«Não vamos fazê-la em 22, vamos fazê-la em 23 e o Papa Francisco cá estará connosco» – Cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente 

O Vaticano anunciou hoje que a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que vai decorrer em Lisboa foi adiada para agosto de 2023, por causa da crise provocada pela pandemia de Covid-19.

O diretor da sala de imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, justifica a decisão com a “atual situação sanitária e as suas consequências sobre a deslocação e a aglomeração de jovens e famílias”.

A decisão foi tomada pelo Papa com o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida (Santa Sé), abrangendo ainda o adiamento da Jornada Mundial da Família, que vai decorrer em Roma, agora no mês de junho de 2022.

Em comunicado enviado à Agência ECCLESIA, o Comité Organizador Local (COL) da JMJ de Lisboa justifica a mudança com “as atuais circunstâncias de saúde pública, as consequências económicas que daí advêm e, sobretudo, a necessidade de concentrar esforços e recursos no apoio aos mais fragilizados”.

O COL sublinha que acolhe esta decisão “com naturalidade e confiança, partilhando com o Santo Padre o apelo a que, no atual contexto e nos próximos tempos, o foco da atenção de todos esteja no cuidado dos mais vulneráveis, das famílias e de todos os que, pelos mais diversos motivos, sofrem com os efeitos da pandemia causada pela Covid-19”.

“O COL e as equipas de trabalho já constituídas estão entusiasmados com a perspetiva de preparar da melhor forma a JMJ em Portugal, na certeza de que o evento trará à capital portuguesa a esperança e a alegria dos jovens de todo o mundo”, acrescenta a nota oficial dos responsáveis católicos.

 

 

“O bem das pessoas é a primeira razão de tudo aquilo que nós fazemos, também em relação à Jornada Mundial da Juventude”, afirmou D. Manuel Clemente [presidente do Comité Organizador Local da JMJ 2023].

O cardeal-patriarca lembrou que “há uma organização que começa antes” e a preparação a vários níveis “estende-se muito antes da jornada propriamente dita”, o que motivou os contactos entre o Patriarcado de Lisboa e o organismo do Vaticano que coordena eventos católicos mundiais como a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), considerando “absolutamente necessário adiar”.

“A semana passada, o cardeal Farrell [D. Kevin Farrell, responsável pelo Dicastério para Leigos, Família e Vida], que é responsável em Roma por estas organizações, tinha-me telefonado a dizer que, com o Santo Padre e outros responsáveis, tinham chegado à conclusão que era absolutamente necessário adiar”, disse D. Manuel Clemente.

O cardeal-patriarca de Lisboa referiu que “a organização, em termos portugueses, já está completamente no terreno”, pelas dioceses, movimentos, grupos juvenis e nos relacionamentos com outros países, assim como a preparação dos jovens.

“Já há muita coisa que está aí, que continuará e que nos ajudará muito como Pastoral Juvenil nas dioceses portuguesas”, acrescentou

O também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa lembrou ainda que, tendo por prioridade o combate à crise sanitária e social por causa da pandemia covid-19, o Estado e as autarquias onde decorre a JMJ “também terão mais tempo” para as estruturas que vão ser criadas.

“Dessa parte, de governantes e autarcas, que olham as jornadas não só como um acontecimento confessional dos católicos, mas como um grande acontecimento para a juventude mundial que é bom para Portugal e para a sociedade portuguesa, também terão mais tempo para fazer tudo aquilo que em termos de estruturas e infraestruturas possa ser feito, que depois ficarão para benefício das populações”, afirmou D. Manuel Clemente.

Para o cardeal-patriarca de Lisboa, o “grande serviço” das pessoas e instituições deve orientar-se agora para combate à pandemia, porque “o bem de cada pessoa é o maior serviço da Igreja.

“Não vamos fazê-la em 22, vamos fazê-la em 23 e o Papa Francisco cá estará connosco”, afirmou D. Manuel Clemente.

 

Bênção da sede da JMJ Lisboa (Foto DR)

 

A 5 de abril, Domingo de Ramos, Francisco marcou encontro com os jovens para 22 de novembro, dia em que via entregar a uma delegação nacional os símbolos da JMJ.

“O meu pensamento vai para os jovens de todo o mundo que vivem, de maneira inédita, a nível diocesano, a Jornada Mundial da Juventude neste domingo. Estava prevista para hoje a passagem da Cruz, dos jovens do Panamá aos de Lisboa: este gesto tão sugestivo foi adiado para o domingo de Cristo Rei, a 22 de novembro”, disse o Papa.

 

A Cruz e o Ícone de Nossa Senhora, símbolos da JMJ, foram entregues pelo Papa João Paulo II aos jovens em abril de 1984 e marcaram o início de uma peregrinação da juventude de todo o mundo; antes da edição internacional de 2023, irão passar por todas as dioceses portuguesas e vários países lusófonos.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, D. Américo Aguiar disse que a preparação da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em Portugal está em “hibernação” porque o “a urgência e o foco” é o combate à pandemia de Covid-19.

“A urgência e o foco é pandemia. E temos de ter consciência disso, todos. A urgência a que somos chamados como povo, como humanidade, como Igreja, como Nação, é tratarmos da questão da pandemia. Tudo o resto passou para segundo lugar. Mas não precisamos de desligar, vamos entrar em hibernação”, referiu [o bispo auxiliar de Lisboa e coordenador-geral da JMJ Lisboa para a área logística].

A JMJ realiza-se, anualmente, a nível local (diocesano) no Domingo de Ramos (ou em data a definida por cada diocese), alternando com um encontro internacional a cada dois ou três anos, numa grande cidade.

As edições internacionais destas jornadas promovidas pela Igreja Católica são um acontecimento religioso e cultural que reúne centenas de milhares de jovens de todo o mundo, durante cerca de uma semana.

[Notícias Agência Ecclesia – adiamento JMJ, declarações D. Manuel Clemente – 20 de abril 2020]

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