possível. Depois porque habitualmente se fala muito do que se “faz” e muito pouco do que se “é” e do que implica “estar”! Ser jovem e fazer/ viver missão é possível mesmo nestes dias em que tanto falamos de “geração rasca e “á rasca” devido aos elevados números de desemprego. Para se fazer missão não é obrigatório ser mestre nisto ou naquilo. Apenas existe algo que, a meu ver, é essencial: é obrigatório que nos arda o coração de amor de Deus, por e para Ele! Tem de partir d’Ele o convite á partida e à decisão! Se assim não for, é voluntariado sim, mas não é voluntariado missionário!

Já estive como “missionária” em três continentes diferentes: África, Ásia e América. E coloco missionária entre aspas pois acredito piamente que a missão tem de fazer parte do nosso dia-a-dia, da nossa rotina, de todas as nossas ações e não apenas quando se sai do nosso país. Não nascemos missionários, nem tão pouco somos missionários por irmos para fora do nosso país. Vivemos missão, experimentamos missão, transmitimos missão. É o nosso dever enquanto cristãos e cidadãos de uma sociedade global! Em todas as experiências que fiz, foi Deus que me chamou a partir. Quando em 2001, com apenas 17 anos, fiz o meu primeiro campo de férias hospitaleiro, nunca poderia imaginar que a minha vida iria mudar COMPLETAMENTE! Tudo em mim se transformou. O amor de Deus me moldou aos desejos d’Ele para mim. Deixei de ter medo de aceitar os desafios. Deixei de ter medo de dizer que sim aos projetos que Ele me ia mostrando. Cada dia que passava eu me sentia mais abandonada em Suas mãos.

Artigo 20DNPJ 20- 20Ser Jovem2

Em 2005 as Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria fizeram-me o convite para integrar um “Campo de férias Missionário” em Moçambique…Era uma congregação que eu não conhecia e das 4 pessoas que me acompanhariam nesta aventura, apenas conhecia uma. Ainda assim, eu sabia uma coisa: era Deus a chamar-me a ir e a levá-Lo além-fronteiras. Disse sim no mesmo minuto e ainda bem que o fiz! Foi o mês “trampolim” para aquilo que hoje sou e vivo!

Nessa altura eu já fazia parte da Juventude Hospitaleira e sentia a necessidade de me comprometer cada dia mais com os valores hospitaleiros… Mas não podia ser de imediato….No regresso de Moçambique eu troquei de curso, de vida, de amigos, de tudo….Deixei para trás 5 anos de “estudo” e vida boémia em Évora e fui viver para mais perto da família e ingressei no curso de Educação Social. Em três anos concluí a minha licenciatura e preparei-me para partir em missão.

Em 2009 parti para Timor Leste, mais concretamente para Laclubar. Fui chamada a trabalhar em projetos de educação, educação para a saúde e evangelização. Tive de aprender uma nova língua e usar toda a minha criatividade para o dia-a-dia de trabalho…. Não tínhamos eletricidade, não tínhamos rede telefónica e não tínhamos água. E mesmo assim, eu estava feliz por estar ali a servir ao meu Senhor, que tanto me deu ao longo da vida! Era difícil dar aulas quando os manuais que me deram foram dados noutra língua que não a oficial de Timor (a qual eu aprendi….) e sem nunca ter dado aulas na vida! Lembro que me fortaleci numa frase de um calendário “Faz o que podes, com o que tens, onde estiveres!”. Ainda hoje faço desse o meu lema de vida quando acho que não sou capaz!

