por Eugénia Magalhães
– E podemos considerar a alma não uma coisa metida a um canto e limitada, mas sim um mundo interior, onde cabem tantas e tão lindas moradas como tendes visto; e razão é que assim seja, pois dentro desta alma há morada para Deus (7M 1, 5).
– (…) porque é coisa tão importante este conhecermo-nos… jamais acabamos de nos conhecer se não procurarmos conhecer a Deus (1M 2, 9).
– Volto a dizer que, para isto é necessário não assentar vossos alicerces só em rezar e contemplar; porque, se não procurais virtudes e exercício delas, sempre ficareis anãs (7M 4, 9).
Os três pequenos textos anteriores ilustram bem, em síntese, a vida e o percurso de fé desta mulher, Teresa de Jesus. Ou melhor, três dos seus principais pilares: a procura incessante das coisas belas, como o amor; o valor de conhecer-se a si mesmo, enquanto se pergunta por Deus; que pouco vale viver em oração e contemplação, se nada dali se extrai para a vida! Aqui ficam, alguns apontamentos da sua vida a ilustrar que esta mulher nascida exatamente há cinco séculos, é uma mulher de hoje.
Teresa Sanchez de Cepeda y Ahumada, nasce em Ávila em 28 de Março de 1515. Por isso, se lhe chama Teresa de Ávila. Teresa perde a sua mãe, ainda adolescente, e, jovem ainda, perde o seu pai. A sua adolescência foi agitada, rodeada de amizades consideradas perigosas para a época…
Em 1535, Teresa entra no Mosteiro da Encarnação, em Ávila. Se a infância e a adolescência tinham sido anos de forte assalto pela doença, os próximos não o serão menos, passando também por um forte vazio espiritual. É apenas em 1554 que Teresa recomeça uma vida espiritual de maior consistência e regularidade, sendo a partir desta data que são narradas as suas fortes experiências místicas, o mesmo é dizer, de procura de Deus, de abertura a Ele e de união com Ele. É em 1560 que toma a decisão de fundar um Carmelo reformado, interpelada pela necessidade de viver duma forma muito mais simples e muito mais próxima do Evangelho, do que então, normalmente, se vivia nos conventos.
Fá-lo em 1562, iniciando, sempre em grande fidelidade e comunhão com a Igreja, uma intensa atividade de fundação de numerosos Carmelos, que concorressem para uma vida de intenso recolhimento. Ela, entretanto, conjugava a atividade de fundação dos mosteiros com a sua constante visita às irmãs que neles viviam, com a atividade da escrita e a de um recolhimento profundo, até morrer em Alba de Tormes, em 1582.
O que Teresa tem de especial é a sua total abertura ao mistério que habita o centro de si mesma. Esta descoberta de Deus no centro da sua alma vai agigantar a sua vida. É por isso que a sua vida é gigantesca: porque tem o tamanho do amor que a une ao Seu Amado, Deus. É por isso que a sua alma se tem de agigantar: para que nela caiba Aquele, de amor gigante, que nela quer ter lugar. Teresa não se sobrepõe a Deus; procura-O e ama-O com uma linguagem de ternura, própria de dois amados. Não é assim connosco, apaixonados? Com Teresa foi exatamente assim, mas com Deus! E não vive solitária essa experiência de amar e morar com Ele. Abre comunidades, para que nelas morem quem queira sondar como há de ser morar com Ele. Escreve, para que outros, lendo o seu percurso, possam fazer o seu próprio percurso de vida de amor com Deus.
Hoje, ficamos por aqui. Daqui a uns tempos, ainda durante a celebração dos 500 anos do seu nascimento, voltaremos para falar sobre os escritos de Teresa de Jesus. Entretanto, se os quiseres ir saboreando, passeia por este sítio:
http://teresadejesus.carmelitas.pt/noticias/noticias_seccao.php?cod_seccao=26
Eugénia Magalhães*
06|07|2015
* Doutoranda em História e Cultura das Religiões