Pe. Tony Neves
Missionários do Espírito Santo

Não sei porquê (ou até sei!), mas esta época dos Santos (e dos fiéis defuntos) faz-me lembrar sempre o meu pai. E agora, a minha mãe.

O meu pai, agricultor simples do norte, era um homem de uma fé à prova de tudo. Trabalhou muito, garantiu educação superior aos quatro filhos e, sobretudo, nunca deixou de pôr a sua Fé em Cristo antes e acima de tudo. Quando a morte se aproximava, sempre muito lúcido, repetia uma frase que guardarei para sempre: ‘de morrer, nem tenho medo nem tenho pressa!’. Que sabedoria! De facto, ele não tinha medo da morte porque a sua fé era mais forte que ela! Não tinha pressa de morrer porque se sentia feliz e bem entre os seus! A mãe, falecida no ano passado, viveu à sombra dos mesmos princípios e valores e também não entrava em pânico com aproximação da hora da chamada de Deus. Tudo muito sereno…

Passos de vida

Kuito, Angola; 2005

Kuito, Angola; 2005

A morte para os cristãos é passo de vida. Dói a partida dos queridos, questionam-nos os acontecimentos de injustiça que matam. Sim, fomos criados para a vida e a morte não tem quadro de explicação humana. Mas faz sentido numa caminha da eternidade, esse ‘mundo’ em que entramos no dia em que somos gerados para a vida.

Costumo brincar acerca do meu aniversário dizendo que é no cemitério que recebo a maior dose de parabéns! Isto é tanto mais verdade quando passo o 2 de Novembro na minha aldeia natal. Todos me conhecem, todos (ou quase) vão ao cemitério neste dia e é lá que as pessoas me encontram e me saúdam. Não estranho nada tal saudação em tal espaço. A vida faz-nos passar por muitos espaços e este (o cemitério) é apenas mais um. Ali estão sepultadas as pessoas que partiram antes de nós e que merecem ser recordadas e sufragadas (como diz o nosso povo).

 

 

Ousar dar sentido

O problema que mais nos dói, enquanto humanos, é o do sentido. O que é que andamos a fazer por aqui, nesta terra, enquanto vivemos? Diz a teologia mais simples que é urgente saber dar respostas sérias ás grandes perguntas que se colocam ás pessoas: ‘donde vim? Para onde vou? O que ando aqui a fazer?’. Como cristãos, as respostas não são difíceis de dar. Difícil e duro é ser coerente com o teor de tais respostas. Assim, acreditamos que vimos de Deus, do seu coração, amados por Ele. Somos frutos do Amor de Deus, uma ternura sem limites nem fronteiras. Depois, também acreditamos que caminhamos em direcção a Ele. Um dia (esse dia a que chamamos ‘morte’) vamos vê-Lo face a face, abraça-lo, confiar na Sua imensa Misericórdia. Tão simples, afinal… Finalmente ( e é o mais difícil),há que responder à pergunta sobre a nossa Missão aqui na terra, neste espaço de peregrinação. Sim, a nossa Missão é a de construir o Reino de Deus que Cristo explica através de valores: justiça, paz, amor e alegria! É difícil construir este projecto de felicidade, mas é tão bem viver com estas características!

Assim, cruzar o dia 1 com o dia 2 de Novembro, ajuda-nos a focar na santidade como razão e expressão da felicidade, da bem-aventurança. O Papa Francisco brindou a Igreja, neste Ano da Misericórdia, com a canonização da Santa Madre Teresa de Calcutá. É com ela que concluo esta minha partilha.

Santa Madre Teresa

madreteresacalcutaHá vidas que se transformam com opções radicais. A da Madre Teresa de Calcutá é uma delas. Todos conhecemos, mais ou menos, o seu percurso de vida. Nasceu na Macedónia, de família albanesa, fez-se Religiosa de uma Congregação bem colocada no mundo da Educação, estava num grande Colégio quando sentiu o apelo interior a deixar tudo e partir para onde o grito dos mais pobres chamasse por ela. E assim chegou às periferias miseráveis de Calcutá, nesta Índia de contrastes enormes.

Dali a ser notada, foi um pequeno passo. Aquela Irmã vestida de azul e branco chamava a atenção de todos: dos pobres que acolhia e apoiava; das autoridades locais que se sentiam interpeladas com a sua Missão; dos jornalistas do mundo inteiro que viam naquela freira o rosto de uma santa.

Como a vocação se espalha por contágio, foram muitas as mulheres que se foram juntando á Madre Teresa e assim, de dia para dia, crescia o número das Irmãs da Caridade, nome que Madre Teresa deu à Congregação que fez nascer em Calcutá.

Foi Nobel da Paz em 1979, ‘em nome dos famintos, dos pobres e dos que se sentem abandonados’.

No altar, Teresa é de Calcutá e do mundo inteiro. É um grito por mais justiça, paz, fraternidade. O Papa Francisco, que tanto fala de uma Igreja em saída para as periferias e margens, disse na cerimónia da canonização desta Santa, que ‘não há alternativa à caridade’. Chamou a Santa Teresa de Calcutá a ‘missionária das periferias humanas’ e pediu ao mundo uma ‘revolução de ternura’.

Sim, é esta revolução que dará sentido à vida e à morte de todos e cada um dos humanos.

Pe. Tony Neves
Missionários do Espírito Santo

Soweto, África do Sul; 2012

Soweto, África do Sul; 2012

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