Passados seis meses de estar em Timor Leste perdi alguém muito importante para mim. De Portugal chegava a notícia da morte da minha irmã (não irmã de sangue, mas de criação) e o meu mundo desabava. A minha fé era forte mas o meu sofrimento foi inigualável. Ponderei o regresso. Verbalizei-o á minha família, que ainda que destroçados me encorajaram a ficar. No seu leito final, a minha irmã proferiu uma frase que jamais esquecerei: “Deus chamou-te a ires e estares aí e por mais que eu quisesse abraçar-te uma última vez, é aí que deves permanecer. Em cada criança e doente que abraçares a partir de agora, estarei eu nesse abraço.”. Foi a mais dura lição que alguém já me ensinou, com um oceano a separar dois corações que se amam profundamente. Passados alguns dias desta separação, sentei-me no oratório e abandonei-me nas mãos d’Ele. E senti-me chamada a ficar por mais um ano. E, se a decisão de não regressar a Portugal para o funeral da minha irmã foi totalmente apoiada pela família, a decisão de renovar por mais um ano a missão foi totalmente desaprovada. Todos achavam que eu estava a fugir á dor e não entendiam que a minha dor em nada era comparável com o que a minha presença e o meu serviço operavam na vida de cada um com que eu me cruzava!

No segundo ano mantive as funções na educação e comecei a ter tarefas também no Centro de Saúde Mental que os IHSJD entretanto inauguraram. Foi e continua a ser o único a nível nacional em Timor Leste. Foi um ensinar coisas simples e aprender coisas ainda mais simples. Aqui sim, o meu envolvimento e respeito pela cultura em que estava inserida foi um desafio. Nós achamos sempre que vamos ensinar e que a nossa forma é que está certa, mas afinal existem outras tão ou mais certas que a nossa, apenas e só executadas de outra forma! Senti que o meu trabalho estava concluído por ali. Fui para realizar determinadas tarefas e senti que estavam cumpridas e que havia preparado bem os timorenses para levarem em frente o barco que eu havia levado ao porto…

Voltei para Portugal, dois anos depois de ter deixado Portugal. Voltei outra pessoa. Completamente diferente. Tentei adaptar-me ao nosso país de novo, á nossa cultura, aos nossos costumes. Tentei de todas as formas. Mas a voz de Deus continuava a chamar-me pelo meu nome. Insistia. Eu queria calar aquela voz. Estava de volta e não queria mais lágrimas em despedidas. Sentia que estava a magoar a minha família.

Mas…e há sempre um mas… eis que um dia numa atividade de jovens que estava a animar, na Casa de Saúde da Idanha, Ele falou mais alto e lá fui eu de novo! Disse sim, ainda antes de “consultar a família”. Parti para o Brasil por um ano. Uma realidade bem diferente das missões anteriores mas onde Deus “saía” em todos os lugares. Podia senti-Lo nas dificuldades. Podia senti-Lo nas faxinas a casas de famílias disfuncionais, podia e sentia-O na visita aos doentes, nas veladas aos doentes nos hospitais. Ele vivia bem presente nos jovens com que trabalhei. A Eucaristia diária me fortalecia. O grupo de oração me alicerçava. A nossa porta estava aberta 24horas para atender a todos sem distinção, em todas as suas necessidades. Apesar de estar no Brasil, não participei nas JMJ fisicamente….Decidi ficar com todos os jovens que não iriam ter a oportunidade de participar. E foi a melhor decisão que tomei! Vivemos tudo com a mesma intensidade que se viveu no Rio, frente a um ecrã de televisão ou computador e a fé, a fé que se partilhou foi algo de maravilhoso.

O ano terminou e desta vez eu regressei á minha missão de casa, á minha família, aos meus amigos, ao meu espaço. Não digo que regressei de vez. Apenas que regressei. E neste regresso Ele me abençoou com um estágio profissional na FEC….e imaginem só como Ele é bom: estou responsável pela área do Voluntariado Missionário, trabalho com uma equipa fantástica e entrego-me da mesma forma que estando adgentes! Como é bom ser agora canal para que outros possam ir, ver e sentir.

Quando somos jovens, colocamos um sem fim de entraves aos desafios que Ele nos coloca. E eu sei (senti-o na pele!!) que deixar tudo e todos para O seguir é muito exigente e nada fácil. Mas se Deus nos dá o dom da vida e nos chama a servi-Lo devemos usar a nossa garra, a nossa juventude, a nossa alegria e a nossa VIDA para lhe responder um sim de coração! Deixemos o nosso coração arder de AMOR e sejamos uma geração “desenrasca”, disponível e entregue a todo e qualquer desafio! Como dizia S. João Paulo II “Jovens, não tenhais medo de ser santos!”

Catarina António

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