Diz o livro do Eclesiastes: “Para tudo há um momento e um tempo para cada coisa que se deseja debaixo do céu: tempo para nascer e tempo para morrer”(Ecl 3,1-8)
O tempo que o relógio não se cansa de marcar e cada instante que passa, frui, designaram-no os gregos de Kronos. Mas o mesmo tempo que preside à história dos homens foi bafejado com o sopro de Deus em períodos de tempo bem concretos da História.
São tempos oportunos de reconciliação e esperança.
Deus veio, vem e continua a vir, para nos reconciliar consigo, uns com os outros e connosco mesmo.
Por isso este é o tempo, por excelência que nos convida à confiança e ao abandono na esperança.
Como cada coisa tem a sua cor, cada coração tem a esperança. Havemos de somar projetos, palmilhar destinos, desfiar ocupações…
A Esperança é o segredo que nos faz sair de nós, criar e recriar, crer!
Por causa da Esperança o comum não nos esvazia, nem o inesperado nos trava; o difícil é olhado com coragem e o tempo feliz vivido com humildade. A esperança é a palavra que traz dentro a Confiança.
A fonte da confiança está em Deus que é Amor. O seu amor é perdão, é luz interior. O Irmão Roger, da comunidade de Taizé, lembrava-nos que a “confiança e a esperança enraízam-se numa presença misteriosa: a de Cristo. Desde a ressurreição, Cristo vive em cada um de nós pelo Espirito Santo, mais ainda Ele está unido a cada ser humano sem exceção. Multidões de seres humanos ignoram que Cristo está unido a eles e não sabem que o seu olhar está poisado sobre cada pessoa… Contudo, Ele está em cada um de nós como um humilde de coração. E a sua voz tranquila, faz-se ouvir: ” Reconheces o caminho de Esperança aberto para ti? Preparas-te para entrar nele?”
Estamos a celebrar um tempo forte: Quaresma (Quadragésima) quer dizer quarenta dias; A Quaresma é um desses tempos oportunos de salvação, é um kairos. Ao longo deste período revivemos os 40 dias de Cristo no deserto e os 40 anos de peregrinação dos israelitas pelo deserto até chegarem à terra prometida.
Com efeito durante 40 dias Jesus prepara-se no deserto para o seu ministério público, enfrentando as tentações e renovando a sua relação intima com o Pai.
Durante 40 anos, o povo conduzido por Moisés, depois de sair do Egito, a terra da escravidão, sofreu fome e sede; mas, viveu a experiência de intimidade com Deus, que todos devemos reviver ao aproximar-se a Páscoa.
Ao recordarmos o Êxodo e o chamamento de Moisés, a Bíblia transmite-nos um segredo: o nosso Deus é um Deus a favor da humanidade, um Deus que ouve o clamor dos homens, vê a aflição do seu povo e se compadece.
O Deus que escolhe homens para percorrerem o Seu caminho – o da liberdade. Um Deus que nos escolhe para ser como Moisés, como o Seu Filho Jesus, alguém sensível às necessidades dos outros, presença fiel que acompanha os seus irmãos, companheiro solidário que marcha com o seu grupo, apoiando e desenvolvendo tudo o que possa fazer de nós homens e mulheres livres.
Sabemos que somos frágeis, mas estamos contagiados por uma promessa, uma esperança e uma certeza, somos sonhadores com os pés no chão, conscientes que neste caminho dinâmico e envolvente, contamos com uma energia que nos vem de outra parte que não apenas de nós, que vem da força de uma Voz que nos impele e fortalece, que nos escolhe e nos conduz a essa Terra prometida que é nossa, mas que ainda só se avista no horizonte.
A voz que nos chama, nos faz sentir amados e escolhidos para a missão é Jesus, Ele que não indica simplesmente o caminho mas que é o próprio Caminho, a Verdade e a Vida.
“Cristo que é a verdade, pegou-nos pela mão, e no caminho da nossa busca apaixonada de conhecimento sabemos que a sua mão nos segura firmemente. Ser sustentados pela mão de Cristo torna-nos livres e seguros ao mesmo tempo”. (Discurso do Papa Bento XVI à Cúria Romana, 21 de Dezembro de 2012), pouco tempo depois, num anúncio que surpreendeu, mostra em plena liberdade a grandeza do amor a Jesus Cristo e à sua Igreja; a consciência do limite, que mantém a porta aberta de cada um para o bem do outro. Com a sua renúncia, ele parece dizer-nos que não é o poder, mas a humildade que nos torna verdadeiramente humanos. Revela-nos enfim, com extraordinária beleza que só o Amor é eterno, dando jus às palavras de Sta. Teresa do Menino Jesus ” Compreendi que o Amor encerra todas as vocações, que o Amor é tudo, que abarca todos os tempos e lugares… numa palavra, que ele é Eterno”.
Eu não sabia que queria tanto a Bento XVI! Aprendi a querê-lo rezando, ouvindo e meditando as suas palavras. E dou graças pelo amor ao Papa, que Deus pôs no meu coração. E se uma lágrima furtiva se desprender, tenho por certo que não é sentimentalismo, mas gratidão, piedade, fé.
Não me admiro se íamos à Praça de S. Pedro, para ver João Paulo II e para ouvir Bento XVI. Em breve outro será o Papa. Louvemos a Deus o Dom da missão, e ressoe em nós um profundo “grazie Benedetto XVI”.
Bem-haja, Santo Padre!
P. Eduardo Novo