Andreia Carvalho
Leigos para o Desenvolvimento

Apesar de “serviço” ser uma ideia imediatamente cristã e necessariamente missionária, nem sempre conseguimos ligar bem em igreja as ideias de voluntariado e missão. Soa-nos a falso quase dizer que voluntariado é missão e mais ainda que missão seja voluntariado.

Muito vezes pensamos que voluntariado pode ser qualquer coisa, feita por qualquer pessoa num qualquer lugar. Mas o voluntariado, até juridicamente falando, exige um enquandramento de compromisso com uma organização e/ou projeto concreto – nem todas as ações são voluntariado e nem todo o voluntariado é “ação” na precepção mais comum da palavra.

O voluntariado, cristão ou não, é um movimento de generosidade que dispensa recompensa, ainda que esta possa acontecer. Não é, no entanto, algo que aconteça espontaneamente, como por exemplo ajudar alguém a atravessar a rua. É algo que implica olhar a realidade, as suas necessidades e escolher consciente e decididamente por os meus dons e o meu tempo a render. Os dons que já possuo mas também os que podem ser imperativos desenvolver. O tempo que tenho, mas não o que me sobra. O voluntariado é o desafio de trabalhar com quem já sabe, desenvolver oportunidades para quem precisa, inventar pontes entre realidades diferentes. E tudo isto não se faz espontaneamente, faz-se com preparação e responsabilidade. Respeitando profundamente o contexto no qual estamos inseridos.

A par disto, a missão é definida muitas vezes pelo sentido que damos ao que fazemos. É por sua vez um movimento de saída, de nós próprios para fora. Frequentemente é algo que nos é pedido ou para o qual somos enviados. A missão é-nos dada de diversas formas, mas no modelo cristão, imana obrigatoriamente de Deus em primeiro lugar. Todos os tempos, todos os espaços, todas as pessoas, todas as circunstâncias são oportunidade de missão. Devemos viver permanentemente alertas e disponíveis para a missão. A missão não é unicamente quando saio do meus país, da minha realidade, mas proporciona-se a cada segundo que me é concedido a viver. O próprio ser cristão define-se por estar ininterruptamente em missão.

Assim ser voluntário missionário é empenhar-se num desafio concreto que se impõe e nasce da vontade de Deus e se materializa numa expressão efetiva e não numa ideia romântica ou num interesse abstrato.

A verdadeira diferença entre voluntariado no sentido lato e voluntariado missionário é que este último nos obriga a uma generosidade que nasce da consciência do grande Amor que se nos propõe infinita e absolutamente e perante o qual sentimos a urgência de devolver “tanto bem recebido”. A obrigação ultrapassa os aspectos específicos do voluntariado que possa experienciar, porque se funda, alimenta, confronta e acaba no fundamento da nossa vida, Jesus.

Porque, não obstante, ainda que dependa da nossa decisão escolher darmos-nos, também é Dele que vem a capacidade de gerar Amor, neste ciclo que se nutre incansavelmente se formos instrumento e não obstáculo.

Andreia Carvalho
Leigos para o Desenvolvimento

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