Pe. Tony Neves
Missionário Espiritano
São palavras de Mãe. Quem as partilhou foi D. Juan José Aguirre, comboniano espanhol há 40 anos na República Centro Africana e Bispo de Bangassou há quase 20.
A RCA tem vivido tempos dramáticos com o ataque constante de grupos fundamentalistas e islâmicos e outros anti-islâmicos, mas igualmente com práticas que traduzem barbaridade. O Bispo tem aguentado heroicamente com os missionários esta insegurança constante pela simples razão de ficar com o povo. Não foi por acaso que o Papa Francisco abriu a ‘Porta santa da Misericórdia’ na catedral de Bangui uma semana antes de abrir em Roma! E a Mãe deste Bispo missionário, senhora muito idosa, quando ele a vem visitar a Espanha, despede-se sempre com uma palavra de fé e incentivo. Pois, se Deus envia, Deus protege.
As Jornadas Missionárias Nacionais, realizadas em Fátima a 17 e 18 de Setembro, apresentaram rostos de misericórdia. Ou melhor, trocaram as habituais conferências por partilhas em primeira pessoa. D. Juan Jose cativou a assembleia. Mas não foi o único. Também calaram fundo as palavras da Irmã Myri, uma portuguesa a viver num Convento na Síria. Foram atacadas, a guerra passou e passa por ali, mas as irmãs ficam sempre, por qualquer preço. São uma presença de paz, reconciliação e ajuda. Acreditam que a paz virá um dia para ficar!
Marcou-me ainda um momento triplo de testemunho. O P. Adelino Ascenso falou da missão no Japão onde ele esteve. Os cristãos são 1% da população e remam contra ventos e marés num contexto que lhe é adverso, onde são uma minoria absolutíssima. O P. José Vieira falou da sua missão por terras do Sudão do Sul, o país mais jovem do mundo. A guerra civil continua a dizimar este país tão pobre de África, não se vendo fim á vista neste conflito. Ali, a Igreja é fonte de paz, geradora de reconciliação, salvadora de vidas, apontadora de caminhos de futuro. Luis Fernandez é um leigo espanhol que partiu com a sua jovem esposa para a Amazónia. Ali se colocaram ao serviço dos povos indígenas partilhando a sua pobreza e o risco das suas lutas pela defesa das terras e da sua dignidade. Ali nasceriam e cresceriam três filhos. Agora em Espanha, já com um quarto filho, dão continuidade á Missão apoiando a Amazónia e a causa dos povos indígenas.
Afinal, aqui como lá fora, a Missão vai acontecendo e marcando vidas. Os workshops foram sobre desenvolvimento, voluntariado, ecologia integral, inclusão e reconciliação. Dificilmente se encontrariam temas missionários mais decisivos para os tempos que correm. Os convites do Papa Francisco para idas às periferias e margens da história continuam a ser apelos que merecem ser escutados e vividos.
Tony Neves
Missionário Espiritano
(Comentário no programa LusoFonias,
uma parceria entre a FEC e o Grupo Renascença)
Conclusões Jornadas Missionárias Nacionais 2016
‘Missão com histórias de Misericórdia’
“As Jornadas Missionárias Nacionais 2016 decorreram, a 17 e 18 de Setembro, no Centro Paulo VI, em Fátima, com a participação de cerca de 250 pessoas, vindas de todo o país.
O P. António Lopes, diretor nacional das Obras Missionárias Pontifícias (OMP), deu as boas vindas, abrindo os trabalhos. D. Manuel Linda, Presidente da Comissão Episcopal ‘Missão e Nova Evangelização’, abriu as Jornadas com uma palavra de incentivo missionário. No ‘ide por todo o mundo’, não obstante a escassez de Missionários/as, vivemos tempos de aumento de geminações entre dioceses e paróquias de Portugal e dos quatro cantos do mundo. É necessário avivar o ardor missionário e o tema escolhido atrai e faz partir ao encontro do outro como Missão recebida de Jesus. É urgente aprofundar a comunhão e colaboração com a Igreja local.
Os participantes puderam olhar três rostos de misericórdia. No Sudão do Sul, o P. José Vieira, comboniano, viveu a Missão da misericórdia não como um conceito abastrato mas um encontro de corações no contexto de uma guerra civil que continua a massacrar um povo pobre. No Japão, o P. Adelino Ascenso, Missionário da Boa Nova, viveu a sua Missão, traduzida por três simples adjetivos que caracterizam a vida de Jesus: débil, companheiro e maternal. Na Amazónia, o Luis Fernandez, leigo da Consolata, partilhou a sua vida e luta em defesa dos povos indígenas da Amazónia. Partiu com a esposa e lá nasceram três filhos. Viveram as alegrias e angústias de um povo espezinhado, ajudando a formar líderes e construir comunidade. Lembrou que ‘o desafio maior da Missão é ouvir o clamor da terra e dos pobres. É defender a vida!’.
A tarde de sábado foi preenchida por cinco workshops que enriqueceram os participantes com partilhas e reflexões sobre o desenvolvimento, o voluntariado, a ecologia integral, a inclusão e a reconciliação.
A Irmã Myri, natural de Mafra e Monja na Síria, partilhou a experiência da sua comunidade monacal em contexto de guerra civil. O Convento nasceu por causa do empenho pela unidade dos cristãos e do diálogo com todos os crentes. Lembrou que, ‘cada um de nós é uma história de misericórdia onde somos convidados a olhar para Cristo e ver no irmão a presença dEle’. O trabalho dos missionários na Síria é de alto risco porque sem armas na mão, partilhando os sofrimentos de um povo pobre e mártir.
D. Juan José Aguirre, Bispo de Bangassou, na República Centro Africana, partilhou a Missão de uma Igreja perseguida até à morte por grupos armados de fundamentalistas islâmicos e não islâmicos que semeiam o pânico entre as populações e querem erradicar o cristianismo de África. Lembrou o momento forte que foi a visita do Papa Francisco a Bangui, onde abriu a Porta da Misericórdia antes ainda de o fazer em Roma. Como Bispo é um construtor de pontes. Contra a violência, a Diocese opta sempre por construir escolas e projetos de desenvolvimento.
Tempos fortes destas jornadas foram os momentos de celebração, quer no auditório dos encontros quer nas celebrações oficiais do santuário, sobretudo a Eucaristia presidida por D. Manuel Linda, em que foram enviados em Missão seis Missionários.
Em contexto de Jubileu do Centenário das Aparições de Fátima, as Jornadas Missionárias Nacionais 2017 serão realizadas a 16 e 17 de Setembro.”
Fonte: Obras Missionárias Pontifícias